"PELA ESTRADA AFORA, EU VOU BEM CONTENTE / VOU VOTAR EM LULA PARA PRESIDENTE".
O que aconteceu com as esquerdas?
Deixaram de ser combativas, e agora acham que a direita moderada abriu caminho para elas.
As esquerdas dizem não fugir à luta, mas fogem, e de muito medo. Ficam brincando felizes na memecracia.
Trabalhadores se sentem isolados, abandonados, desde que Lula deixou de ser Lula para ser um cosplay de Dom Pedro II, com a segunda Lei Áurea chamada Bolsa Família, que como a lei abolicionista não resolve os problemas orgânicos da pobreza humana.
Servidores públicos protestaram, ontem, no Centro daqui de São Paulo, contra a reforma previdenciária municipal, e foram reprimidos com bombas de efeito moral pela polícia.
A situação está grave entre as classes trabalhadoras. E os moradores de rua sem ver a luz no fim do túnel, perdidos na sua moradia precária com barraquinhas de plástico que, além de não protegerem de maneira definitiva, se deterioram de tal forma que seus furos permitem goteiras.
Mas isso é só um aspecto. Se enumerar as tragédias dos sem-teto, daria um volumoso livro de mais de 400 páginas, isso se resumirmos o conteúdo para abordagens ligeiras dos casos principais em todo o país.
E os desempregados? E os retrocessos trabalhistas que fazem muita gente sofrer, com contas que se multiplicam e aumentam os preços, enquanto os salários se congelam, atrasam-se os pagamentos e já se fala em cortar até o básico na alimentação.
A hipocrisia a que sucumbiram as esquerdas no nosso país é coisa de envergonhar, mesmo.
Dominadas pela classe média, as esquerdas se perdem na ilusão de que "tudo está bem", a ponto delas acharem que a direita lhes concedeu não só o "parque de diversões" das redes sociais para se divertirem, mas todo o protagonismo político e histórico.
Que as esquerdas pecaram, dez anos atrás, ao acolher "brinquedos culturais" da direita - "médiuns espíritas", funqueiros, jogadores de futebol, mulheres-objetos etc - , como se o Brasil fosse o "núcleo pobre" da novela das nove da Rede Globo, já era de se preocupar.
O Mingau de Aço, meu antigo blogue, atuava solitário, como um patinho feio da blogosfera progressista, denunciando esse culturalismo que enganou muita gente boa de esquerda.
Mas se nas pautas culturais a coisa era de fazer careca arrancar os cabelos que não tem, nas pautas políticas e econômicas ainda havia um oásis de lucidez.
Hoje nem mais. A cada dia, as esquerdas decepcionam, e muito. E o motivo todo mundo já conhece: o deslumbramento sobe, a lucidez desce. Todo mundo, menos as esquerdas.
E isso ocorre até mesmo com as recentes tragédias, envolvendo a cantora Marília Mendonça, na semana passada, vítima de desastre aéreo, e, agora, a jornalista da Globo News, Cristiana Lobo, falecida por câncer na mesma semana em que a colega Lilian Ribeiro anunciou que está com a doença.
Em que pese o respeito que se deve ter a essas personalidades, houve exageros.
De repente, Marília Mendonça virou "gênio da MPB" e Cristiana Lobo, uma das "maiores jornalistas do Brasil".
As esquerdas esquecem que o "sertanejo" é uma música patrocinada pelos latifundiários e pelo agronegócio e que Cristiana Lobo foi uma das ferrenhas opositoras do PT e uma das porta-vozes do golpe político de 2016.
Respeitos, respeitos, negócios à parte. Mas isso as esquerdas não percebem. Elas viraram capachos da direita.
Mas de repente até Lula participa desse momento capacho que faz as esquerdas se tornarem extremamente frustrantes.
Lula quer que o futuro ex-tucano Geraldo Alckmin seja seu vice. E Lula chegou ao ponto de dizer que "dorme tranquilo" com essa ideia.
Geraldo Alckmin é ligado à Opus Dei e, mesmo se desligando do PSDB - ele pretende ir para o PSB - , não é um homem que se identifique com as causas progressistas.
Desconfio demais dessa vitória fácil demais a que Lula está, teoricamente, sujeito.
Num contexto com o atual, não existe vitória fácil para as esquerdas. O golpe político de 2016 ocorreu mesmo, e seu legado segue em frente, ameaçando transformar Correios, Eletrobras e Petrobras em subsidiárias de companhias estrangeiras.
Michel Temer vendeu satélites de monitoramento do céu brasileiro para os estrangeiros, o que significa que o Pentágono, nos EUA, está vendo tudo que acontece na política brasileira.
A base militar de Alcântara, no Maranhão, virou um pedaço do território dos EUA, onde se acompanha de perto as tramas políticas brasileiras. E já temos militares estadunidenses atuando em solo brasileiro.
Como é que as esquerdas estão achando que estão com o jogo todo ganho?
Lula ganhando fácil em tudo? Jair Bolsonaro caindo de podre? Terceira Via natimorta? Eu não acredito nessas ilusões. Paciência, sou de juntar peças de quebra-cabeças, não as aceito ficarem soltas por aí.
Se Lula ganhou fácil e tem o apoio dos que fizeram o golpe de 2016, é porque o petista cedeu, e muito, no seu programa de governo.
Seu governo será bem mais fraco do que o de 2003-2006, quando até o Casseta & Planeta zoava com a ideia de "governo de transição", que fazia Lula parecer um cosplay de Fernando Henrique Cardoso.
Pior: o novo governo Lula não será sequer a sombra do mandato de 2003-2006, que teve relativos avanços. E, aliás, Lula vai fazer governo de transição com quem? Com Paulo Guedes?
Sinceramente, as esquerdas causam vergonha. São as esquerdas "chapeuzinho vermelho", que passeiam felizes no bosque, seguras de que os caçadores do Supremo Tribunal Federal (STF) as protegem dos lobos maus do bolsonarismo.
Com esquerdas assim, até a terceira via soa mais esquerdista, com sua preocupação autêntica, ainda que limitada, com as causas trabalhistas.
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