Pular para o conteúdo principal

REMANESCENTES DA LEGIÃO URBANA VOLTAM A PODER USAR NOME DA BANDA


Os dois membros remanescentes da Legião Urbana, o guitarrista Dado Villa-Lobos e o baterista Marcelo Bonfá, venceram mais uma batalha na Justiça.

Num ato de desempate da Justiça, a quarta turma do Superior Tribunal de Justiça decidiu dar ganho de causa aos dois músicos, a poucos meses de completar 25 anos de falecimento do vocalista, Renato Russo.

Os dois parceiros de Renato mantém uma batalha na Justiça com o filho do cantor, Giuliano Manfredini, que queria controlar o espólio do pai e se responsabilizar pela marca Legião Urbana.

Conforme a causa dos dois, defendida pelo advogado José Eduardo Cardozo, ex-ministro de Dilma Rousseff e advogado da presidenta no processo do impeachment, a marca Legião Urbana está vinculada ao grupo.

Conforme declarou o ministro do STJ, Marco Aurélio Buzzi, "A marca está enraizada na vida pessoal e profissional dos recorridos que não podem ser tolhidos do direito de identificação com o nome".

Para Cardozo, "prevaleceu a melhor interpretação do direito e se fez justiça. Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfa, em conjunto com Renato Russo, construíram a denominação 'Legião Urbana'. Seria injusto e indevido impedir que eles pudessem se apresentar artisticamente sem qualquer referência à história da banda que construíram".

Uma ação policial solicitada por Giuliano Manfredini causou muita polêmica, foi feita em dezembro do ano passado e recolheu 91 fitas do estúdio Iron Mountain, em Cordovil, Zona Norte do Rio de Janeiro.

A polícia também foi à casa do produtor Marcelo Fróes, jornalista e pesquisador que também produziu discos póstumos de Renato, solo ou com o grupo, e apreenderam material digital.

Naquela época, se supôs que havia material inédito da Legião Urbana, mas teriam sido versões alternativas de músicas já lançadas pela banda.

Em relação à apreensão, Dado reagiu com indignação: "Não é (somente) Renato Russo, é Legião Urbana. Isso me pertence, pertence ao Bonfá e ao Renato (Rocha", disse ele, citando o outro Renato, Renato Rocha, o Negrete, falecido em 2015.

Com a vitória judicial dos dois remanescentes, eles poderão se apresentar em projetos usando o nome de Legião Urbana, sem que tenham que pedir autorização a Giuliano.

A meu ver, a causa foi justa, porque Dado e Marcelo conviveram com Renato Russo e, mesmo em composições da Legião Urbana de autoria apenas do vocalista, como "Será", os demais integrantes (neste caso, Negrete incluído) são corresponsáveis pelos arranjos e interpretações.

Giuliano pode sentir uma afeição verdadeira e profunda pelo pai, e isso devemos respeitar, mas musicalmente ele não tem a vivência que Renato Russo teve.

O filho de Renato Russo tem uma vivência própria de uma pessoa que ouviu o som dos anos 1990, aquele rock medíocre pós-Raimundos e pós-Mamonas Assassinas. 

Boa parte das bandas noventistas, aliás, esnobava a Legião por ela ser "velha", e só depois da morte de Renato - que chegou a ser ridicularizado por aquele disco de canções italianas - resolveram embarcar na necrofilia, fingindo que "sempre gostaram do rock dos anos 1980".

A propósito, Giuliano ouviu o até hoje subestimado Ride, banda de Oxford cujo um dos membros, Andy Bell, chegou a fazer parte do Oasis? 

Nos últimos anos, Renato Russo ouvia muito Ride, uma banda seminal que só mesmo num Brasil vira-lata é desprezada criminosamente. Os brasileiros preferem endeusar bandas sem representatividade lá fora, como o mediano Outfield.

Esquecemos que a Legião Urbana oferecia informação musical para um público que mal consegue assimilar o básico do rock, que normalmente se sujeita a fenômenos cringe (é o termo da moda) como os fãs de uma música só (um exemplo, achar que Deep Purple só fez "Smoke On The Water").

"Quando o Sol Bater na Janela do Teu Quarto", por exemplo, é claramente influenciada nos Byrds. Antes do U2 virar medalhão, "Ainda é Cedo" copiou um acorde de "Another Time, Another Place", numa canção cujo andamento era inspirado em "Transmission" do Joy Division.

Mas essa mentalidade de rock que o público médio tem desde os anos 1990 - inclusive de tiozões que agora aceitam hits medianos do Queen e Genesis - é fichinha diante do que os mileniais pensam hoje.

Afinal, diante dessa batalha judicial, os mileniais mais retardados chegam então a cuspir seu terraplanismo: "a Legião Urbana é um grupo de música comercial".

Para eles, "não-comerciais" são o BTS, os Barões da Pisadinha, o Alexandre Pires. Mas tem tiozões achando que até Michael Sullivan, um capitalista chato da música brasileira nos anos 1980, é "não-comercial" e "sempre fez MPB de vanguarda" (sic).

Em tempos de fake news, muitos aceitam esse terraplanismo musical numa boa. E quem criticar acaba sendo alvo de linchamento digital, porque os mileniais se acham os "donos da verdade".

Longe de comparar o Giuliano Manfredini aos mileniais que acham que música comercial é "não-comercial" e devem achar "Sunshine of Your Love" do Cream mais comercial do que Wesley Safadão só porque Eric Clapton pirou e andou a falar coisas bem reacionárias.

Até porque acredito que Giuliano tenha se arrependido de ter convidado Ivete Sangalo para participar de um tributo a Renato Russo, porque ela nunca teve relação com o legado da banda.

Mas a batalha não deixa de ser a mesma. Temos que lutar para que não prevaleça essa narrativa de achar que o BTS, comercial até a medula, é "não-comercial" porque "está tentando fazer sucesso nos EUA".

Se há batalhas judiciais, brigas de ex-colegas de bandas, luta por copyright etc, nos nomes musicais não-comerciais, isso não significa que eles se tornaram eminentemente comerciais.

Por outro lado, ninguém imagina que existem brigas dentro do É O Tchan e no "funk carioca", que neste caso há aberrações do tipo lançar funqueiras que não compõem uma vírgula que assinam sozinhas os créditos das músicas que seu empresário e seus produtores compuseram para ela.

Tudo para evitar encargos trabalhistas, vamos combinar.

Os mileniais podem não gostar de música mais antiga, mas deveriam respeitá-la. Enquanto isso, sua música de sucesso, de tão comercial, envelhece rapidamente, o que torna uma perda de tempo ficar defendendo um ídolo do momento com unhas e dentes.

A Legião Urbana acabou definitivamente, mas é justo que o legado da banda seja mantido pelos dois sobreviventes, que participaram ativamente na trajetória artística e, portanto, compartilharam de muitas das vivências deixadas por Renato Russo.

Portanto, fica aqui nosso apoio e solidariedade a Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá na condução do nome Legião Urbana.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

PUBLICADO 'ESSA ELITE SEM PRECONCEITOS (MAS MUITO PRECONCEITUOSA)'

Está disponível na Amazon o livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , uma espécie de "versão de bolso" do livro Esses Intelectuais Pertinentes... , na verdade quase isso. Sem substituir o livro de cerca  de 300 páginas e análises aprofundadas sobre a cultura popularesca e outros problemas envolvendo a cultura do povo pobre, este livro reúne os capítulos dedicados à intelectualidade pró-brega e textos escritos após o fechamento deste livro. Portanto, os dois livros têm suas importâncias específicas, um não substitui o outro, podendo um deles ser uma opção de menor custo, por ter 134 páginas, que é o caso da obra aqui divulgada. É uma forma do público conhecer os intelectuais que se engajaram na degradação cultural brasileira, com um etnocentrismo mal disfarçado de intelectuais burgueses que se proclamavam "desprovidos de qualquer tipo de preconceito". Por trás dessa visão "sem preconceitos", sempre houve na verdade preconceitos de cl

OS CRITÉRIOS VICIADOS DE EMPREGO

De que adianta aumentar as vagas de emprego se os critérios de admissão do mercado de trabalho estão viciados? De que adianta haver mais empregos se as ofertas de emprego não acompanham critérios democráticos? A ditadura militar completou 60 anos de surgimento. O governo Ernesto Geisel, que consolidou o Brasil sonhado pelas elites reacionárias, faz 50 anos de seu início. Até parece que continuamos em 1974, porque nosso Brasil, com seus valores caquéticos e ultrapassados, fede a mofo tóxico misturado com feses de um mês e cadáveres em decomposição.  E ainda muitos se arrogam de ver o Brasil como o país do futuro com passaporte certeiro para ingressar, já em 2026, no banquete das nações desenvolvidas. E isso com filósofos suicidas, agricultores famintos e sobrinhos de "médiuns de peruca" desaparecendo debaixo dos arquivos. Nossos conceitos são velhos. A cultura, cafona e oligárquica, só defendida como "vanguarda" por um bando de intelectuais burgueses, entre jornalist

LULA, O MAIOR PELEGO BRASILEIRO

  POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, LULA DE 2022 ESTÁ MAIS PRÓXIMO DE FERNANDO COLLOR O QUE DO LULA DE 1989. A recente notícia de que o governo Lula decidiu cortar verbas para bolsas de estudo, educação básica e Farmácia Popular faz lembrar o governo Collor em 1991, que estava cortando salários e ameaçando privatizar universidades públicas. Lula, que permitiu privatização de estradas no Paraná, virou um grande pelego político. O Lula de 2022 está mais próximo do Fernando Collor de 1989 do que o próprio Lula naquela época. O Lula de hoje é espetaculoso, demagógico, midiático, marqueteiro e agrada com mais facilidade as elites do poder econômico. Sem falar que o atual presidente brasileiro está mais próximo de um político neoliberal do que um líder realmente popular. Eu estava conversando com um corretor colega de equipe, no meu recém-encerrado estágio de corretagem. Ele é bolsonarista, posição que não compartilho, vale lembrar. Ele havia sido petista na juventude, mas quando decidiu votar em Lul

MAIS DECEPÇÃO DO GOVERNO LULA

Governo Lula continua decepcionando. Três casos mostram isso e se tratam de fatos, não mentiras plantadas por bolsonaristas ou lavajatistas. E algo bastante vergonhoso, porque se trata de frustrações dos movimentos sociais com a indiferença do Governo Federal às suas necessidades e reivindicações. Além de ter havido um quarto caso, o dos protestos de professores contra os cortes de verbas para a Educação, descrito aqui em postagem anterior, o governo Lula enfrenta protestos dos movimentos indígenas, da comunidade científica e dos trabalhadores sem terra, lembrando que o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) já manifestou insatisfação com o governo e afirmou que iria protestar contra ele. O presidente Lula, ao lado da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, assinou, no último dia 18, a demarcação de apenas duas terras para se destinarem a ser reservas indígenas, quando era prometido um total de seis. Aldeia Velha (BA) e Cacique Fontoura (MT) foram beneficiadas pelo document