OS INDÍGENAS FAZEM SUA PARTE, LUTANDO POR SEUS DIREITOS, COMO PROTESTAR CONTRA A FARSA DO "MARCO TEMPORAL".
Foi uma grande e amarga lição para as esquerdas a proibição do Governo de São Paulo para elas se manifestarem na cidade no próximo Sete de Setembro.
Nem mesmo a opção do Vale do Anhangabaú foi considerada pelo governo de João Dória Jr. - por ironia, um dos cotados para a "terceira via" da campanha presidencial do próximo ano - , que sugeriu que as forças progressistas adiassem o protesto contra Bolsonaro para 12 de setembro.
É o mesmo dia 12 de setembro para o qual está previsto um outro protesto anti-Bolsonaro, desta vez organizado pela direita moderada.
Isso foi um balde de água gelada para quem tinha medo de ir às ruas com mais frequência, confiante, cegamente, na ilusão de que os memes seriam suficientes para derrubar Jair Bolsonaro.
Desde que brocharam diante do sucesso dos protestos de 19 de Junho, ao adiarem para mais de um mês depois outro protesto à altura - só em cima da hora fizeram protestos no intervalo anterior ao 24 de Julho - , as esquerdas decaíram e se enfraqueceram no seu ativismo.
Como o coelho da fábula (não custa repetir essa comparação), as esquerdas acham que basta interagir nas redes sociais para o governo Jair Bolsonaro ser derrubado de vez.
Se bem que parte das esquerdas está esperando o próprio Jair Bolsonaro derrubar ele mesmo, iludida com as aparentes trapalhadas que o presidente anda fazendo, como o tal tanque expelindo fumaça naquele desfile improvisado para intimidar o Supremo Tribunal Federal.
As esquerdas andam decepcionando porque elas de repente se esqueceram que houve golpe político contra Dilma Rousseff e que os direitos dos trabalhadores foram cancelados.
O grande mal é que as esquerdas passaram a surfar no otimismo ilusório que tomou conta dos brasileiros que ficaram felizes com a queda de Dilma, há cinco anos.
Era constrangedor ver pessoas felizes achando que Michel Temer iria trazer o Paraíso para o território brasileiro.
As esquerdas não poderiam agir assim, mas passaram a agir, e de forma pior. O identitarismo hedonista sufocou as causas trabalhistas e, pior do que a favelização, vemos crescer a tragédia dos moradores de rua em todo o Brasil.
Infantilizadas, as esquerdas se contentaram com o parque de diversões digital, que as faz terem uma grande má vontade em fazer protestos de rua.
Isso tanto é verdade que o protesto de 24 de Julho, que prometeu ser "histórico" e se anunciava como se fosse "o funeral político de Jair Bolsonaro", teve 200 mil manifestantes a menos que o protesto "emergencial" de 03 de julho.
Agora tem-se o Sete de Setembro, mas as esquerdas foram proibidas de participar em São Paulo. Não se sabe como ficarão os protestos em outras cidades e regiões brasileiras.
E tudo isso se torna uma grande palhaçada, como se não bastasse os protestos de rua das esquerdas mais parecerem convescotes ou micaretas.
Veja o caso dos povos indígenas, que se manifestam de verdade.
O Congresso Nacional foi discutir a proposta do "marco temporal", que prevê que os povos indígenas só poderão reivindicar posse de terras das quais se declarou propriedade até 05 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal.
A farsa do "marco temporal" tende a favorecer latifundiários, grileiros e exploradores de garimpo e comércio ilegal de madeira, em detrimento dos índios que, mesmo depois de 1988, tentaram ocupar áreas por motivos que são mais do que justos, referentes a seus valores socioculturais.
Os índios dão um grande exemplo de união, de engajamento, de protesto.
E as esquerdas em geral? Ficam felizes quando pesquisas apontam que Lula vence Bolsonaro no engajamento digital.
Grande coisa. E o engajamento de rua? Bolsonaro ganha de Lula, daí que os bolsonaristas levaram primeiro o direito de se manifestarem na imponente Avenida Paulista, uma das maiores vitrines dos protestos nacionais.
Ponto para Bolsonaro que sempre ganha tempo e procura alimentar e renovar sua visibilidade.
As esquerdas, isoladas na sua "bolha digital", acreditam que Lula está vencendo todas e acham que a vitória dele está certa na campanha presidencial de 2022.
Não, não está. Até porque a campanha nem começou e tudo pode acontecer.
Não é da natureza da boa competição ficar esnobando a terceira via. A atitude dos partidários de Lula em ficar ridicularizando adversários, além de arrogante, pode se voltar contra o petista.
Estamos num momento difícil e o Brasil não é o Instagram.
É fácil as pessoas com alguma inclinação progressista mostrarem fotos de pôr-do-sol, fazerem pose de meditação, publicarem frases bonitinhas de supostas lições de vida e achar que tudo é alegria.
Será que elas não sabem que, nas ruas de todo o país, existem pessoas vivendo em calçadas ou barracas de acampamento, tomadas pelo medo, pela raiva, pelo desalento e pelo acúmulo de traumas que leva muitos moradores de rua à loucura?
É fácil aplaudir de longe, nas redes sociais, os protestos dos povos indígenas. Ou aplaudir as ações do padre Júlio Lancelotti, com sua paciência em assistir moralmente a população da Cracolândia.
Difícil é se manifestar de verdade.
Os brasileiros identitaristas viraram um arremedo ruim da Contracultura de 1965-1970, porque naqueles tempos se protestava de verdade. E se ouvia música de verdade, também.
A "Contracultura de resultados" no Brasil fica em casa curtindo a memecracia e fica ouvindo porcarias brega-popularescas achando que isso é "combater o preconceito". Quando muito, supervalorizam coisas medianas como Emicida, Criolo, Anavitória e Melim.
É esse estado de espírito infantilizado das classes médias de esquerda que cria uma realidade paralela que só faz sentido dentro das redes sociais.
Como estou fora das redes sociais e não vivo "dentro da caixinha", vejo o antipetismo eclodir nas ruas, com gente sentido raiva doentia pelo Lula.
As esquerdas não estão com o jogo ganho e é preciso que elas tenham autocrítica e humildade. Ficar nesse clima de "já ganhou" pode resultar numa derrota repentina e vergonhosa.
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