Mais uma tragédia mostra o quanto, por trás da ilusão das redes sociais, há ambientes tóxicos que promovem estupidez e intolerância.
Anteontem, a cantora de "forró eletrônico" Walkyria Santos ficou chocada ao encontrar, sem vida, o filho do meio, Lucas Santos, de apenas 16 anos de idade. Ele era irmão de um rapaz de 20 anos e uma garota de 10.
Ela descobriu que o filho se suicidou porque foi severamente humilhado nas redes sociais, depois que publicou um vídeo no Tik Tok.
Mostrando senso de humor, Lucas fez uma dança em tom de brincadeira, sem qualquer objetivo senão o de divertir, e ele achou que os internautas iam achar graça do vídeo.
Só que Lucas foi surpreendido por ataques raivosos e depreciativos, de internautas ao mesmo tempo agressivos e sarcásticos, o que causou profunda depressão e agonia no rapaz, que, desesperado, tirou a própria vida, ao ver se expor de forma tão negativa aos olhos dos outros.
Walkyria ficou tão arrasada que não teve condições de ir ao enterro do filho, com sentimentos que misturam tristeza profunda e revolta.
É isso que está por trás do mundo da fantasia das redes sociais, desse enclausuramento social que faz muitas pessoas terem uma visão atrofiada do mundo, o que faz muitos serem intolerantes e burros, comandando os ditos "Tribunais da Internet".
Eu já fui vítima também de humilhações desse tipo, e eram nos tempos do Orkut, e vejo o quanto é chocante um adolescente sensível ter que tirar sua vida, diante de humilhações tão pesadas.
É horrível. E o pior é que nesse linchamento social, esse valentonismo digital (cyberbullying), não só os valentões e zoeiros de carreira participam.
Infelizmente, muita gente que costuma respeitar os outros e não é de fazer gozações, de vez em quando embarca em "linchamentos digitais" por simpatia ao agressor, que geralmente seduz os demais internautas por causa do seu jeito irreverente.
Sim, muita gente não enxerga a fronteira entre o senso de humor e o sarcasmo.
Muitos ainda não conseguiram entender quando eu denunciei o caso de Miranda Cosgrove, atriz do seriado iCarly, sobre dois vídeos violentamente ofensivos baseados numa suposta semelhança facial com Michael Jackson, explorada para fins claramente depreciativos.
Tem gente que, até por ser fã de Michael Jackson, acha isso "muito divertido", sem perceber o tom evidente de humilhante zombaria feita contra a atriz.
Vejo o quanto eventualmente ocorrem humilhações desse tipo, não raro com consequências trágicas, como o caso de Lucas Santos.
É coisa de um mundo fechado, exageradamente linear, das redes sociais que, mesmo situadas no século XXI, parecem que estão presas no século XIX.
Não percebem que existem pessoas diferentes, situações diferentes e atitudes diferentes, que não podem ser julgadas conforme a ignorância e o juízo de valor de qualquer um.
E esse ambiente tóxico permite que bolsonaristas fiquem por aí desafiando tudo e todos e expondo seu conhecido fanatismo em anbientes como Twitter, Facebook, Instagram etc, expressando um triunfalismo perigoso que ameaça dar um golpe no Brasil.
Bolsonaristas se acham no "direito" de demonizar quem bem entendem, e hoje o alvo são o Tribunal Superior Eleitoral e o Supremo Tribunal Federal, que se empenham em enquadrar Jair Bolsonaro em inquéritos por causa das ameaças de golpe nas eleições de 2022.
Por trás do mundo encantado das redes sociais, há muita histeria, fanatismo, ignorância arrogante (a síndrome de Dunning-Kruger) e outros defeitos humanos graves.
Por isso não frequento longamente as redes sociais. Pareço arredio, mas não quero ficar horas e horas só fazendo curtidas e comentários ligeiros. Apenas uso Twitter e Facebook em curtas sessões, só para fazer o estritamente necessário.
Fica meu profundo pesar com a morte de Lucas Santos e que sua mãe Walkyria, além de amigos e familiares, sejam amparados neste momento extremamente difícil.
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