FLAMING LIPS - PARA QUEM CONHECE, AQUI NO BRASIL, A BANDA ESTADUNIDENSE É VISTA COMO A SALVAÇÃO DA HUMANIDADE.
O Brasil é um país que costuma endeusar demais quem não vale a pena tanto assim. Paciência, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro em 2018 e os cariocas, que acham que são os donos da verdade - é só discordar de qualquer coisa, por pior que seja, que os cariocas promovem linchamento digital, com direito (e direita) e blogue de ofensa e tudo - , andam vacilando nos votos, elegendo aqueles que, pouco depois, será alvo de ataques de quem neles votou.
Somos um país de vira-latas e qualquer um que pareça com alguma extravagância ou pragmatismo é visto como a oitava maravilha do mundo. E temos vários exemplos, tanto brasileiros quanto estrangeiros, de pessoas ou fenômenos que não são tão legais assim e nem oferecem tanta vantagem, mas que são vistos como "verdades absolutas" e quase não se há críticas contra eles.
A lista abaixo deve ser lida com paciência. É coisa para quem tem estômago, mesmo, e neurônios frios. Para quem não aguenta ver seu ídolo ou sua instituição criticados e fica com raivinha, melhor evitar do que ficar reagindo com ataques, porque hoje não é mais como em 2007 ou 2012, o SaferNet já anda mais vigilante quanto aos atos de truculência digital nas redes sociais.
E é até engraçado haver gente assim com raivinha, porque, a essas alturas, como estamos no Natal, as crianças se preparam melhor para serem informadas de que Papai Noel não existe do que gente crescida diante de tanta pasmaceira que acredita ser a maravilha das maravilhas. Vamos à lista:
FLAMING LIPS - É certo que a banda estadunidense, do contrário que "gênios" como Outfield e Johnny Rivers, possui, sim, representatividade no cenário musical do exterior. Mas, se nos EUA a banda é apenas um ícone do rock mainstream como tantos outros, aqui é visto como "símbolo da cultura alternativa" e até como "a salvação da humanidade".
Menos, menos. Primeiro, porque os Flaming Lips não são alternativos. Alternativos são Ride, XTC, Monochrome Set, Teardrop Explodes, Weather Prophets, Wedding Present. Os "lábios flamejantes" são apenas um "mainstream do B", mas nada que possa representar algo que ameaçasse o império da Billboard.
Musicalmente, os Flaming Lips não são ruins, mas são supervalorizados pelo seu bubblegrunge que os brasileiros descolados acham que a banda de Oklahoma descobriu a origem do universo e, por isso, dão a ela um valor maior do que aquele que eles realmente tem, que é apenas razoável.
GUNS N'ROSES - É totalmente risível ver a banda de Axl Rose definida como "símbolo do rock clássico" no Brasil. Não que essa besteira não ocorra lá fora, mas aqui a coisa chega aos níveis do fanatismo cego. Quando tentei vender exemplares do meu zine O Kylocyclo, um universitário, ao ver o título negando que Guns N'Roses não era rock clássico, o cara fez expressão de luto e foi embora, contrariado.
Mas, vamos combinar, o Guns N'Roses nunca passou de um pastiche de Led Zeppelin com AC/DC (bondade demais Angus Young chamar Axl para cantar na banda), com momentos de breguice explícita ("November Rain") e até letras com apologia ao feminicídio ("I Used to Love Her"). Deixem de preguiça e ouçam rock pesado de verdade: Led, AC/DC, Deep Purple, Thin Lizzy, MC-5 etc.
MICHAEL JACKSON - O cantor nunca teve a genialidade que lhe é atribuída, e nos EUA, depois de Thriller, de 1982, ele nunca foi levado a sério por seus compatriotas. Mas o falecido "Rei do Pop", no Brasil, é supervalorizado até os níveis insuportáveis, com muita gente boa passando pano nele, mesmo admitindo seus defeitos.
E isso ocorre de tal forma que, numa comparação jocosa com Miranda Cosgrove, é justamente a jovem atriz (que apresenta o programa Mission Unstoppable), que deveria ser comparada a Audrey Hepburn, a vítima de tais ofensas. Michael, mesmo em suas frescuras, é poupado.
Com boa vontade, dá para enumerar bons momentos de Michael, como sua carreira infanto-juvenil e o álbum Off the Wall, mas nada que o faça o salvador da humanidade que muitos tendem a ver no astro pop. E, vamos combinar, o mérito maior de Thriller deve ser dado ao produtor e arranjador Quincy Jones, que recentemente criticou a extravagância, as exigências e o estrelismo de Jackson.
RÁDIO CIDADE (RJ) - Passa-se mais pano na Rádio Cidade do que em mesa cheia de poeira. Sinceramente, a emissora dos 102,9 mhz do dial do Rio de Janeiro nunca teve uma programação digna para o segmento rock, não cobrindo sequer o básico do gênero. Como rádio de rock, a Rádio Cidade é tão autêntica quanto uma nota de R$ 23.
A Cidade peca pelo nome risível e nada diferenciado (há "trocentas" rádios com este nome em todo o Brasil, até emissoras popularescas e evangélicas), pela locução pop e sem conhecimento de causa, repertório hit-parade, que mesmo nos esforços para tocar algo mais que os "grandes sucessos", a emissora não tem a criatividade necessária e, não raro, empaca, operando seu playlist no piloto automático. É tanta complacência que até jornalistas musicais sérios exaltam a Rádio Cidade desde meados dos anos 1990.
89 FM - Outra pretensa rádio de rock que o pessoal adora passar pano é a 89 FM, de São Paulo, que também nunca foi essa genialidade toda. Até mesmo sua fase inicial, considerada "a melhor" de toda sua trajetória, a tal fase "anti-rádio" de 1985-1987, era muito morna e sem muita ousadia, sendo próxima de uma versão mais pop e menos criativa da Fluminense FM. Depois disso, a rádio caiu, até virar uma "Jovem Pan com guitarras".
Ultimamente, a 89 FM se divide entre seu lado "Jovem Pan com guitarras", que domina a maior parte da programação, e alguns programas próximos do que as extintas rádios Brasil 2000 e 97 Rock transmitiram nas suas fases finais. E ver que um dos principais locutores da 89, Zé Luís, se revelou um não-roqueiro ao ser pai de uma cantora pop, Manu Gavassi, dá o tom de como essa passagem de pano na 89 FM é o suprassumo da complacência subserviente.
NEM LIMINHA OUVIU - A nova banda do coordenador da 89 FM, Tatola Godas, ex-Não Religião, é uma espécie de happy rock para tiozões. O Não Religião já era um pastiche da Plebe Rude, mas Tatola é uma daquelas personalidades que a mídia não pode criticar, mesmo com seu estilo putz-putz de locução. Como não conseguiu ainda fazer sucesso nacional - afinal, o rock está em baixa - , pelo menos o Nem Liminha Ouviu não foi anunciado como "a nova salvação para a humanidade". Isso já é um alívio.
ALINE RISCADO - A musa que o carioca médio, leitor do "isentão" jornal O Dia, considera "uma das mais belas do Brasil", tem uma beleza mais ou menos e um corpo "turbinado" demais para seu porte físico, que em condições normais exibiria glúteos menos redondos. O corpo tatuado é um aspecto repulsivo, a voz é insossa e, esteticamente, Aline tem beleza mediana e mais parece um rascunho de Juliana Paes. Vamos combinar que, com todo o coxismo (digo reacionarismo ideológico), Juliana Paes é muito atraente e sem tatuagens desnecessárias.
Aliás, Aline Riscado nasceu exatamente um dia depois de Andressa Urach, que está removendo todas suas tatuagens. Vamos esperar a disputa de Aline Riscado e Cléo Pires para ver quem decide remover suas tatuagens primeiro, daqui a dois ou cinco anos. Nossa aposta, no entanto, está na Cléo, que poderá decidir por isso antes que pense em lançar um livro explicando a história de cada uma de suas tatuagens.
"FUNK" - O "funk" pode ser criticado por um setor da sociedade, mas por outro, supostamente mais conscientizado, há uma passagem de pano de fazer qualquer flanelinha ficar pasmo. As esquerdas ainda veem esperança de que o "funk", mesmo patrocinado pela Rede Globo e por Luciano Huck, traga a revolução bolivariana para o território brasileiro. Mas mesmo os MCs mais "engajados" ficam se achando e forçam a barra com supostas letras de protesto que não vão a lugar algum.
Musicalmente, o "funk" é um lixo e isso não é preconceito. Afinal, os funqueiros é que discriminam a função do músico e compositor, renegando instrumentos musicais e melodias. Além disso, o funk original, de James Brown, Earth Wind & Fire, Chic, Aretha Franklin e companhia primavam pelos bons vocais e pela robusta estrutura instrumental. Mesmo o funk eletrônico de Afrika Bambaataa não fugia dessa preocupação em caprichar nos sons do sintetizador, sob inspiração do Kraftwerk, banda alemã cujos músicos principais, Ralf Hutter e o falecido Florian Schneider, tinham formação erudita.
VALESCA POPOZUDA - A funqueira sósia da Carla Perez e que tem nome artístico digno de personagem de A Praça é Nossa é tão medíocre que, como cantora, sua inspiração maior foi Xuxa Meneghel. Ela não consegue emplacar um hit, com exceção de "Beijinho no Ombro", que já é constrangedora.
Como "musa", ela vende falso feminismo, apostando nos clichês do imaginário feminista enquanto cumpre seu papel machista de objetificação do corpo feminino, que nas primeiras apresentações incluía rebolar os glúteos na frente da plateia.
ESPIRITISMO BRASILEIRO - A religião tida como "brilhante" e "promissora" - ou melhor, tão promissora quanto Luciano Huck na Presidência da República - é, na verdade, uma grande porcaria medieval que tenta se promover com a decadência da Igreja Universal do Reino de Deus, dentro de um maniqueísmo barato em que só os "neopenteques" são os vilões. Esquecemos que, na ditadura militar, "neopenteques" e "espíritas", "bispos" e "médiuns", foram patrocinados pela mídia corporativa para combater o Catolicismo que atuava em oposição à repressão ditatorial.
Tendo como astro maior um "médium" farsante de Minas Gerais (mas tido como o "maior médium do Brasil" e pretenso símbolo de "paz e caridade"), que usava peruca no auge da carreira e, no fim da vida, virou sósia do Eustáquio (Coragem O Cão Covarde), o Espiritismo brasileiro é marcado por falsas psicografias (psicografakes), feitas no achismo imaginativo de pretensos "médiuns" e sem o estudo devido da Ciência Espírita original, aqui mais desprezada do que areia no deserto do Saara.
Pior é que o "médium", mesmo falecido, recebe passagem de pano de esquerdistas que ignoram que ele apoiou abertamente a ditadura militar e o AI-5 e foi condecorado por isso. Mas o mais risível é ver que até ateus passam pano nesse sujeito, endeusado por caridade fajuta tipo Luciano Huck. Haja flanela!
O Espiritismo brasileiro tem a triste, e nunca reconhecida, proeza de trair os ensinamentos de Allan Kardec, e, de maneira hipócrita, jurar fidelidade a ele. Do Espiritismo original, só sobraram as bajulações, porque o que se conhece como "Doutrina Espírita" no Brasil é nada mais do que um misto de Catolicismo medieval com ocultismo místico.
ÔNIBUS URBANOS DE CURITIBA - Infelizmente, ônibus com pintura padronizada são tidos como "verdades absolutas" pelos tecnocratas do transporte público e Jaime Lerner é tratado como se fosse a encarnação de Deus. Mas não existe vantagem, seja de caráter estético, técnico ou funcional, para empresas de ônibus diferentes terem um mesmo visual. Isso confunde os passageiros, que têm muito o que fazer na vida, e ainda têm que redobrar a atenção para evitar pegar o ônibus errado.
Em toda cidade, essa medida de padronizar ônibus, que é o principal aspecto de uma lógica autoritária, burocrática e tecnocrática de transporte coletivo e mobilidade urbana, está decaindo a olhos vistos, mas ninguém faz para cancelar tudo isso. E Curitiba há muito mostra um sistema decadente, de tal forma que os empresários de ônibus impõem censura para a imprensa não criticar demais esse sistema.
ODAIR JOSÉ - Falam tanto que Odair José é o "Bob Dylan da Central", o "Lou Reed da Baixada" etc, só porque ele teve músicas censuradas. Mas, como lembra Beatriz Kushnir, não há esse maniqueísmo automático da censura e dos censurados, porque há muito mal entendido que rendeu puxão de orelha desnecessário da Censura Federal.
Observando as letras de Odair José, não vi protesto algum em suas letras, muito pelo contrário. "Pare de Tomar a Pílula" segue a temática conservadora de contrariar a pílula anticoncepcional, que era uma bandeira da Contracultura, lá no exterior. E as demais letras de Odair sempre foram de uma ingenuidade inócua típica do bubblegum e o cantor nunca foi vanguarda, mas antes retaguarda, sendo um retardatário ícone da Jovem Guarda e um tardio intérprete de rock italiano dos mais medíocres.
Vamos combinar que Odair José nunca foi genial, que todo esse oba-oba não passa de propaganda de burgueses descolados e que, se ele quis ser John Lennon e não era Bob Dylan nem Lou Reed, ele acabou sendo mesmo é um equivalente tardio e brasileiro do canastríssimo Pat Boone.
MICHAEL SULLIVAN - Marcello Crivella, o decadente político carioca que foi preso e, depois, recebido tornozeleira eletrônica, foi parceiro de Michael Sullivan nas vezes de cantor gospel. Sullivan, que foi o Ivanilson dos Fevers, foi conhecido por tentar destruir a MPB nos anos 1980, impondo uma americanização ultracomercial da música brasileira.
Mas, como no Brasil, se chama o cupim para reconstruir a casa, Michael Sullivan é agora visto como "MPB indie", vejam só, coisas contrárias à sua verdadeira face. É triste ver um dos grandes chefões do mercado fonográfico dos anos 1980 se promover com vitimismo e puxar o saco da mesma MPB que ele quis destruir para retomar sua carreira musical. Só mesmo no Brasil para investir numa vergonha dessas, tentando recuperar a carreira de um cantor e compositor dos mais medíocres.
ALEXANDRE PIRES - O cantor de "pagode romântico" se transformou num equivalente brasileiro a crooners comerciais do tipo Luís Miguel e Julio Iglesias. Mas há quem veja no cantor do Só Pra Contrariar um "visionário da MPB", o que é uma incoerência. Alexandre Pires é muito medíocre para representar a MPB autêntica, e seu repertório é muito brega, e como cantor não vai muito além da média dos cantores que participam dos reality shows musicais da televisão.
EDUARDO PAES - O político carioca que governa só para as elites, que já destruiu o Rio de Janeiro em suas duas gestões, e deixou intensificar a corrupção da polícia, agora vai voltar a governar a cidade, completando o projeto de decadência. Cariocas não sabem votar, e damos dois anos para Paes virar mais uma "vidraça" da imprensa "isenta" carioca, depois de Sérgio Cabral Filho, Luiz Fernando Pezão, Wilson Witzel e Marcello Crivella.
CERVEJA - Como é que uma bebida que tem gosto de pão bolorento ou de dipirona espumante pode ser considerada como "a mais gostosa"? Tentei provar cerveja e odiei. Até mesmo cerveja sem álcool tem sabor horrível. Ver que essa bebida é uma pretensa unanimidade é constrangedor, e ver pessoas com mais de 50 anos falando em "tomar uma cervejinha gostosa" é um acinte, ainda mais quando, a partir dessa idade, beber cerveja já começa a pegar pesado no fígado. De bebida alcoólica em geral, estou fora. De álcool, só uma colherzinha de Biotônico Fontoura e um bombom Jazz da Garoto.
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