Lula tem problemas pela frente. Com o rombo causado por Jair Bolsonaro no valor de R$ 400 bilhões, um preço muito caro para quem se arriscou a elegê-lo "só para experimentar", Lula vai encontrar dificuldades para realizar investimentos públicos e, por causa dos compromissos com a frente ampla, também não irá romper o teto de gastos públicos, mas flexibilizá-lo.
O presidente eleito recebeu a informação de que irá trabalhar o Orçamento de 2023 que investirá 34% em educação básica do que o governo Bolsonaro. Ou seja, a educação básica, que é o primeiro estágio de instrução e escolaridade dos cidadãos, será comprometida com menos investimentos públicos, o que, mais uma vez, irá afetar a formação educacional dos jovens brasileiros, há muito deficitária.
O setor social está muito afetado com as limitações deixadas pelo desastroso governo Bolsonaro. E Lula não pode adotar medidas como cobrar dinheiro de banqueiros e super-ricos. Ao mesmo tempo que o petista recebe um legado amargo do extremo-direitista, Lula ainda tem dívidas políticas com a direita moderada, que não podem ser desprezadas.
Alguns falam que é possível pressionar Lula a manter uma agenda de esquerda. Outros, com exagero, acham que isso é "inevitável". Mas a verdade é que, com a frente ampla e o PT com papel reduzido nas decisões de governo, enquanto Geraldo Alckmin, que é neoliberal, tem maior influência e desenvoltura, o governo Lula não irá além do nível moderado, bem mais do que o primeiro governo, iniciado em 2003, que já era considerado muito moderado.
A direita moderada é menos flexível do que os setores da direita que se aliaram a Lula nos governos anteriores. Embora tenham, em tese, alguma nova preocupação social, os direitistas moderados, em parte, apoiaram os retrocessos de Michel Temer e apenas recuaram em propostas que não conseguiram estimular o crescimento econômico.
Os direitistas moderados não se identificam com a causa original de Lula. Mas Lula, visando a vitória eleitoral e a governabilidade, fez muitas concessões à direita, mais do que as que havia feito antes. Na prática, Lula deu fim ao que lhe restava de esquerdismo, e cabe a ele agora combater a fome, a pobreza e o desemprego nos limites determinados pelos aliados neoliberais, que não querem ver o petista escapando dos compromissos políticos assumidos.
Quanto à educação básica, Lula terá que fazer malabarismos. Ele terá que aumentar o teto de gastos, em vez de rompê-lo, porque é uma dívida política com os antigos apoiadores do governo Temer. Isso fará com que a Saúde e Educação públicas terão que ter investimentos limitados pelo orçamento a ser determinado pela PEC da Transição.
E aí é que entrará a Parceria Público-Privada (PPP), uma das bandeiras de Geraldo Alckmin. Só que a mentalidade dos parceiros privados, no que se refere à Educação, prioriza a formação profissional, e aí veremos mais limites do que se imagina no que se refere aos investimentos na escola pública.
Para as esquerdas médias que deixaram de lado o senso crítico, não há problema. Um movimento progressista que prefere afastar o raivismo e tudo que não lembrar valores "positivos" como aceitação, concordância e contentamento, fica fácil achar que a iniciativa privada pode ser parceira da Educação pública, sem problemas.
Agora que a burguesia está no lado das esquerdas médias, a tendência, nesta hipótese, é que a Educação pública possa formar excelentes profissionais, pessoas até agradáveis, mas obedientes ao "sistema". Dificilmente o esquerdismo terá vez no próximo governo Lula.
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