Vejam só as coisas.
A agora identitarista Cléo Pires deu uma entrevista para falar de coisas pessoais como... o chulé. Como se não bastasse sua obsessão por tatuagens e uma carreira musical que soa mais um pastiche brega da Lana Del Rey.
Por outro lado, vemos Valesca Popozuda, suposta militante feminista e, na prática, uma hasbeen, lançando uma música chamada "Presentinho" que fala sobre... sexo anal. Sempre as letras sexuais, essa monotemática que nem overdose de Viagra ajuda.
Isso tudo, pasmem, é fruto de um suposto conceito de "liberdade" que faz do jargão "gente como a gente" a coisa mais idiota e pejorativa à dignidade humana que existe.
Há outras "liberdades": consumir drogas lícitas e ilícitas, transformar cerveja (que eu, pessoalmente, detesto) em "mamadeira para adultos", se embriagar, falar besteira, fazer grosserias.
Tatuar o corpo é liberdade, perdendo horas e horas sofrendo dor e tendo o corpo apalpado por outras pessoas para garantir o "desenho perfeito"? Tudo para fazer o corpo virar um "mural humano"?
É liberdade também ouvir músicas ruins de ídolos musicais de talento de mediano a ruim, só por conta de catarses emocionais que não passam de desabafos vazios e nunca assumidos?
Isso tem mais a ver com permissividade do que com liberdade, pois muitas vezes os instintos não estão de acordo necessariamente com o que recomenda a consciência e a prudência de cada pessoa.
Esse imaginário mórbido é defendido a ponto de aquele que vier a discordar de tudo isso é alvo de linchamento virtual do Tribunal da Internet, igual ao que matou Lucas Santos, filho de Walkyria Santos, cantora de "forró eletrônico" (que detesto, mas nem por isso deixo de me solidarizar a ela).
E vamos combinar que essa "liberdade" que contamina as redes sociais criou condições para a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro e para o fortalecimento desta figura abjeta que preside nosso país.
E o pior não está apenas nos bolsomínions, mas nos pseudo-esquerdistas que, reacionários nas redes sociais, tentam disfarçar usando o apoio ao esquerdismo como guarda-chuva contra a chuva de críticas.
São bolsomínions envergonhados, mas bolsomínions do mesmo jeito. A diferença é que eles veem que o seu barco é furado e tentam tripular o navio inimigo para parecer "bem na fita".
Eu até pergunto sobre quem é mais o tipo bolsomina enrustida. Se é a Juliana Paes reaça desmentindo apoio a Bolsonaro ou Valesca Popozuda, amiga de bolsomínions e presença constante em programas "coxinhas" de TV, mas se autoproclama "esquerdista".
Que faz ser considerado "liberdade" todo esse imaginário sem graça, que não traz dignidade e só atende a instintos descontrolados das pessoas, que se acham "melhores" naquilo que têm de pior.
E é isso que também se guiou o tal "combate ao preconceito" que meu livro Esses Intelectuais Pertinentes... descreveu através dos exemplos da intelectualidade envolvida.
E aí eu paro para pensar.
Por que é considerado "liberdade" esse imaginário mórbido do hedonismo desenfreado, masoquista e um tanto escatológico?
E, do lado religioso, se considera a "liberdade" de se submeter ao dogmatismo "neopenteque" ou aderir a pretensos espiritualismos como cultuar um "médium" que fazia literatura fake e pregava que os oprimidos deveriam aguentar suas desgraças em silêncio, "sem queixumes"?
Será que isso é realmente livre? Considero que não.
Afinal, tudo isso tem mais a ver com o viralatismo brasileiro e com a inclinação masoquista que faz muitas pessoas se apegarem demais ao supéfluo, ao inútil e ao nocivo, a ponto de se irritarem quando aconselhadas a abrir mão disso.
É uma alegria tóxica, uma emotividade que parece serena e feliz quando tudo está de acordo, mas quando não está, se converte em fúria desmedida.
Essa "liberdade por baixo" é terrível e pode servir de gancho para movimentos autoritários cancelarem a liberdade, através do golpe contra a democracia proposto por Jair Bolsonaro, que já falou até em atuar à margem da Constituição.
Exalta-se tanto a "liberdade por baixo" que faz as pessoas autoproclamadas "livres" serem prisioneiras dos seus instintos, desde a obsessão em ser "diferente" pelas tatuagens até a obsessão pelo sexo compulsório do imaginário funqueiro.
E isso é ruim, porque dá à ideia de liberdade um conceito mórbido e que, no fundo, nada tem de livre.
As pessoas se escravizam em torno de um hedonismo desenfreado que não traz o verdadeiro prazer, porque ele foge, assustado com a morbidez das sensações tóxicas das emoções baratas.
Correndo atrás de um prazer que não existe, os hedonistas desenfreados acabam se tornando escravos de seus instintos, e se tornam arrogantes em suas convicções.
Daí que eu vejo arrogância nesse identitarismo "tatuado" de Cléo Pires e, no exterior, de Demi Lovato, que deixaram de ser elas mesmas para construírem personagens "ousadas" e "convictas" portadoras de uma liberdade postiça.
E é essa "liberdade" também que fez muitos jovens pateticamente organizarem o "deitaço" quando se solidarizaram com a Letícia Sabatella quando ela falou de um surto de embriaguez.
Só que são as mesmas pessoas que depois hostilizaram ou abandonaram a atriz quando ela se assumiu ideologicamente de esquerda.
Fico perguntando, a respeito dessa "liberdade", desse jeito decadente e autodestrutivo de ser "gente como a gente", qual é a daqueles que tanto defendem esse ideal?
Se contrapondo ao "ideal de liberdade" dos passeios de motocicleta de Jair Bolsonaro e sua turma, essa "liberdade" do hedonismo desenfreado, seja ninfomaníaco, alcoólatra ou "espiritualista", não passa de um outro lado dessa moeda anti-liberdade.
Porque é uma "liberdade" sem dignidade. Que apenas gera formas tóxicas de alegria e excitação. E que podem dar à ideia de liberdade uma péssima reputação, suficiente para que surjam passeatas que abram caminho para forças políticas autoritárias e repressivas.
E aí, nem mesmo a liberdade postiça do hedonismo desenfreado restará, a não ser em refúgios que acabam se tornando pequenos infernos.
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