Nos últimos dias, o movimento ativista Pastoral Povo na Rua, comandada pelo padre Júlio Lancelotti, teve problemas ao entrar na região da Cracolândia, aqui em São Paulo, no bairro de Campos Elíseos, no entorno da Estação da Luz.
A polícia recolheu dados pessoais dos voluntários, em ação mais constrangedora do que garantidora de segurança.
Os voluntários iriam doar alimentos para os usuários de crack, e lhes dar assistência.
A ação é ousada e polêmica, e fez Janaína Paschoal retomar os surtos reacionários, dos quais parecia ter moderado, se não eliminado, da pessoa dela.
Ela disse que doar alimentos para a Cracolândia "só ajuda o crime". Sensato, o padre rebateu, dizendo que é a corrupção política que estimula mais as ações criminosas.
Júlio Lancelotti vai adiante nas ações de ajuda ao próximo, e ele faz isso não porque a bondade é uma marca patenteada pela religiosidade, mas porque ele tem uma formação humanista, como outros católicos da Teologia da Libertação, corrente progressista do Catolicismo.
Ele vai além dos limites pejorativos, e a solidariedade aos usuários do crack não é complacência com o vício nas drogas.
Pelo contrário, o que Júlio Lancelotti quer é tirar os viciados daquela situação degradante de se viciar em crack e cometer assaltos para sustentar esse vício.
É recuperar a autoconfiança daquelas pessoas que, de tão decadentes, perderam a noção de quem são eles, diante do excesso de adversidades sem controle que foram obrigados a suportar.
São essas adversidades, que a Teologia do Sofrimento, outra corrente católica, só que conservadora e medieval, tanto defende como suposto atalho para a salvação humana, que fazem essas pessoas, sem ter a menor oportunidade e só encarando desgraça atrás de desgraça, sucumbirem ao vício.
O impedimento da Pastoral Povo na Rua de doar alimentos e seus voluntários conversarem com os usuários de crack mostra o quanto as autoridades veem o caso de forma policialesca.
A doação de alimentos não é de forma alguma uma ajuda ou um incentivo ao crime.
Pelo contrário, é uma ação inicial para combater as inclinações criminosas dessas pessoas, lhes dando a esperança de recuperar a dignidade através de uma ajuda amiga e solidária.
É um meio de tirar as pessoas desse pesadelo social, dessa situação sub-humana, através do contato amistoso e da concessão de alimentos que são uma forma de garantir um bem estar através da comida que ajuda a diminuir as fraquezas daquele povo.
É por isso que Júlio Lancelotti faz o que outras seitas, como o Espiritismo que é feito no Brasil, que nunca passou de um Catolicismo medieval de botox, só dizem.
Ainda mais quando o maior mensageiro do "nosso Espiritismo" foi um pretenso médium que defendia que os oprimidos aguentassem suas desgraças em silêncio, sob a promessa (em vão) de que, sorrindo para o sofrimento, o sofrimento vai embora.
O sofrimento não foi embora e não é sorrindo para a própria desgraça que ela se afasta. Pelo contrário, ela permanece e as coisas pioram a níveis extremos. Daí as fraquezas psicológicas que acabam caindo nessa situação deplorável dos usuários de crack.
O sofrimento humano, em si, é um remédio que pode regular o equilíbrio psicológico, e como todo remédio tem que ser tomado em doses moderadas.
A Teologia do Sofrimento, sem a menor sensibilidade em relação à agonia dos oprimidos, quer que esse "remédio" seja tomado sem moderação, mesmo chegando à overdose. E vem com a lorota de que a overdose de desgraças trará, em si, a cura pelas bênçãos.
Pelo contrário. A história da humanidade nos mostra que o excesso de desgraças só raramente gerou pessoas geniais e humanistas. Embora pareça que existem muitas personalidades, elas não são sequer 0,5%.
A quase totalidade dos sofredores extremos sucumbe ao crime, aos vícios, à ganância, ao egoísmo e à chantagem, como meio de "compensar" a avalanche de desgraças que esmagou suas almas.
Pena que a classe média ainda não sabe bem a diferença entre Teologia da Libertação e a Teologia do Sofrimento. Acham que tudo é a mesma coisa só pela coincidência de seus pregadores terem fala mansa.
Mas a Teologia do Sofrimento é o "holocausto do bem", espécie de tirania servida aos oprimidos com água e açúcar, um perigoso veneno que engana as pessoas ao dizer que sofrimento em excesso garantirá bênçãos permanentes.
Por isso vamos aplaudir o trabalho do padre Júlio Lancelotti, que na sua missão de enfrentamento quer mudar as mentes do povo da Cracolândia, dando-lhes esperança para recuperar a dignidade e obter força de vontade para sair daquela situação humilhante e deprimente.
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