Mais um artista considerado respeitável aparece em um episódio sombrio, decepcionando as esquerdas identitárias e virando "vidraça" nas redes sociais.
Trata-se do conhecido cantor e músico Robert Allen Zimmermann, popularmente conhecido pelo nome artístico de Bob Dylan.
Ele é alvo de um processo judicial de uma mulher que hoje tem 68 anos e, para garantir sua segurança, só divulgou suas iniciais, JC.
Ela acusa o ícone da música de protesto de tê-la abusado sexualmente, quando ela tinha somente 12 anos. Atualmente, a mulher vive hoje em Connecticut, nos EUA.
JC alega que Dylan se aproveitava do prestígio artístico para "dar (a ela) álcool e drogas e abusar dela sexualmente múltiplas vezes", sob ameaça de violência física.
JC disse também que o artista promoveu "atos predatórios, sexuais e ilegais" de maneira "intencional e sem o consentimento dela". Segundo ela, o episódio provocou "grave abalo mental, angústia, humilhação e vergonha, além de perdas econômicas'.
Dylan nega as acusações, que define como falsas e garantiu que combaterá-las vigorosamente.
O ano do suposto abuso sexual é 1965, justamente época de ascensão de Dylan, que na época era o mais popular cantor de folk do mundo.
É dessa época vários de seus sucessos, como "Subterranean Homesick Blues", "Mr. Tambourine Man" e "Like a Rolling Stone".
A denúncia gerou escândalo pouco depois de ser revelado o lado reacionário de Eric Clapton, músico inglês que havia gravado uma versão de uma canção de Dylan, "Knockin' on Heaven's Door".
É uma época em que muitos totens estão sendo derrubados, forçando as pessoas a rever seus valores e repensar até mesmo o politicamente correto.
No Brasil, tivemos a decadência do cantor Sérgio Reis, antigo ídolo da Jovem Guarda conhecido por ter gravado, em 1967, a música "Coração de Papel".
Dedicado à música caipira durante décadas - integrando uma geração que passa pano em canastrões como Chitãozinho & Xororó, que vendem imagem de "progressistas" enquanto cantam "Evidências" do bolsonarista José Augusto - , Sérgio Reis é mais um dos que vergonhosamente apoiam Jair Bolsonaro.
E não se fala só do encontro recente que ele e Eduardo Araújo (da música "O Bom"), ex-jovem guardista que passou a fazer country, tiveram com o lamentável (des)governante.
Sérgio, numa manifestação de caminhoneiros, pediu greve geral da categoria como forma de apoiar Jair Bolsonaro e incitar o Exército a realizar uma intervenção no país, diante da pressão do Judiciário contra o presidente da República.
É claro que, comparando Sérgio Reis e Bob Dylan, o brasileiro está em situação grave, por apoiar um governo que pretende radicalizar a destruição que já faz no Brasil.
Mas Bob Dylan virou vidraça num contexto em que o comercialismo musical dos últimos tempos vende uma imagem mais "legal" do que a dos grandes artistas.
Do k-pop sul-coreano ao "brega vintage" dos anos 1970 aos 1990, todo mundo é "legal", "encanta a web" e comove até mesmo os jornalistas culturais "isentões", que acham que o cenário cultural brasileiro de hoje é "o melhor de toda a História do Brasil".
Para quem não sabe, a desculpa usada para essa retórica é que "temos inúmeras vozes, inúmeras narrativas e inúmeros espaços". Como se o Brasil fosse um grande shopping center cultural.
O problema é que as narrativas que dominam vão das medíocres às piores, há espaços hegemônicos e outros que não passam de "bolhas sociais" (os "feudos" da Idade Mídia de hoje) e nem sempre as inúmeras vozes conseguem ter vez no grande público.
Mas se passa pano para tudo, sobretudo para coisas que "lacram a Internet", na ilusão de que a lacração é a "nova vanguarda", como se isso fosse diferente do hit-parade tradicional. Só que não.
Vivemos uma Idade Mídia na qual as pessoas fazem vista grossa.
O pessoal, mesmo as esquerdas identitárias, assistem à Rede Globo, Record, SBT, Rede TV!, Rádio Jovem Pan, Globo News, CNN e juram que só veem streaming e passam o tempo no WhatsApp e Instagram.
Acreditam numa "liberdade" que se julga "a mais livre de todas as liberdades", ainda que seja às custas de corpos doloridos durante a tatuagem que transforma corpos humanos em "murais". Só que se esquecem que a "liberdade" que acreditam é uma concessão da Folha de São Paulo.
Ficam sonhando com um "paraíso em plena Terra" com piseiros, sofrentes e funqueiros lacrando a Internet, o hedonismo desenfreado correndo adoidado e internautas de redes sociais se julgando os donos da verdade, linchando quem discordar de seus princípios.
E o pior é que no último fim de semana tivemos o jornalismo "sério" usando e abusando da ridícula gíria "balada" (©Jovem Pan), seja para definir a festa de criminosos no exterior, seja para denominar as "viradas da vacina" contra a Covid.
Se os identotários imaginarem que, lá fora, mesmo o descolado mais aloprado fala, em inglês, a "caretíssima" frase "I go to the party with my friends" (traduzindo, "Eu vou para a festa com os amigos"), em vez do surreal "I go to the ballad with my crew", vão sofrer um ataque cardíaco.
Irão direto ao hospital antes de pensar em fazer algum linchamento digital com o primeiro discordante que virem na tela da Internet ou do celular.
E eles agora apedrejam Bob Dylan, promovido agora ao "inferno neo-comercial" que o "Brasil-Instagram" reserva aos grandes nomes do passado.
Bob Dylan pode ter errado, sim, embora o caso dependesse de investigação mais apurada. Mas a denúncia é suficiente para criar um falso maniqueísmo entre o "gênio da canção de protesto" e os "inocentes ídolos popularescos" que "encantam a web".
E lembremos para as esquerdas identitaristas que os abusos de Dylan, se tiveram ocorrido mesmo, faziam parte do hedonismo de uma geração que consumiu drogas e cometia seus erros e debilidades. Nada anormal. Em Woodstock muita gente boa transava até com menores de idade.
Os identitaristas de hoje, cheios da razão, atiram pedras nos mestres de outrora, achando que no brega-popularesco se vive um céu de anjos que, se não são considerados "perfeitos", são tidos como "gente como a gente".
Esqueceram que a "pisadinha" teve um DJ Ívis.
Esquece-se, da mesma forma, que houve intelectuais "sem preconceitos" que achavam que a pedofilia e os abusos sexuais no "funk" e no "pagodão" da Bahia eram "saudavelmente vistos", de forma "despreconceituosa", como "iniciação sexual das meninas pobres da periferia".
Eu li isso, mas esqueci quem foi quem disse que meninas menores de idade transando em plenas festas popularescas era "iniciação sexual".
Suspeito de um intelectual "bacana", que se referiu ao "pagodão", mas não é ligado à "santíssima trindade" de Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna, que não chegaram a esse terreno da etno-baixaria.
Usar os erros de Bob Dylan para rebaixá-lo à galeria do "comercialismo-vidraça" musical, junto a Morrissey e Eric Clapton, enquanto se exalta o comercialismo brega-pop que "encanta a Internet", é um grande contrassenso.
Que esses músicos respeitáveis tenham seus aspectos sombrios e causem, até em mim, decepções tão grandes - a ponto de, hoje, eu estar desanimado em ouvir a carreira-solo de Morrissey - , é verdade.
Mas isso não é desculpa para fazer o k-pop, os piseiros, sofrentes, funqueiros e os bregas-lacração (tipo a hoje inflenciadora digital Gretchen) serem "mais geniais" e até "vanguardistas e anti-comerciais".
Como não é desculpa para fazer de Michael Sullivan, Chitãozinho & Xororó e Raça Negra os suprassumos da "vanguarda alternativa pós-moderna vintage não-comercial" do Brasil.
Tudo isso que lacra a Internet e não só "encanta a web" quanto garante as passagens de pano do jornalista cultural isentão, todavia, é tão comercial quanto o Banco Safra.
O discurso "legal" que faz qualquer brasileiro descolado "tomar no cool" exaltando o popularesco da hora é também hipócrita e não serão os erros dos grandes nomes musicais que irá "melhorar" a reputação da bregalização totalitária que domina nosso país.
Aliás, essa lacração toda pode ser um ovo de serpente para as "milícias talifãs" que podem explodir na Internet, fazendo um trocadilho com o grupo Taliban que voltou ao poder no Afeganistão, espalhando horror a todos, sobretudo mulheres e crianças.
Isso porque a "liberdade" do brega-popularesco que rebaixa o povo pobre a uma caricatura subserviente ao mercado e a mídia não é a liberdade verdadeira, porque liberdade não é a liberação pura e simples dos instintos.
Se fosse assim, então assediar uma menina de 12 anos seria "liberdade" também. O identitarismo e o hedonismo desenfreado andam cegando muita gente.
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