KATHLEN ROMEU - INFELIZMENTE, A ALEGRIA DA JOVEM FOI INTERROMPIDA PELA VIOLÊNCIA POLICIAL.
O Rio de Janeiro está decadente. A Região Metropolitana, não só a capital.
Afinal, a Niterói que deixa ocorrer um feminicídio num shopping, em pleno movimento do almoço, já não pode mais dizer que tem IDH alto e que o IDH alto foi um "presente de Deus".
Mas o Rio de Janeiro, mesmo mantendo as aparências de uma urbanidade que não existe mais - o Grande Rio virou, em seu conjunto, um grande subúrbio, na pior concepção da palavra - , dificilmente consegue evitar sua tragédia, pelas mentalidades viciadas de seu sistema de valores.
E aí, o Rio de Janeiro que as "bolhas digitais" ainda consideram "maravilhoso" porque tem praias da Zona Sul, Maracanã, Carnaval e (o terrível) "funk", enfrenta mais uma tragédia.
Um tiroteio aconteceu ontem, numa favela em Lins de Vasconcelos, Zona Norte do Rio de Janeiro.
É lá onde fica o Hospital Marcílio Dias, para onde fui com meu pai várias vezes e onde minha mãe, internada para uma cirurgia de risco, faleceu, há cerca de dois anos.
Eram policiais com sede de sangue, supostamente procurando bandidos e acabando por atirar em pessoas inocentes.
Desta vez foi a designer de interior, Katlhen Romeu, de 24 anos, grávida de seu primeiro filho. Ela planejava se casar com o namorado, Marcelo Ramos, e formar família com ele.
Até poucos dias atrás, o casal estava alegre, conversando sobre o futuro, traçando planos, cultivando esperanças.
Mas a truculência da polícia que sai atirando nas favelas como se brincasse de tiro ao alvo acabou com tudo. A bela negra Kathlen, que esbanjava vida em seu olhar, está morta.
Marcelo Ramos afirmou ter ficado "sem chão". Imagino as lágrimas dos prantos do rapaz. Eu mesmo tive vontade de chorar ao ver fotos do casal abraçado e ver que tudo isso é passado.
Kathlen é mais uma das inúmeras vítimas da abusiva violência policial, que parece que mata pobres de propósito. Fala-se em "balas perdidas", mas com tantos inocentes mortos, a gente já desconfia da validade desse termo.
Isso mais parece necropolítica de exterminar pobres e negros para "europeizar" o Rio de Janeiro.
O extermínio de pobres - ainda há o caso de três crianças desaparecidas em Belford Roxo, até agora um mistério sem solução - é, para o Rio de Janeiro, o que equivale ao extermínio de palestinos no Oriente Médio, por ordem dos EUA.
O Pentágono determina exterminar os palestinos, sob a desculpa de "combater o terrorismo". O Governo do Estado do Rio de Janeiro faz o mesmo com os pobres, sob o pretexto do "combate à criminalidade".
E aí vemos o pesadelo carioca que só não existe na "bolha feliz" que ainda fica cantando "O Rio de Janeiro continua lindo..." e, ignorando o ditado "dinheiro não traz felicidade", acha que o paraíso carioca voltará com uma enxurrada de dinheiro.
E isso com o Rio de Janeiro em recuperação fiscal, a ser concluída somente daqui a 30 anos, se ela for cumprida conforme o exigido.
Não dá para creditar prosperidade no Rio de Janeiro, se as classes populares vivem essa tragédia na qual o sangue dos pobres não para de escorrer.
No plano nacional, a morte de Kathlen, num período em que estão morrendo muitas mulheres no nosso país, a necropolítica festeja sutilmente, porque se matam potenciais mães e, com isso, evitam nascer novos habitantes.
E aí foi anunciado que a Justiça paulista decidiu conceder regime semi-aberto ao feminicida Lindembergue Alves, que matou a ex-namorada Eloá Pimentel, em Santo André, em 13 de outubro de 2008.
O semi-aberto foi concedido por suposto bom comportamento do rapaz e por exames psicológicos que detectaram "uma agressividade dentro dos padrões normais".
Na ironia de Lindembergue ter sido entregador de pizza, o caso Eloá Pimentel acabou terminando em pizza, mesmo.
E aí vai ficar fácil um homem cometer feminicídio, bancar o coitadinho perante a Justiça, bancar o bom moço na prisão e sair da cadeia. Eles não só podem se ressocializar, como se ressocializam até demais, com um sabor de impunidade bastante abusiva.
E isto estimulará os feminicídios, que já são cometidos sem escrúpulos e vistos como males socialmente aceitos, porque já se começam a exterminar mulheres em garagens de condomínios e praças de alimentação em shoppings, na maior frieza.
E, o que é pior, com lábia e todo um jogo de cena para conquistar novas namoradas (e que namoradas).
Eles eliminam suas namoradas e roubam as nossas. E assim segue esse Brasil surreal.
Fica nosso pesar e nossa indignação pela morte, por motivo covarde, da Kathlen Romeu, e fica nossa solidariedade à família dela.
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