O fato de que o bolsonarismo anda desgastando e gafes como um acidente entre motoqueiros na última manifestação pró-Bolsonaro em 12 de junho último existam não significa que o presidente está derrotado.
Eu e meu irmão saímos de casa e, passando pela Marginal do Rio Tietê, víamos um forte esquema de segurança, com helicóptero e tudo, e tivemos que nos afastar.
Tanta gente com bandeira verde-amarela, camiseta da CBF, e logo identificamos: são apoiadores de Jair Bolsonaro.
Próximo à gente veio uma motociata, e aí vimos que a coisa não está para brincadeira.
Jair Bolsonaro se desgasta, é verdade, mas ele ainda não se sente derrotado.
Aparentemente os ventos parecem favoráveis a Lula, no que se diz ao apoio que parece ter a direita moderada, "em nome da democracia".
Mas nada está garantido e as esquerdas erram ao se manter no clima do "já ganhou".
Não estamos, ainda, em 2022 e muito menos no período de campanha presidencial, faltando muito chão para tamanha empreitada.
Houve um grande erro das forças de oposição a Bolsonaro - esquerdas e direita moderada - de demorarem para agendar nova manifestação. Só no dia 19 haverá novo protesto.
Deveriam ter feito passeata no dia 12 de junho e reduzir intervalos entre um protesto e outro, para se tornarem marcantes e pressionar mais.
Outros períodos históricos já indicaram que o momento é de cautela.
Em 1964, muita gente achou que os generais iriam apenas concluir o período de mandato de João Goulart e abrir campanhas presidenciais para a volta de um civil ao Governo Federal.
No ano seguinte, 1965, as eleições presidenciais foram canceladas e a ditadura anunciou que veio pra ficar.
Em junho de 1968, após a Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, achávamos que a ditadura militar estava terminando, porque o clima de pressão popular indicava que o generalato estava desgastado no seu poder.
No final de 1968, veio o AI-5 e a ditadura se tornou mais repressiva.
E lembremos que o nível das manifestações era bem maior em qualidade e, apesar da ditadura, o senso crítico era socialmente mais aceito do que hoje.
Hoje passar pano é atividade não só de faxineiro, mas também de acadêmicos, jornalistas investigativos e quem, podendo contestar certos fenômenos, fica complacente a eles por razões diversas movidas pelas conveniências.
A juventude da época apreciava a MPB autêntica que tinha neurônios, senso crítico, alta qualidade musical e artística e opiniões fortes contra a opressão e a alienação social.
Muito diferente da bregalização musical de hoje, que, sob a desculpa do "combate ao preconceito" - ver Esses Intelectuais Pertinentes... - , recebe a passagem de pano da sociedade, sob a influência de intelectuais festivos.
Afinal, vamos combinar que essa falácia do "combate ao preconceito" nada diz quanto à aberrante mediocridade musical, artística e comportamental dos sucessos musicais popularescos que, ainda por cima, são, para desespero de muitos, gritantemente comercial.
(Inútil um bregamínion terraplanista bradar "Corta o salário do Chico Buarque pra ver se sua carreira continua", alegando que "não-comerciais" são os bregas dos anos 1990, porque essa falácia não cola)
As pessoas, aliás, deveriam se manifestar mais, e não na forma de micaretas que se observam hoje.
Deveria haver menos espetáculo e mais ativismo, para fazer diferencial aos bolsonaristas.
Está faltando estratégia nas forças progressistas, que pensam que Lula ganhou todas.
Não, ele não ganhou. Algumas circunstâncias estão favoráveis a ele, mas isso não significa que ele ganhou a parada. Ainda tem um longo caminho e o risco de perder tudo não é pequeno.
Temos que parar com fanatismo religioso, pensamento desejoso e outras manias emotivas que fazem as esquerdas exercerem o papel de idiotas não só para a direita bolsonarista, mas para a direita moderada e "isenta".
Deixar os "brinquedos culturais" para trás - "médiuns", funqueiros, craques de futebol fanfarrões, etc - , ter um pouco mais de raciocínio estratégico e evitar dizer, sobre Lula, que "o pai está on".
Menos otimismo e mais realismo. Menos festa e mais ativismo. Menos WhatsApp / Instagram e mais ruas. Menos radicalismo identitário e mais atenção para as classes pobres desprotegidas.
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