ESQUERDAS, EM VEZ DE LUTAR PELA DEMOCRACIA, PERMITEM DAR TEMPO PARA A REAÇÃO DE JAIR BOLSONARO.
Três boas e três más notícias em relação, direta ou indireta, a Lula.
As boas, primeiro.
O Supremo Tribunal Federal reafirmou, novamente ontem, a suspeição de Sérgio Moro, anulando as acusações contra o ex-presidente movidas pela Operação Lava Jato.
O ministro do Meio-Ambiente de Jair Bolsonaro, Ricardo Salles, pediu demissão do cargo, depois de uma trajetória marcada pelo consentimento aos crimes ambientais, como os incêndios na Amazônia e no Pantanal.
Ao que parece, numa provável troca de seis por meia-dúzia, Joaquim Álvaro Leite, o novo ministro, não parece que vai trazer uma mudança de atuação em relação ao antecessor.
Jair Bolsonaro é denunciado pelo superfaturamento e corrupção na compra da vacina indiana Covaxin.
Agora, as más. Duas ligadas ao próprio Bolsonaro.
Em conversa com apoiadores, o presidente ironizou os protestos, interpretou mal um morro situado no fundo da Igreja da Candelária - do ponto de vista de quem olha no sentido Baía da Guanabara - , na verdade um morro de Niterói fotografado pela teleobjetiva, e depois manifestou esperança.
Bolsonaro chamou os manifestantes do 19Jn de "pobres coitados" e disse que "vai recuperar esse pessoal aí devagar".
Outro fato ligado a Bolsonaro é a discussão que sua base aliada no Congresso Nacional faz ao projeto de lei antiterror, que poderá transformar seu governo numa ditadura assumida.
O projeto está em tramitação e pode voltar à tona, e a Organização das Nações Unidas alertou que isso poderá agravar a violação dos direitos humanos, de uma maneira não vista no resto do mundo.
O jornalista Pepe Escobar, especializado em geopolítica, também alerta para o risco de, se Bolsonaro ampliar seus poderes, haverá no Brasil uma repressão e até um massacre sem precedentes na história mundial.
Fora do âmbito bolsonarista, mas de certa forma com o aval do vice-presidente e general reformado Antônio Hamilton Mourão, a direita moderada já articula o que ela chama de "segunda via", pensando num candidato "competitivo" que tenha o apoio do empresariado e das Forças Armadas.
Três fatos a favor de Lula e três contra. Qual o peso maior?
Simples. São os três fatos contra Lula.
Digo isso porque sou anti-petista? Não. Eu desejo muito que Lula volte a governar nosso país, mas temos que ser estratégicos.
O grande erro dessa verdadeira procrastinação que é marcar novo protesto para data distante, 24 de julho, em vez de aproveitar o sucesso do 19Jn e se manifestar de maneira mais constante.
Inútil haver bravatas com as esquerdas dizendo que o 24 de Julho vai ser "histórico", que Bolsonaro "vai cair nesse dia, com certeza" etc.
Sem o protesto de 26 de junho (#26JUNHOCONTRABOLSONARO) não haverá 24 de julho.
Memecracia não garante democracia nem derruba presidente. Muito menos é ficar vendo futebol na TV, em casa ou nos bares, no dia em que se comemoram os 53 anos da Passeata dos Cem Mil.
Um mês parado é suficiente para esfriar os movimentos sociais. Em vez de recarregar energias, acaba criando preguiça e apatia.
Se a lei antiterror for lançada no intervalo entre o 19Jn e o 24Jl, o protesto de 24 de Julho poderá ser cancelado, e aí adeus democracia.
Daí que existe a urgência de haver manifestações de rua no sábado, 26 de junho.
Sindicatos e movimentos indígenas até fizeram sua parte. Eles foram para as ruas nestes últimos dias, não esperam 24 de Julho acontecer. É uma vergonha ficarmos em casa em 26 de junho.
O que iremos fazer?
Esperar que a Ivete Sangalo cante a Internacional Socialista em ritmo de axé-music?
Rezar para que o falecido "médium de peruca", que apoiou radicalmente a ditadura militar e sempre foi o "Jair Bolsonaro do kardecismo", ilumine e proteja Lula e lhe garanta o caminho seguro para a Presidência da República?
Ou achar que a vitória de um Flamengo ou Corinthians num campeonato de futebol resulte num "cartão vermelho" (impeachment) para Jair Bolsonaro?
Ou esperasse que um artilheiro, sob a camisa do seu time, exibisse uma outra com a frase "Fora Bolsonaro"?
Os memes a serem produzidos não irão garantir cartaz no Jornal Nacional. Não terão cobertura na imprensa no domingo. Nem capa da Folha de São Paulo renderão.
Afinal, que capa? Um arquivo montagem com vários memes contra Bolsonaro, que, colados junto, dificilmente causariam impacto vistos de longe, do contrário de um protesto na Avenida Paulista, onde se identifica, à distância, o prédio do MASP.
Até o fator noticiabilidade faz com que os memes não ganhem primeira página. Quando muito, umas notas de canto de página.
As forças progressistas e os movimentos democráticos em geral, não só os de esquerda, deveriam chamar o povo para ir às ruas no próximo sábado.
Ou se defende a democracia ou se acomoda na memecracia que nunca contribuiu para derrubar presidentes nem garantir a justiça social no nosso país.
As esquerdas sairão perdendo se ninguém ir às ruas no sábado 26 de junho.
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