Foi com triste surpresa que soube, ontem à noite, do falecimento do jornalista Artur Xexéo.
Ele foi daqueles que, como Ricardo Boechat e Paulo Henrique Amorim, uniam talento e capacidade de conquistar uma grande visibilidade.
Ele faleceu aos 69 anos, na verdade 70 incompletos, devido a um linfoma que descobriu recentemente.
Ele foi de uma geração de profunda formação cultural e que acompanhou os fenômenos do teatro, da música, do cinema e da literatura de grande relevância.
Isso significa que Artur Xexéo não é como os jornalistas culturais competentes, mas "isentões" de hoje, que passam pano na mediocridade cultural reinante, sob a desculpa da objetividade e imparcialidade.
Xexéo trabalhou no Jornal do Brasil, onde atuou em cargos de editor da revista Domingo, do Caderno B e do caderno Cidades. Era também colunista do mesmo periódico, e, depois, tornou-se colunista de O Globo e comentarista da Globo News. Também trabalhou na rede CBN.
Ele também era dramaturgo e escreveu peças teatrais, como A Garota do Biquíni Vermelho, encenada sob direção de Marília Pera, e Nós Sempre Teremos Paris, sob direção de Jacqueline Lawrence. Xexéo também traduziu o enredo de Xanadu, na adaptação teatral dirigida por Miguel Falabella.
Outra peça teatral escrita por Artur Xexéo foi Cartola - O Mundo é um Moinho, sobre a vida do famoso sambista.
Artur Xexéo também escreveu biografias, como Janete Clair - A Usineira dos Sonhos, de 1996, e Hebe - A Biografia, de 2017.
Ele também conquistou os fãs combinando humor e informação nos comentários durante a transmissão do Oscar nos últimos anos.
Eu eventualmente acompanhava a coluna dele, quando meu pai comprava jornais todo domingo, um deles o carioca O Globo. E gostava muito do senso de humor refinado e das boas informações trazidas por Artur Xexéo.
A propósito, ele teve uma "participação" pequena no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes....
Não, ele não era um intelectual "bacana", mas o contrário disso. No livro eu dediquei uma parte para mencionar intelectuais envolvidos em críticas à bregalização cultural.
Artur Xexéo aparece corroborando com Ruy Castro, num texto sobre música brasileira. Não vou dar espóiler (estou aportuguesando o termo, se acostumem), vocês terão que conhecer os detalhes lendo o livro.
O curioso é que Artur Xexéo quase não foi jornalista. Sua primeira opção de faculdade era Engenharia.
Ele tentou entrar na Engenharia, mas sentiu que a área não lhe interessava de jeito algum.
Aí, Xexéo entrou no jornalismo, e foi aí que deslanchou. Passou pelo Jornal do Brasil, pela Isto É e passou a criar um estilo leve de escrever textos que o marcou até o fim da vida.
Essa leveza refinada que apresentava a um público nem tão veterano assim uma série de referenciais culturais dos anos 1950 para cá, buscava enriquecer a formação de um público leitor que, da parte dos que têm menos de 50 anos, estava mal acostumado com a mediocridade reinante.
Mencionando a Catifunda, personagem da então recém-falecida Zilda Cardoso, ele resgatou a época de 1961, quando o jeito desbocado da humorista causava polêmicas na televisão.
Era o programa O Riso é o Limite, título parodiado de O Céu é o Limite, sucesso televisivo da época. Catifunda foi lançada neste humorístico que, há 60 anos, era lançado pela TV Paulista (atual TV Globo São Paulo), cujo maior sucesso era o Vamos Brincar de Forca, game show de Sílvio Santos.
O episódio da Catifunda eu inclui no meu livro sobre o ano de 1961, já em fase de finalização.
Artur Xexéo, de vez em quando, criticava a mediocridade cultural, como no caso que está no meu livro.
E isso faz muita falta, mesmo em jornalistas culturais capazes de fazer brilhantes textos sobre grandes nomes da música, mas passam pano na mediocridade do neo-brega dos anos 1980-1990.
Artur Xexéo foi um dos poucos que ainda traziam a oportunidade do senso crítico, uma prática de pensar a cultura não de maneira subserviente e complacente, cada vez mais rara num contexto politicamente correto de esterilidade intelectual às custas de muito pano passado.
E aí nossa imprensa cultural, que precisa de uma oxigenada, perde um de seus grandes mestres.
A galeria de jornalistas do passado aumenta, e espera-se que os estudantes de Jornalismo vejam nos falecidos mestres de nossa imprensa uma bússola para as novas gerações.
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