Vamos lá. Antes de irmos ao assunto do apoio das esquerdas ao bloco de Rodrigo Maia, artífice do golpe de 2016, chequemos dois fatos recentes.
Primeiro, é o jornalista Fernando Gabeira, ex-esquerdista e que, como direitista, apoiou o golpe contra Dilma Rousseff, tão vítima da ditadura quanto o jornalista.
Em artigo publicado no último dia 21, Gabeira manifestou sua desilusão com Jair Bolsonaro:
"Percebo agora como subestimei o perigo que Bolsonaro representava em 2018. Calculava apenas a ameaça à democracia e contava com os clássicos contrapesos institucionais: STF e Congresso, imprensa. Não imaginei que um presidente poderia enfrentar uma tragédia como o coronavírus ou precipitar dramaticamente a tragédia anunciada pelo aquecimento global".
Só que, dois anos antes, Gabeira chegou a passar pano em Jair Bolsonaro, como atesta depoimento dado ao InfoMoney:
"Eu tenho uma convivência com ele de 16 anos. Eu estou acostumado a discutir com ele em muitas circunstâncias, então eu tenho uma tática para lidar com o Bolsonaro diferente da tática que eles optaram. Eu tenho uma tática de tentar entendê-lo, não só por ele, pela amizade que possa existir entre nós, mas pelo fato dele representar uma parte da população considerável".
Gabeira, figura histórica que se derreteu no presente, faz coro a muita gente que achou viável eleger Bolsonaro em 2018 e que, agora, se sente envergonhada por isso.
Outro fato é a Folha de São Paulo. Em matéria do último dia 22, o periódico paulista, ao comentar progressos sociais como a inserção de negros nas universidades, cometeu uma gafe no título e no texto, dizendo que "Década colocou negros na faculdade, não (só) pra fazer faxina".
Evidentemente, esses progressos vêm dos governos do Partido dos Trabalhadores e são reflexo dos dois governos de Lula, nos anos 2000, e do primeiro de Dilma Rousseff.
E temos que reconhecer que Lula é uma das personalidades mais prudentes e bem informadas nas forças progressistas de nosso Brasil. Mesmo com 75 anos, ele é um dos poucos capazes de renovar as debilitadas esquerdas brasileiras.
Esquerdas que aliás estão compactuando com Rodrigo Maia, apoiador do golpe de 2016 e complacente com Jair Bolsonaro.
As esquerdas fazem o jogo de aderir ao bloco do Maia, defendendo um político do Progressistas (antigo PP), Aguinaldo Ribeiro, deputado federal da Paraíba.
O Centrão quer Baleia Rossi, do MDB paulista. Bolsonaro quer outro do Progressistas, Arthur Lira, deputado federal por Alagoas.
Marcelo Freixo defendeu o apoio do PSOL ao bloco do Maia, e Luciano Huck pediu para as esquerdas em geral assumirem esse apoio.
Isso mostra o quanto nossas esquerdas perderam o protagonismo e parece que estão contentes em fazer papel de tímida coadjuvante.
As esquerdas acham que, apoiando a direita comportada, receberá dela o poder. Grande engano. Feliz com o protagonismo, a direita comportada retomará o poder todo para si.
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