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NO BRASIL DA TRANSIÇÃO, BOLSONARISTAS ENLOUQUECEM

HUMORISMO INVOLUNTÁRIO - Em Irati (PR), bolsonaristas cantam Hino Nacional Brasileiro para um pneu e, em Caruaru (PE), outro bolsonarista viaja num caminhão que furou o bloqueio dos protestos anti-Lula.

O Brasil vai voltar à normalidade? Difícil. A verdade é que, queiramos ou não, Lula está eleito e, mesmo com uma vitória apertada, ela é legítima e garantida pela Constituição. Portanto, é um resultado do voto soberano. Não sou eu que digo, isso é determinação da lei.

Não votei em Lula, discordei da campanha dele, que foi uma coleção de erros. Mas, estando ele eleito, ele será nosso presidente. E Geraldo Alckmin, como vice, será eventualmente presidente em exercício, sendo chefe do Executivo federal assim que Lula se ausentar, o que vai ocorrer muito, pois o petista pretende estabelecer muitos contatos no exterior, buscando parcerias políticas e econômicas, além de melhorar a imagem do Brasil no exterior.

Vamos aceitar isso numa boa, porque, desculpem o clichê, é a democracia. Mas, infelizmente, tem gente que não aceita isso e dois atos bolsonaristas ocorreram nos últimos dias, primeiro o bloqueio das rodovias brasileiras, segundo as manifestações em frente a quartéis do Exército, pedindo a tal "intervenção militar", eufemismo para golpe militar.

É certo que há momentos dramáticos, como na cidade de Vilhena, em Rondônia, quando bolsonaristas invadiram um ônibus para forçar os passageiros a assinar uma petição pedindo uma "intervenção militar". Algumas pessoas resistiram, mas os bolsonaristas ameaçaram impedir o ônibus de seguir viagem, se houver gente se recusando a assinar o manifesto. Em outro ônibus, em Jundiaí, bolsonaristas agrediram passageiros que manifestaram apoio a Lula.

Mas há também momentos cômicos, como um grupo de bolsonaristas que bloqueava uma rodovia em Irati, no interior do Paraná, que se reuniram para cantar o Hino Nacional Brasileiro, olhando em direção a... um pneu. E um bolsonarista que bloqueou outra rodovia, em Caruaru, Pernambuco, desafiou um caminhão que resolveu furar o bloqueio e "viajou" cerca de cem quilômetros, pendurado na dianteira do veículo. 

No mesmo dia, Nelson Piquet, ex-piloto de Fórmula 1 e hoje apoiador de Bolsonaro, despejou raiva reacionária ao defender o assassinato de Lula. Seu apoio e amizade com Jair Bolsonaro é tal que Piquet, que um dia foi rival do compatriota Ayrton Senna, agora é apelidado pejorativamente de "chofer de Bolsonaro". O Ministério Público Federal vai abrir inquérito contra Piquet.

O governo Lula já trabalha sua transição. Tudo indica que não será, mesmo, um governo de esquerda, mas de centro. Moderadíssimo, embora prometendo algumas melhorias. Ontem Lula recebeu o "perdão' do "bispo" Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, que parece ter desembarcado no bolsonarismo, o que não ocorreu com um "médium espírita" baiano, discípulo do "médium da peruca" de Uberaba (que, se vivo fosse, seria também bolsonarista), que se manteve fiel a Bolsonaro.

Até Jair Bolsonaro teve que admitir derrota e aceitar a transição de governo. Ele chegou a cumprimentar Geraldo Alckmin, um dos articuladores dessa transição. Lula também articula com partidos políticos e tende a manter Arthur Lira na presidência do Congresso Nacional, no acordo para obter o apoio do Centrão.

A situação está difícil. O Brasil terá uma recuperação social, institucional, política e econômica das mais trabalhosas e complicadas. Não vai dar para ser feliz de novo, mas se o nosso país se tornar respirável no ambiente político, institucional e social, será alguma coisa.

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