As esquerdas brasileiras não aprendem as lições das derrotas recentes.
Foram derrotas em 2016, 2018 e 2020, do golpe político à retomada da centro-direita nas urnas. E isso depois do fenômeno do bolsonarismo, que começa a se derreter.
São vários motivos que fizeram as esquerdas se debilitarem.
Um é a ilusão de que as esquerdas estavam com tudo e até os mais conservadores se ajoelhavam aos esquerdistas, como fazem os súditos.
Outro são os "brinquedos culturais" da centro-direita, que foram adotados pelas esquerdas sob a desculpa de que são valores e símbolos "acima das ideologias", com base na falácia de que, sendo "universais", seriam necessariamente "progressistas".
Há ainda a convicção elitista das lideranças de esquerda, que define a "classe média de Oslo", na medida em que se acha que o proletariado e o campesinato conquistaram a prosperidade, e as favelas viraram uma "nação" à parte, com sua pretensa "autossuficiência".
E há também os erros estratégicos, a falta de empenho em promover uma solidariedade real entre os esquerdistas e ações que possam trazer êxito e estabilidade para as forças progressistas.
E há também alianças feitas de forma errada, com as pessoas erradas e mediante motivos errados.
Vide, por exemplo, as alianças feitas entre 2002 e 2005 com Fernando Collor, Paulo Maluf e José Sarney, só para dar uns exemplos.
E agora o problema está numa ênfase exagerada nas causas identitárias.
Não que elas desmereçam atenção, mas elas são defendidas de maneira isolada e sob excessiva atenção, se esquecendo que os temas trabalhistas deveriam ser prioridade.
Afinal, foram as causas trabalhistas o impulso original dos movimentos de esquerda do mundo inteiro.
Além disso, não há causa identitária que sobreviva sem que se pensem os problemas trabalhistas.
São os problemas trabalhistas que tocam direto na sobrevivência cotidiana da espécie humana.
De que adianta trazer a causa LGBTQ para populações sem teto, altamente vulneráveis, ou para pessoas de baixa renda, passando fome e com muitas contas a pagar não se sabe com que grana?
A maioria dos textos da mídia progressista anda apenas repetindo a agenda da mídia convencional, e não é porque isso seja inviável, mas é porque não pode se limitar a isso.
Não há um diferencial. O que há, até mesmo, é a reprodução de artigos e pautas da mídia venal, a mesma mídia que os esquerdistas prometiam restringir poderes ao defender a regulação da mídia.
E aí vemos que ninguém luta para reverter a reforma trabalhista e outros retrocessos do governo Michel Temer. Se limitam a reclamar pelas letras miúdas e vagas dos textos menos expressivos na mídia progressista.
Os camponeses são mortos, o proletariado desamparado, agricultores expulsos das fazendas pela tecnologia e pela contenção de gastos. Trabalhadores de aplicativos sem regulamentação, ganhando um salário que mal dá para sobreviver com alimentação digna.
Os sindicatos ficaram enfraquecidos. As classes trabalhadoras, abandonadas pelas esquerdas. O povo pobre aderindo à direita porque ela, em que pese sua defesa da precarização do trabalho, promete comida farta para as pessoas carentes.
E as esquerdas se limitam à espetacularização do PSOL, o circo identitário de um país hipotético que muitos julgam ser próspero.
Perdemos muitas conquistas trabalhistas. Perdemos conquistas sociais. As empresas públicas nacionais estão sendo vendidas aos poucos. Nosso patrimônio entregue às empresas estrangeiras.
Como podemos ser prósperos? Porque assim falam os telejornais no horário nobre?
E logo as esquerdas passando pano nisso tudo, elas que mantém seus "brinquedos culturais" dentro do armário, quando deveriam jogar esses entulhos no lixo.
Enquanto isso, Sérgio Moro e sua esposa Rosângela vão para os EUA e ele passou a trabalhar numa empresa de consultoria.
Ciro Gomes, depois do fracasso das esquerdas nas eleições de 2020, se aproxima mais da centro-direita.
Jacques Wagner causou polêmica dizendo que o futuro do PT não depende de Lula, apesar deste ser justamente a figura mais lúcida não só para orientar o partido, mas para conduzir os rumos das esquerdas no Brasil.
E aí temos a "esquerda" de mentirinha de Luciano Huck, que desistiu da parceria com Sérgio Moro para articular alianças com o ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta.
E a "esquerda" carioca de Eduardo Paes querendo dialogar com o bolsonarismo, justamente quando esta corrente extremo-direitista está decaindo completamente (mas o Rio de Janeiro segue o mesmo caminho, ou melhor, descaminho).
E o caso Marielle Franco chegando ao milésimo dia, sem que se conheça quem foi o mandante do assassinato da vereadora e do motorista Anderson Gomes.
Há muito o Brasil está numa situação frágil. Não cabem vãs esperanças. As esquerdas precisam parar de ficar brincando com fogo. Elas não vão recuperar o protagonismo tão cedo. Cabe lutar para isso e não ficar sorrindo.
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