A BURGUESIA, SEGUNDO LUÍS BUÑUEL.
Triste Brasil em que temos uma classe média, ou seja, uma mal-disfarçada burguesia, ditando as rédeas do senso comum que flutua nas redes sociais.
Se temos um culturalismo de esgoto, se abriram-se as portas para o bolsonarismo e se as esquerdas andam infantilizadas, é culpa dessa classe média que temos.
Ela é mais próxima da burguesia buñueliana, chique mas capaz de instintos miseráveis de envergonhar até os mendigos e os sem-teto.
Que diferença tem a esposa de um empresário-publicitário que se recusa a dormir com a própria filha, porque "está cansada", e a ex-atriz de novelinha infanto-juvenil fazer live sobre pretensas profecias de um "médium de peruca"?
Ou de atrizes, cantoras de MPB ou até de ex-radialistas de rock que recorrem a esse farsante "médium", conhecido por mais de 400 livros de PURA MENTIRA, para publicar frases de positividade tóxica?
Também, essa classe média não quer saber de livros comprometidos com o Saber, mas com a mistificação, com o escapismo ficcional dos romances de fantasia, medievais e dramalhões de mocinhas adolescentes, a anestesia "não" ficcional dos "livros para colorir" e as auto-ajudas de sempre.
Ou então as auto-ajudas fantasiadas de "coaching administrativo" e com palavrões nos títulos.
Essa classe média, por vezes cínica, por outras infantilizada, mas sempre idiotizada e mofada, está destruindo o Brasil.
A nata da MPB apoiando as canastrices musicais de bregas veteranos, exagerando no entusiasmo mais tendencioso, talvez na ânsia de tocar em Ouro Preto, Campos de Jordão, Poços de Caldas, Caldas Novas e Petrópolis, só possível se houver uma passada de pano na bregalhada musical.
E vemos o pessoal das esquerdas, também classe média e pequeno-burguesas, achando que Lula ganha fácil em tudo.
E, o que é pior: acreditando que a direita que deu o golpe de 2016 vai devolver os espaços que tirou dos esquerdistas.
Lula, entusiasmado com as alianças com o Centrão, e supervalorizando pequenas conquistas (ficha limpa no Supremo Tribunal Federal e vantagens virtuais nas pesquisas eleitorais), se distancia do Lula original que era mais combativo do que negociador.
Esse Lula negociador de hoje vai, com certeza, podar seu programa de governo, de tal forma que só vai restar o Bolsa Família como diferencial para um arremedo piorado de "terceira via".
Porque, a essas alturas, a "terceira via" tende a ser mais ousada do que Lula, até porque o terceiro-viável terá maior autonomia e liberdade de atuação, enquanto o petista sairá castrado pelas alianças condicionadoras.
E a classe média nem liga. Tanto fez e tanto faz para ela que Lula ganhe a imagem de "revolucionário" através de um Bolsa Família ainda mais paliativo.
A classe média, seja de esquerda, direita "isenta" ou bolsonarista, vive na órbita artificial do Instagram e outras plataformas de redes sociais.
A classe média vive bem e tanto faz se o povo pobre recebe como donativos cestas básicas que mal dão para um dia e meio - enquanto os "filantropos" festejam essa pretensa caridade por muito mais tempo, sem ajudar mais - ou se receberão R$ 600 ou um pouco mais que isso do Bolsa Família.
Mergulhada num culturalismo bocó, que cultua um hit-parade tão mofado que glorifica gringos de baixa expressão lá fora, como Johnny Rivers, Double You e Outfield, a classe média mostra o quanto é mais vira-lata que muitos cachorros ou gatos sujos de rua que só ficam revirando lixo.
Cultuam religiosos farsantes e ainda põem as mãos no fogo por eles. Defendem a bregalização cultural. Acham que é lindo (para os outros, não para a classe média ela própria) viver em favelas, viver de prostituição ou comércio clandestino.
Tratam o pobre como animalzinho doméstico. Acham que o papel do pobre é sorrir para "médium" charlatão quando recebe medíocres cestas básicas, ou rebolar ao som de "funk", sofrência ou pisadinha.
Mas quando o povo pobre faz passeata, ocupa fazendas improdutivas, bloqueia acessos em ruas e rodovias, pedindo melhores condições de vida, a classe média, mesmo a de esquerda, não gosta.
Quanta hipocrisia tem a classe média em geral. Nas esquerdas, é gente fingindo apoiar causas trabalhistas e movimentos sociais, mas têm o carrão do ano e matricula seus filhos para estudarem no exterior. Até parece que essa classe média "progressista" vive no século XVII!
Essa classe média que aqui temos não conhece a realidade de quem realmente vive a pobreza.
Não entende os dramas de operários, camponeses, desempregados, catadores de lixo, moradores de rua, pedintes de semáforos, prostitutas, favelados, viciados em crack.
Finge apreciar esses dramas, só para fazer lacração na Internet. Mas, encerrado o teatrinho social, vão para as redes sociais mostrar o Brasil cor-de-rosa que tem em Lula o ursinho de pelúcia de uma esquerda domesticada.
Um Lula felpudo, feliz em sentar no colo do MDB, do Centrão, do Geraldo Alckmin.
Um Lula que esqueceu que o golpe político de 2016 foi barra pesada, e que o próprio ex-presidente ficou preso. Em que pese o tratamento educado dos carcereiros, aquilo não foi hospedagem.
Ver Lula simbolizando essa classe média retrógrada, a mesma apegada em "brinquedos culturais" da direita midiática, esse culturalismo "social" de "núcleo pobre" da novela das nove da Rede Globo.
Uma classe média perdida em religiosidade, positividade tóxica, fanatismo por futebol, cerveja, "baseado", "médiuns", funqueiros, cantores de sofrência, brega vintage, gringos decadentes, e uma consciência social mais falsa do que uma moeda de R$ 3.
Vergonha. Essa classe média, com suas convicções e seu culturalismo podre, é que, sem querer querendo, está destruindo o Brasil e impedindo o país de crescer de verdade.
A classe média trocou a grandeza pela grandiloquência e sua defesa dos retrocessos culturais, sob desculpas como o tal "combate ao preconceito", permite que o Brasil, em muitos aspectos, esteja em situação pior do que há 60 anos!
Classe média vergonhosa, que merece um "r" entre o "é" e "d". E triste o Brasil que dá vez e voz para essas elites do baixo nível de esclarecimento, um verdadeiro baixo-clero sócio-cultural.
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