LULA E TASSO JEREISSATI, POLÍTICO E EMPRESÁRIO TUCANO.
Dá uma grande apreensão ver Luís Inácio Lula da Silva se aliando de maneira não muito criteriosa com a direita moderada.
Cortejar correntes políticas conservadoras, fazer acordos com gente que derrubou Dilma Rousseff e contribuiu para o "pacote de maldades" de Michel Temer, tudo isso causa preocupação.
O golpe contra Dilma fará cinco anos de consumação amanhã, e até as esquerdas se esqueceram que esse golpe existiu.
É muito Instagram e WhatsApp, e a memecracia tornou-se o parquinho que a direita golpista deixou para as esquerdas festivas brincarem.
Vemos Lula viajando pelo Nordeste, nos últimos dias, e ele, segundo matéria do UOL, fez afagos com aqueles que contribuíram para o impeachment de Dilma.
Em Pernambuco, Lula conversou com o governadorPaulo Câmara, que juntamente com quatro secretários liberados (em 2016, eram deputados licenciados), se empenhou para apoiar o voto pelo impeachment contra a presidenta.
No Rio Grande do Norte, Lula se encontrou com o governador Garibaldi Alves, histórico adversário do PT e também defensor do impeachment em 2016.
No Maranhão, Lula conversou com José Sarney e sua filha Roseanna Sarney, e com Edison Lobão, todos do MDB. A família Sarney apoiou o impeachment e teve o filho do ex-presidente, Sarney Filho, como ministro de Temer. Edison Lobão votou a favor da saída definitiva de Dilma do Governo Federal.
No Ceará, a conversa foi com o ex-senador Eunício Oliveira, do MDB, também adepto do impeachment. E Lula também se encontrou com Tasso Jereissati, um dos "caciques" do PSDB.
Jereissati também é empresário, da família que detém a franquia brasileira da Coca-Cola e a marca Iguatemi de uma rede de shopping centers.
Alguns analistas subestimam a gravidade desses acordos, que podem comprometer seriamente o programa de governo de Lula.
Imaginam que são apenas "acordos viáveis pela democracia" feitos para derrubar Jair Bolsonaro.
Aparentemente, tudo parece correto, mas devemos lembrar que isso determina um preço: o de Lula ter que podar o seu projeto político, fazendo bem menos do que pretende fazer.
Lula não terá liberdade de ação, porque as alianças refletirão não só na distribuição de cargos ministeriais para partidos políticos, mas também da amenização do programa de governo, que perde as condições de executar pautas progressistas.
Lula não parece falar com convicção de que vai revogar teto de gastos e reforma trabalhista. Fica uma coisa do tipo "eu quero, mas nem tanto".
Não creio que, com tantas alianças nesse sentido, Lula possa fazer um governo puramente progressista, até porque a situação do Brasil é pior do que a de 2002 e 2006.
Ele chegará ao poder sem boa parte da estrutura da Petrobras, hoje apequenada com tantas vendas de suas reservas e seu patrimônio. A BR Distribuidora, por exemplo, já está extinta, virou Vibra Energia, um consórcio de empresas estrangeiras que irá aposentar a marca "BR Petrobras" aos poucos.
A Eletrobras e os Correios também virarão companhias privadas de controle majoritariamente estrangeiro.
E boa parte das nossas riquezas também foi para fora, como o pré-sal e tantas refinarias e outros bens minerais.
Então, não há como achar que Lula fará o "melhor governo de todos" e fará o Brasil viver "a melhor fase de toda sua história".
O Brasil está culturalmente ruim, e o governo Jair Bolsonaro fez estragos diversos e irreparáveis.
Não dá para desprezar os estragos que Michel Temer e Jair Bolsonaro fizeram ao país. E se as esquerdas também desprezam esses estragos, então o Brasil está cada vez pior.
Daí o medo de Lula ser eleito para fazer um governo de "terceira via".
Diz uma piada que, enquanto Luciano Huck entrega seu Caldeirão a Marcos Mion, também entrega o que seria seu projeto político para Lula, desejando boa sorte a cada um deles.
A situação é de preocupação, e não de esperança.
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