Parece que vivemos num daqueles pesadelos em que não conseguimos evitar um desastre eminente.
Os brasileiros que poderiam derrubar Jair Bolsonaro, à direita e à esquerda, estão impotentes e sem saber ou, em certos casos, sem querer agir nessa empreitada.
Jair Bolsonaro seria fácil de derrubar, se o Brasil fosse um país menos tolo e mais atuante.
Mas se o senso crítico é discriminado até nos cursos de pós-graduação, imagine senso e ação críticas no imaginário brasileiro médio?
Isso lembra a lamentável medida dos ônibus padronizados no Rio de Janeiro, fácil para ser cancelada, mas complicada porque veio um gado busólogo proto-bolsonarista (eram bolsonaristas antes disso virar onda em 2018) cometendo baixarias nas redes sociais.
Mas a falta de senso crítico dos cariocas fez durar sete anos. E os cariocas deixaram que se cancelasse a ligação por ônibus entre as zonas Norte e Sul sem muito protesto, a não ser de poucos representantes do movimento social, que reclamavam da ameaça ao "direito à cidade" do povo carioca.
Se o carioca tivesse ainda aquele senso de humor crítico, com o fim das linhas Zona Norte-Zona Sul, o pessoal poderia combinar circular pelo Centro carioca com trajes de banho e se banharem no chafariz da Candelária, como protesto.
Até as Organizações Globo forçaram inserir os ônibus padronizados, todos iguaizinhos, na paisagem carioca. Foi um horror.
E será que os ônibus padronizados, que numa rara caridade o prefeito Marcello Crivella cancelou, vão voltar novamente com Paes?
Não há certeza que sim nem que não, mas o certo é que Paes ficou exposto pela Justiça por causa do modelo de sistema de ônibus que ele impôs em 2010, com denúncias de favorecimento político de alguns empresários de ônibus.
Além disso, a arrogância dos busólogos fascistas foi revelada e os busólogos fluminenses mais agressivos viraram "vidraça", como todo aquele que acha que pode se dar bem agredindo os outros.
O próprio governo Bolsonaro, também com seu gado defensor bastante agressivo - incluindo os acima citados busólogos agressivos - , segue o mesmo caminho, forçado a ter solução de continuidade.
Nem a pandemia fez criar alguma circunstância para derrubar Jair Bolsonaro e há uma pesquisa na qual se atribui a 52% dos brasileiros (na verdade, os brasileiros consultados, cerca de dois mil, se realmente foram pesquisados) a passagem de pano em Bolsonaro por causa da Covid-19.
Foi a pesquisa do instituto Datafolha, da Folha de São Paulo, que divulgou os dados. Os 52% dos consultados não atribuem culpa a Bolsonaro pelas mortes da pandemia, enquanto 38% dizem que ele é um dos culpados, mas não principal.
Os 8% consideraram que Bolsonaro é o maior culpado e os restantes 2% não souberam responder.
Para nós, é claro que Jair Bolsonaro é culpado pelas mortes da pandemia, porque se recusou a adotar qualquer medida de prevenção da doença.
Inicialmente, ele chamou a Covid-19 de "gripezinha". Depois passou a dizer que a cloroquina, mesmo sem comprovação científica, é "eficaz na cura da doença".
O Brasil ultrapassou 183 mil mortes por Covid-19 e Jair Bolsonaro causa muita indignação, é verdade. Mas ação, que é bom, nada.
Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, acha que lançar o impeachment "irá prejudicar as políticas de combate à Covid-19". Que políticas de combate?
E as esquerdas, presas em lacração, se esquecendo da agenda trabalhista e se prendendo a um identitarismo inócuo e vazio?
Pois é. E ainda temos mais dois anos para aturar Jair Bolsonaro, se essa pasmaceira continuar.
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