Pular para o conteúdo principal

SÉRGIO REIS, EDUARDO ARAÚJO E O "SERTANEJO" QUE VIROU VIDRAÇA

ANTIGOS ÍDOLOS DA JOVEM GUARDA, OS HOJE "CAIPIRAS" EDUARDO ARAÚJO E SÉRGIO REIS FORAM VISTOS APOIANDO JAIR BOLSONARO.

O incidente de Sérgio Reis incitando os caminhoneiros a protestar contra o Supremo Tribunal Federal em defesa de Jair Bolsonaro e a aparição dele e de Eduardo Araújo ao lado do presidente queimaram muito a reputação dos dois cantores.

Sérgio e Eduardo foram grandes ídolos musicais da Jovem Guarda, respectivamente fazendo sucesso a partir de músicas como "Coração de Papel", de 1967, e "O Bom", de 1964.

Eduardo Araújo tem até um dado irônico, que é justamente o de sua letra de "O Bom": "Meu carro é vermelho / Não uso espelho pra me pentear".

Soa meio comunista para um cantor que foi visto, ao lado de Sérgio, saudando o pavoroso chefe do Executivo federal.

Se fosse hoje, o cantor poderia mudar os versos para "Sou verde-amarelo / Eu não me apelo pra me afirmar".

Nos últimos tempos, os dois músicos viraram "caipiras". Sérgio abraçou a música rural e Eduardo, a música country. Ambos terrenos frequentados pelo breganejo.

Sérgio Reis teve a reputação abalada de tal forma que ele passou mal e ficou deprimido. 

Mas primeiro ele teve que cometer das suas, não é desculpa ele ter 81 anos e agir como agiu. Por incitar a fúria bolsonarista, o cantor corre o risco de ser preso.

Gustavo Alonso, o "esquerdista" que elogiou Emílio Garrastazu Médici em entrevista-interação com Pedro Alexandre Sanches - ver Esses Intelectuais Pertinentes... - , disse que Sérgio Reis estava se tornando o "Wilson Simonal do sertanejo".

Menos, menos. Sérgio Reis tem seus méritos musicais, tem excelente voz e boas músicas, e "Coração de Papel", na gravação original, tem um acento que lembra um pouco Roy Orbison.

Mas Sérgio Reis apoiou Jair Bolsonaro e hoje está ressentido. Mas quando as circunstâncias favoreciam, lá estava o cantor apoiando as causas do presidente extremo-direitista.

Sérgio acabou sendo cancelado por vários músicos que iriam gravar um disco de duetos com ele: Maria Rita Mariano, Guilherme Arantes e Zé Ramalho, entre outros, cancelaram suas participações.

Em todo caso, o caso Sérgio Reis se somou a um monte de incidentes que fizeram o "sertanejo" virar vidraça, com seu reacionarismo evidente.

Até mais ou menos 2014, toda a música brega-popularesca era empurrada goela abaixo para intelectuais progressistas, sempre naquele papo furado do "combate ao preconceito".

Tudo que soava musicalmente medíocre e fazia sucesso nas rádios era defendido por um grupo de intelectuais surgido no escurinho do PSDB e empurrado para a pauta esquerdista, com o objetivo de evitar a volta de debates do nível do antigo CPC da UNE.

Mas aí ocorreram reviravoltas e boa parte da "fauna" brega-popularesca se revelou reaça. Inclusive o histérico antipetista Amado Batista, que curiosamente faz o mesmo tipo de música que Odair José, que se afirma apoiador de Lula.

Mesmo no "funk" teve que haver divisões, caindo por terra a valorização totalitária da música popularesca.

Enquanto nomes como Nego do Borel se revelaram reaças e o "funk carioca" se superexpôs, as esquerdas identitaristas passaram a se concentrar apenas no "funk ostentação" paulista.

Criou-se uma polarização na música brega-popularesca em geral.

De um extremo, o "sertanejo" ruralista, e outro, o "funk" das periferias.

Entre um e outro, ídolos "coxinhas" como Anitta, Wesley Safadão e Luan Santana, e centro-direitistas como Ivete Sangalo e Chitãozinho & Xororó (hoje conhecidos por uma composição do bolsonarista José Augusto, "Evidências") que as esquerdas identitaristas tentam atrair para seu apoio.

E isso quando a intelectualidade "bacana" fica um pouco fora de cena. Episódios como o "Procure Saber" e a crise do ECAD desgastaram a reputação de intelectuais festivos.

Só que essa polarização soa como dois lados de uma mesma moeda.

É só lembrar dos tempos do documentário Sou Feia Mas Tô Na Moda, de Denise Garcia, sobre o "funk", e a biografia dramatizada Os Dois Filhos de Francisco, de Breno Silveira, sobre a dupla Zezé di Camargo & Luciano.

As retóricas vitimistas eram rigorosamente as mesmas e ambos os filmes faziam parte de uma agenda de gourmetização da bregalização cultural, para enfraquecer a cultura popular e criar uma cortina de fumaça para o "escândalo do mensalão".

Era uma forma de desviar a atenção do povo e tentar desmoralizar Lula enquanto as classes populares se distraíam comovidas com o coitadismo brega-popularesco.

São caminhos dessa "indústria cultural à brasileira" da qual não existem pensadores críticos dotados de visibilidade e prestígio, num país cujo meio acadêmico é passador de pano e cujo mercado literário é tomado por obras que não têm compromisso algum em promover o Saber.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

ESQUERDAS CORTEJANDO UMA CANTORA IDENTITARISTA... MAS CAPITALISTA

CARTAZ DA BOITEMPO JUNTANDO KARL MARX E MADONNA NO MESMO BALAIO. O Brasil está tendo uma aula gratuita do que é peleguismo, com Lula fazendo duplo jogo político enganando o povo pobre e se aliando com os ricos, e do que é pequena burguesia, com uma elite de classe média abastada que aoosta num esquerdismo infantilizado, identitarista e indiferente aos verdadeiros problemas das classes trabalhadoras. As esquerdas mainstream do Brasil, as esquerdas médias, são a tradução local da pequena burguesia falada pela teoria marxista. Uma esquerda que quer soar pop e que, através dos “brinquedos culturais” que fazem do Brasil a versão vida real da novela das 21 horas da Rede Globo, quer o mundo da direita moderada convertido num pretenso patrimônio esquerdista. Isso faz as esquerdas soarem patéticas em muitos momentos. Como se observa tanto na complacência do jornalista Julinho Bittencourt, da Revista Fórum, com o fato da apresentação de Madonna em Copacabana, no Rio de Janeiro, não ter músicos e

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

O PESADELO GAÚCHO QUE DESAFIA O "SONHO BRASILEIRO"

O CENTRO DE PORTO ALEGRE COM ÁGUA QUE ATINGIU CINCO METROS DE ALAGAMENTO. Não há como sonhar grande. O risco de cair da cama é total. A terrível tragédia do temporal no Rio Grande do Sul é algo que nos faz parar para pensar. Isso é normal para um país próspero? Falta alguma consciência ambiental no nosso país? Até o fechamento deste texto, 56 pessoas morreram e vários estão entre feridos, desabrigados e desaparecidos. Porto Alegre, Caxias do Sul e Gramado estão entre as inúmeras cidades atingidas por chuvas intensas, vendavais, trovoadas e transborda de rios, entre eles o Guaíba. E nós manifestamos pesar sobre essa traumatizante ocorrência e solidariedade às vítimas. A situação é muito triste, mas não deixa de ser lamentável o oportunismo das subcelebridades, aspirantes a super-ricos, de oferecer doações milionárias para as vítimas das enchentes. Uma sociedade que, em condições naturais, quer demais para si e, egoísta, não quer abrir mão do supérfluo para ajudar o próximo a ter o neces

BRASIL NO APOGEU DO EGOÍSMO HUMANO

A "SOCIEDADE DO AMOR" E SEU APETITE VORAZ DE CONSUMIR O DINHEIRO EM EXCESSO QUE TEM. Nunca o egoísmo esteve tão em moda no Brasil. Pessoas com mão-de-vaca consumindo que nem loucos mas se recusando a ajudar o próximo. Poucos ajudam os miseráveis, poucos dão dinheiro para quem precisa. Muitos, porém, dizem não ter dinheiro para ajudar o próximo, e declaram isso com falsa gentileza, mal escondendo sua irritação. Mas são essas mesmas pessoas que têm muito dinheiro para comprar cigarros e cervejas, esses dois venenos cancerígenos que a "boa" sociedade consome em dimensões bíblicas, achando que vão viver até os 100 anos com essa verdadeira dieta do mal à base de muita nicotina e muito álcool. A dita "sociedade do amor", sem medo e sem amor, que é a elite do bom atraso, a burguesia de chinelos invisível a olho nu, está consumindo feito animais vorazes o que seus instintos veem como algo prazeroso. Pessoas transformadas em bichos, dominadas apenas por seus instin

FLUMINENSE FM E O RADIALISMO ROCK QUE QUASE NÃO EXISTE MAIS

É vergonhoso ver como a cultura rock e seu mercado radiofônico se reduziram hoje em dia, num verdadeiro lixo que só serve para alimentar fortunas do empresariado do entretenimento, de promotoras de eventos, de anunciantes, da mídia associada, às custas de produtos caros que vendem para jovens desavisados em eventos musicais.  São os novos super-ricos a arrancar cada vez mais o dinheiro, o couro e até os rins de quem consome música em geral, e o rock, hoje reduzido a um teatro de marionetes e um picadeiro da Faria Lima, se tornou uma grande piada, mergulhada na mesmice do hit-parade . Ninguém mais garimpa grandes canções, conformada com os mesmos sucessos de sempre, esperando que Stranger Things e Velozes e Furiosos façam alguma canção obscura se popularizar. Nos anos 1980, houve uma rádio muito brilhante, que até hoje não deixou sucessora à altura, seja pelos critérios de programação, pelo leque amplo de músicas tocadas e pela linguagem própria de seus locutores, seja pelo alcance do s