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EM TEMPOS DE "SAFÁRI HUMANO", OS SEM-TETO SÃO OS NOVOS FAVELADOS

BARRACAS DE SEM-TETO NA PRAÇA PRINCESA ISABEL, EM SÃO PAULO.

O chamado "ufanismo das favelas", o "prato principal" da pretensa campanha "contra o preconceito" - ver Esses Intelectuais Pertinentes... - que gourmetizou a pobreza humana, causou um grande estrago.

Transformou as favelas em "paisagens de consumo" e cenários do esnobismo turístico dos "safáris humanos", que fazem a classe média ver o povo pobre brasileiro como se fossem arremedos pós-modernos das "tribos selvagens" do imaginário etnocêntrico compartilhado por Hollywood.

As esquerdas identitaristas tentam reprovar o "safári humano", mas ele é justamente o efeito natural de toda a retórica de "pobreza linda" trazida pela campanha pela bregalização cultural.

E aí as favelas, antes consideradas um problema habitacional, ganharam uma cosmética consumista, sob a tutela de ONGs geridas por pessoas de origem pobre, mas adotadas pelo paternalismo das classes médias supostamente progressistas.

E aí as favelas passam a custar caro. Viram "condomínios" nesse contexto de turismo etnocêntrico.

Em outros casos, o domínio de traficantes e milicianos fez com que os barracos custassem caro e, além disso, a violência dos morros expulsou muita gente das favelas, como se não bastasse as favelas terem sido, no passado, refúgio para quem, pelo êxodo rural, escapava da violência no campo.

E como as favelas viraram "artigo de luxo" no discurso hipócrita da intelectualidade "bacana", elitistas que se acham "mais povo que o povo", o povo pobre teve que se refugiar nas ruas.

E aí vemos sem-teto por tudo quanto é canto, em várias cidades do Brasil.

Pessoas que não têm para onde ir, variando entre andarilhos carregando malas velhas com seus pertences, miseráveis que só têm cobertor e alguns bens e gente que vive em barracas de acampamento que mal lhes protegem dos temporais.

É muito sofrimento, e isso inclui não só gente desempregada. Há muita gente trabalhadora, sim, e isso se percebe quando, de dia, há áreas nas calçadas onde cobertores e alguns pertences são "largados". É porque o sem-teto que vive no local está tentando algum bico para arrumar dinheiro.

Isso é um grande pesadelo, e um terceiro estágio do sofrimento de pobres contemporâneos, que fugiam das roças controladas pelo coronelismo latifundiário e seus pistoleiros, e agora seus descendentes têm que fugir das favelas por causa das disputas entre traficantes rivais ou entre eles e os milicianos.

Esse drama social não cabe no discurso sorridente de intelectuais tidos como "provocativos" e "simpáticos", dotados de uma linguagem alegrinha feita sob medida para o idiota médio das redes sociais, seja ele de esquerda identitária, da direita bolsomínion ou da direita enrustida dos "isentos".

O próprio drama dos favelados, que nunca foi superado, desapareceu no discurso festivo dos "intelectuais mais legais do Brasil", e muita gente pensa que a vida nas favelas é um Carnaval permanente.

Não é. A vida em favelas é uma rotina de casas precárias, lugares de risco de deslizamentos, onde tiroteios se tornam o ruído mais constante, e onde o medo e a tristeza são moradores efetivos.

E, além da violência do campo, que continua nas zonas rurais, e da violência nas favelas, que destoa do discurso carnavalesco dos intelectuais "sem preconceito", mas muito preconceituosos, temos o drama de quem só tem a rua como lugar de improvisada e desconfortável moradia.

São tragédias que atingem o povo pobre, etnicamente herdeiro e descendente dos antigos escravos, o que mostra o quanto uma parcela da sociedade é vítima de maus tratos de uma outra parcela que é abusivamente privilegiada.

É muito triste isso. A Praça Princesa Isabel, no entorno da Av. Rio Branco, aqui em São Paulo, é um cenário desolador, com tantos miseráveis e seus barracos vivendo uma tragédia social sem fim.

Gente sem esperança, desalentada, sem poder ter sequer jogo de cintura e não podendo meter suas caras para vencer na vida, porque até as oportunidades mais modestas lhes faltam.

Esse pesadelo social não cabe no Brasil-Instagram, onde tudo é bonito, tudo é fácil e tudo é confortável.

Fora desse mundo da fantasia, vemos um Brasil dolorido que grita por socorro. Mas o pior problema é que esse grito não ressoa no Brasil-Instagram surdo aos verdadeiros problemas humanos.

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