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"BRINQUEDOS CULTURAIS" NÃO FURAM A BOLHA DAS ESQUERDAS

 
O BRASIL NÃO É O INSTAGRAM E MUITO MENOS A NOVELA DAS NOVE DA REDE GLOBO.

Ainda há a ameaça das forças progressistas brasileiras furarem a bolha pelo lado errado.

Mesmo quando Lula começa a admitir que é necessário romper com o teto de gastos públicos para recuperar nosso país - é o preço caro de poucos, mas devastadores, anos de "temeridade" e bolsonarismo - o nosso país ainda se apega aos "brinquedos culturais" da direita.

Seus "heróis" são sempre aqueles que, em tese, fazem pobre sorrir, ainda que o fenômeno ou a personalidade envolvidos representem ideais bastante conservadores.

Seus "aliados" são sempre aqueles de comportamento efusivo, mais próximos do oportunismo de um Eduardo Paes do que de uma autocrítica sincera e prudente de um Alexandre Frota.

Isso é um reflexo de uma visão por demais espetacularizada das causas progressistas. É como se o ideal progressista fosse um circo, um botequim, uma boate.

Não é assim.

Isso não vai furar a bolha das esquerdas e ver que um Eduardo Paes, o Joe Biden brasileiro com sotaque de Luciano Huck, posa de "solidário às esquerdas", é muito preocupante.

Assim como parte das esquerdas que ainda acredita que uma megera de Calcutá denunciada por Christopher Hitchens seja digna de algum apreço devido à suposta bondade que virou sua pretensa marca.

Aos desavisados: Hitchens ainda era de esquerda quando denunciou esse "anjo do inferno". Já essa suposta filantropa era reacionária de doer, anti-aborto e tudo, e todo progressista deveria sentir vergonha de dar alguma consideração a ela.

O mesmo com certo "médium" brasileiro, capaz de mil coisas ruins, apesar dele estar associado a uma imagem de "bondade infinita" e "amor incondicional ao próximo".

Ele fez literatura fake, foi premiado por defender radicalmente a ditadura e o AI-5 (o coronel Brilhante Ustra estava dentro do "pacote"), ofendeu pessoas humildes, agrediu verbalmente os amigos de um jovem falecido (Jair Presente), fez plágios literários e ainda pregava positividade tóxica.

E como nossas forças progressistas se manifestam a favor desse farsante reacionário ou, se não for o caso, se calam omissas diante das denúncias contra ele?

As esquerdas também tem sua indignação seletiva? Temo, a contragosto, que sim.

Elas não se acautelam que nem todo reacionário se reconhece pelo discurso hidrófobo e pelos gestos histriônicos. Há quem fale macio e venha com um menino negro e pobre a tiracolo.

E aí o culturalismo conservador acaba enganando as esquerdas, esse viralatismo cultural dos jargões como "gente como a gente" e do dito "combate ao preconceito" contra a mediocrização e até idiotização cultural.

Enquanto as esquerdas identitaristas sonham com um Brasil-Instagram, em pose de yoga com frases idiotas sobre alegria, a realidade torna-se um pesadelo.

Estamos perto de meio milhão de mortos por Covid-19.

Feminicídios já ocorrem a céu aberto, à luz do dia, e, para piorar, um jovem que cometeu feminicídio em 2008 foi beneficiado pelo regime semi-aberto. Seu crime ainda segue leis anteriores a 2015, antes mais flexíveis, mas qualquer vírgula a favor de um feminicida é estímulo a novas práticas.

E ainda temos um criminoso chamado Lázaro Barbosa, que teria cometido várias mortes no Distrito Federal e Goiás, e que, até o momento deste texto, ainda não foi capturado.

E, no Rio de Janeiro viciado em pragmatismo, temos mais um jovem pobre, negro e inocente, Thiago da Conceição, de apenas 16 anos, morto numa operação policial no Complexo da Penha, na Zona Norte.

E, para piorar: policiais se recusaram a socorrer o rapaz baleado. Os familiares é que tinham que providenciar socorro, e mesmo assim tarde demais.

E mais: o jovem foi morto sem tiroteio. A polícia deu um único disparo. Não havia troca de tiros e a operação tinha como pretexto capturar o traficante Mano Kaio, um dos alvos das ações que tiveram também operações em São Paulo e Manaus.

Segundo se denuncia, ações como estas ocorrem com disparo de tiros, atingindo inocentes. Quando se trata de redutos de milícias, isso é menos comum de acontecer.

Como é que vem atriz da Rede Globo recorrendo a "médium" picareta com frase imbecil de positividade tóxica?

Vamos deixar "sinal de alegria" para os parentes de Thiago da Conceição, que se juntam a milhares de familiares de gente negra e pobre revoltados com tais assassinatos?

Será que faz sentido publicar fotos alegres posando de yoga diante do pôr-do-sol?

E com as forças progressistas seguindo o mesmo embalo, só porque, aparentemente, Lula é o favorito para a sucessão presidencial?

É necessário manter cautela. O Brasil não é o Instagram nem o WhatsApp e muito menos o caricatural núcleo pobre da novela das nove da Rede Globo.

É hora de despertar. Que os protestos anti-Bolsonaro de hoje sejam menos espetáculo e mais ativismo.

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