COMPADRE WASHINGTON CANTA O SUCESSO DO É O TCHAN "A DANÇA DO BUMBUM" NA FESTA PÓS-CASAMENTO DA ATRIZ DANI CALABRESA (D).
Infelizmente, o "novo normal" da música brasileira é a música brega-popularesca em suas várias vertentes, mostrando o poder voraz e predatório desse comercialismo cafona que tirou a MPB e o Rock Brasil de redutos sociais muito importantes.
Um exemplo recente disso foi a escolha de nomes como Compadre Washington e Luan Santana para cantar na festa pós-casamento de Dani Calabresa, ocorrida depois que ela se casou com o publicitário Richard Neuman, ontem, aqui em São Paulo. Esse não é um caso isolado nem excepcional, pois até em eventos de confraternização entre executivos da Faria Lima já se tocam músicas desse nível tão medíocre.
Lamentavelmente, a música brega-popularesca teve um lobby muito grande que fez com que ela se tornasse dominante, absoluta. E não foi só pela choradeira intelectual "contra o preconceito", mas também pelo esforço da chamada indústria cultural brasileira em fixar no gosto médio dos brasileiros as canções medíocres dos ídolos popularescos.
Mas até aí, nada demais. Se fosse um pop comercial à brasileira, seria compreensível a hegemonia da música brega-popularesca, a Música de Cabresto Brasileira difundida por rádios que, embora muitíssimo populares, são controladas por poderosas oligarquias midiáticas, nacionais ou regionais, associadas a um poder múltiplo de empresários, latifundiários e políticos.
O grande problema é que a parcela mais veterana da música brega-popularesca, até mais ou menos o meio dos anos 1990, está sendo alvo de uma campanha hipócrita e cheia de pretensão, que é a campanha do falso vintage, do pseudocult, de vender gato por lebre ao relançar ídolos popularescos do passado como se fosse "vanguarda", com uma ajudinha da imprensa cultural isentona, aquela imprensa "vendida" que jura primar pela objetividade e pelo bom senso.
E aí vemos o É O Tchan dentro desse cardápio pseudo-vanguardista, junto a figurinhas fáceis dessa narrativa, como Michael Sullivan, Leandro Lehart, Benito di Paula e Odair José. E é assustador ver que o É O Tchan, uma armação de fazer o Milli Vanilli parecer os Beatles pós-1966, está sendo relançado como falsa vanguarda, como falsa relíquia cult, com seus propagandistas nas redes sociais usurpando a nobre narrativa do filme Alta Fidelidade (High Fidelity) para defesa de tanto lixo musical.
Acabamos de perder Gal Costa que, mesmo com alguns flertes com o comercialismo, sempre foi uma cantora elegante de voz peculiar, ainda que mais acessível do que a genial Sylvia Telles, cujo falecimento prematuro representou, para a MPB, uma grande catástrofe. E a gente vai perdendo os emepebistas enquanto a bregalização cresce feito bola de neve.
Milton Nascimento encerrou suas apresentações nos palcos, mas segue sua vida e carreira fazendo música, mas ele já tem 80 anos. Caetano Veloso, também com 80 anos, ainda interage com os jovens, mas preocupou uma dança recente, na apresentação da irmã Maria Bethânia, pois lembra uma resposta pós-tropicalista à sombria dança de David Bowie no clipe de sua fúnebre canção "Lazarus".
E como não há coisa ruim que não possa piorar, o "funk" agora ensaia um falso vintage ainda mais cínico: o saudosismo em torno do "funk anos 2000", época em que começou a lacrimejante campanha dos intelectuais "bacanas" pelo "combate ao preconceito" - tema corajosa e pacientemente analisado pelo meu livro Esses Intelectuais Pertinentes... - , e agora será celebrada para engrossar o elenco laxativo da breguice pseudo-vanguardista.
E isso é terrível e deplorável, se compararmos a relação entre brega-popularescos e emepebistas dos anos 1960 para cá. Em 1967, os cafonas simbolizavam o viralatismo cultural assumido, não podiam exercer a superioridade sobre a MPB que estourava nos festivais da canção.
Cinco décadas e meia depois, a nova geração da MPB é que se subordina aos ídolos brega-popularescos, que continuam medíocres e canastrões, mas sofrem de puro complexo de superioridade, não raro se irritando e reagindo com arrogância às críticas. Os novos emepebistas, diante disso, atuam como carneirinhos, fazendo músicas que mais parecem rodas de luau de estudantes adolescentes.
Sabemos que há muito tempo não há uma MPB que soe vigorosamente juvenil e até divertida, ou um Rock Brasil que pudesse empolgar o público. Mas levar gato por lebre e se fazer crer que a música brega-popularesca é "genial" é de uma estupidez sem tamanho e sinal de uma resignação pública em relação à galopante mediocrização da música brasileira. Se uma armação ultracomercial como o grupo É O Tchan é vendido como pretensa vanguarda, é sinal de que o Brasil está culturalmente perdido.
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