RÁDIO ALTERNATIVA? DESDE QUANDO? TRATANDO O ROQUEIRO COMO IDIOTA?
Temos que reconhecer que, na prática, o radialismo rock morreu.
Se as duas maiores rádios rock do Brasil são 89 FM e Rádio Cidade, então, meus amigos, prefiro ficar na seleção do YouTube, e ficar na minha.
Infelizmente, tem muita gente passando pano nas duas rádios, e se o empresariado mais careta dá apoio às duas emissoras, então é bom sair estranhando.
Se bem que há muito o rock está decadente, não traz mais rebeldia e as duas emissoras são em boa parte responsáveis pelo surgimento do "roqueiro de direita".
Daí não haver diferença se um empresário bolsonarista como o Roberto Medina tem nas duas FMs suas protegidas, e toda uma campanha de idiotização do público de rock recebe a passagem de pano até de muita gente boa no segmento.
Paciência. Nosso Brasil é muito provinciano. Tanto que o Rio de Janeiro decai vertiginosamente e São Paulo, há muito, é nosso Tucanistão, que se reafirmou com a reelelição do prefeito Bruno Covas.
No Rio, vale lembrar, o "queridinho das esquerdas" Eduardo Paes manifestou entusiasmo em dialogar com Jair Bolsonaro. Muita gente pensou que o bolsonarismo estava com Marcello Crivella e ele foi abandonado pelo "mito". E os cariocas, mais uma vez, com mania de voto podre.
Indo para o radialismo rock, fico muito triste com o desfecho que teve o meio.
Na prática, o radialismo rock morreu, porque, na verdade, NÃO temos mais rádios rock 24 horas por dia.
Engana-se que rádio rock é apenas a rádio que toca rock. Só que rádio não se define pelo vitrolão, se a rádio não tem personalidade rock, não tem o estado de espírito necessário, então não dá para definir como rádio de rock.
Mas aqui é uma província e o pessoal julga as coisas pelo próprio umbigo. As redes sociais são cheias de gente arrogante, dotada da Sindrome de Dunning-Kruger, que é aquela mania dos ignorantes se acharem mais sábios do que quem realmente sabe das coisas.
E a Síndrome de Dunning-Kruger dos ouvintes da dupla rockneja 89-Cidade é terrível. Os caras só ouvem menos de 1% do total que se produz de rock no mundo, e se acham donos da cultura rock. Um bando de matutos se achando mais roqueiros do que o pessoal que entende de rock mundo afora.
Fico alertando para ninguém conversar sobre rock com um ouvinte da Rádio Cidade. É perda de tempo.
Sei que tem isentão complacente me criticando, dizendo "Você tem que conversar sobre rock, sim, porque até o que ele não sabe ele vai aprender um dia".
Esqueça. O problema não é isso, é a arrogância e os preconceitos que os roqueiros de vaquejada que ouvem a Rádio Cidade podem ter até se eles tiverem que aprofundar seus conhecimentos sobre rock.
Nos tempos do Catolicismo medieval, conhecer melhor a vida de Jesus Cristo não impediu que se desenvolvessem preconceitos dos mais obscurantistas.
Da mesma maneira, também não é lendo mais a obra de Allan Kardec que fará com que os ridículos "espíritas" brasileiros tenham melhor compreensão da doutrina original.
É com muito pesar que vejo a 89 FM chegar aos 35 anos de existência. Foi no mesmo dia 02 de dezembro em que Britney Spears completou 39 anos.
Aqui se admite um mal a menos: a 89 tem uma data para comemorar. Já a Rádio Cidade não pode comemorar 43 anos direito porque sua trajetória é cheia de contradições mais explícitas.
A 89 FM A Rádio Rock (sic) e a Rádio Cidade apenas fizeram alguns arranjos só para permitir que sejam levadas a sério como (dublês de) rádios de rock.
No caso da Rádio Cidade, ainda que os locutores variem entre os estilos de linguagem da Mix FM e dos noticiaristas da Super Rádio Tupi (sério!), suas intervenções têm que ser mínimas. Nos domingos e nas madrugadas, deixa de haver locução (ou melhor, "loucução").
Na Rádio Cidade, locutores não podem fazer piadinhas, têm que ficar presos ao texto escrito pela produção e até o "caiu o papel no chão" que marcou história na emissora foi cancelado.
Na 89 FM e na Rádio Cidade, não pode haver muita locução em cima das músicas, porque, se houver - e, às vezes, há - , a Internet sai matando e o YouTube vira exílio para quem quer ouvir canções de rock na íntegra.
Se a Rádio Cidade tenta soar, com toda a locução poperó, uma espécie de "rádio tipo Fluminense FM", a 89 FM fez outra estratégia: se dividiu entre a "Jovem Pan com guitarras" e o que restou de programas da linha dos últimos dias da 97 Rock e Brasil 2000.
Embora Tatola, aquele punk de boutique que mais parece uma paródia de Jello Biafra feita por A Praça É Nossa, comandasse a 89 FM, ela se dividiu entre ele e Roberto Miller Maia, que comandava a Brasil 2000.
Ou seja, a grade diária da 89 FM é pura Jovem Pan com guitarras. A maior parte dos programas segue aquela linha mesmo de hit-parade, aquele papo de "as mais pedidas", independente de serem novas ou não.
É constrangedor que a 89 FM venda a falsa ideia de "rádio alternativa" porque isso é uma mentira muito grosseira. Só porque a rádio não toca Anitta nem BTS, não significa que a emissora seja alternativa, não é, amigos?
Ainda citando a 89 e a Rádio Cidade, também chama a atenção o fato de que seus principais radialistas, Zé Luís e Demmy Morales, NÃO são gente do ramo.
Eles são o que Luiz Antônio Mello, que comandou a Fluminense FM, definiu como "profissionais de rock".
Os caras estão lá no estúdio, anunciando bandas de rock, encarando sons pesados em nome de um bom salário, mas seu envolvimento com rock se mede com o cartão de ponto do trabalho.
Fora do trabalho, Demmy e Zé fogem do rock. Eles vão ouvir outra coisa, pop convencional, pop adulto, MPB carneirinha ou até mesmo popularesco.
Demmy Morales foi daquele grupo de radialistas que se dividiu entre destruir o que restava da Fluminense FM em 1994 e criar um verniz "roqueiro" para a Rádio Cidade.
Para quem não sabe, Rhoodes Dantas (que assumiu detestar rock) trabalhava na Fluminense FM antes de ser vendida para a Jovem Pan Sat e teria indicado a emissora para DJs comprometidos com o pop dançante: Marcelo Arar, Victor Orelhinha, Mário Bittencourt, DJ Saddam etc.
Não sei se o Mário Bittencourt é o mesmo que está com Fluminense. O time de futebol, não a rádio. Já o DJ Saddam foi o descobridor da hoje musa fitness Kelly Key.
Aí esse pessoal foi moldar a Jovem Pan Rio e a Jovem Rio e, depois, se dissolveu. Paralelo a isso, Rhoodes foi para a Cidade, com outros membros da gangue, Paulo Becker e Demmy Morales.
Integrado aos dois grupos, Alexandre Hovoruski trabalhou na Jovem Pan durante anos e, nos primórdios da Jovem Pan Rio 94,9, ele ainda estava ligado a Tutinha e produzia CDs de dance music.
Depois, no entanto, Hovoruski estava na 89 FM moldando a mentalidade e a logística comercial. É fácil manter uma rádio rock ruim, tendo um departamento comercial que nunca fracassa.
Quanto ao Zé Luís, ele é pai de Manu Gavassi, atriz e cantora pop e fã de nomes como Dua Lipa.
Consideremos que Zé Luís foi muito presente na educação inicial da menina, e sabemos que rock não é o forte da garota, que preferiu fazer um pop adolescente convencional.
Isso mostra o quanto o envolvimento de Zé Luís com rock é muito postiço, uma mera "aventura" para ganhar dinheiro, assim como Demmy Morales e sua dicção não muito diferente da de um Emílio Surita.
Aliás, falando em Surita, Tatola também mostrou-se mais palhaço do que roqueiro, com seu Encrenca! que passa na Rede TV! e que jura não ser inspirado pelo Pânico na TV, derivado do Pânico da Jovem Pan.
Me enganem que eu gosto. É claro que existem diferenças operacionais na trupe humorística, mas eu dou um doce quem conseguir provar que o Encrenca! é a antítese do Pânico da Pan.
Se nem os Sobrinhos do Ataíde eram, tendo sido menos (ou nada) roqueiros do que muitos imaginam, imagine o Encrenca!.
Ver que o segmento rock no Brasil virou uma idiotice é coisa de fazer chorar. Vejamos:
A página da Rádio Cidade certa vez mostrou dois cachorros com a língua pra fora (sinal de alegria, por parte desses animais).
Foi numa foto enviada pelo ouvinte da emissora, que sobre os rostos dos cachorros pôs, em cada, uma foto de Mick Jagger e outra de Gene Simmons, do Kiss.
Isso foi um atestado de profundo retardamento mental vinda do público que se diz roqueiro.
Agora, uma promoção da 89 FM para um concerto de Paul McCartney veio com a seguinte frase que só faz sentido como piada do Casseta & Planeta nos bons tempos.
É aquela que diz: "O George Harrison atende a porta. Alguém diz: "O Ringo Starr"?. George responde: "Foi Paul McCartney no correio. Não deixa o John Lennon".
Dito numa rádio supostamente roqueira que queira ser levada a sério (e a 89 FM é levada a sério demais, e sobretudo pelos homens de negócio, o que não é lá muito roqueiro, não é mesmo?), essa piada não tem a menor graça, assim como o bigodinho do Freddie Mercury.
A 89 FM tem DNA malufista, seu fundador José Camargo, falecido há pouco tempo, era ligado a José Maria Marin e ambos a Paulo Maluf, tendo sido políticos da ARENA durante a ditadura militar.
A 89 FM foi favorecida financeiramente durante o governo Fernando Collor - a Rádio Cidade "roqueira" viveu o mesmo sob Fernando Henrique Cardoso - e, após um longo hiato, a "rádio rock" foi ressuscitada para estimular o crescimento do "roqueiro de direita" e do movimento alt right paulista.
Ah, e para quem não sabe, Luciano Huck também trabalhou na 89 FM e deve ter dado suas dicas sobre a mentalidade da emissora. E deve ter sido modelo de locutor-animador para Zé Luís.
Afinal, São Paulo deixou que Fernando Haddad fosse eleito prefeito da capital paulista e o tucanato paulista não podia aceitar essa "derrapada".
Portanto, nada como ressuscitar a "rádio rock" e fazer da 89 FM, apoiada demais pelo mais rico empresariado paulista, para esvaziar a rebeldia da cultura rock e imbecilizar o público roqueiro, enquanto São Paulo vê surgirem "gurus roqueiros" tipo Nando Moura e Roger Rocha Moreira.
E isso num Brasil provinciano, cuja "cultura rock" comandada pela dupla 89-Cidade é movida pelo umbigo, pouco importando o que pensa e age o universo rock no mundo inteiro.
Com o agravante de um "universo roqueiro" que, no Brasil, define como "rock clássico" bobagens como Bon Jovi e Guns N'Roses e que agora vê em Miley Cyrus a "mais nova salvação do rock".
E o radialismo rock, quando muito, se reduz apenas a uns dois ou três programas que prestam, porque, se ouvir uma "rádio rock" por mais de três dias, a vontade é de atirar o rádio pela janela.
Mas poupemos isso, pois nossos aparelhos de rádio, assim como os computadores e celulares, não têm culpa por irradiarem programações tão irritantes pilotadas pelos locutores estilo Jovem Pan escondidos em jaquetas de couro.
Triste mesmo ver que radialismo rock já não é mais coisa de quem vive e gosta de rock, mas de empresário cheio da grana para manter rádios medíocres no ar durante muito tempo.
Prefiro ouvir rock nos vídeos do YouTube e ficar na minha, no que embarcar nessa "cultura rock" de parafusos soltos e cérebro atrofiado.
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