O PONTO DE INTERROGAÇÃO SE DÁ PORQUE A RÁDIO CLUBE DE PERNAMBUCO AFIRMA QUE O PIONEIRISMO NO RÁDIO FM FOI SEU, NO ANO DE 1939.
O rádio FM morreu. Embora haja espectros de rádio FM no ar normalmente, assim como ainda há no agonizante rádio AM, devemos reconhecer que a Frequência Modulada acabou.
As frequências de FM anunciadas são mais como "nomes de fantasia", que servem de referência apenas para o mercado publicitário e para a "localização" das emissoras.
Mas o que temos hoje como "rádio FM" nos celulares são webradios.
O que temos hoje são rádios de Internet. O rádio FM apenas serve como um retransmissor, uma mera vitrine sintonizável nos hoje analógicos aparelhos radiofônicos. Mas não é mais geradora de programação.
Os radiófilos pelegos - que, a pretexto do hobby radiofônico, mais parecem porta-vozes dos empresários de mídia - podem até vir com textão dizendo que "o rádio FM continua vivo e vai viver sempre", podem vir com Tribunal do Umbigo aqui e ali, que não vão convencer.
Afinal, a realidade mostra que o rádio FM, hoje, se limitou a uma parte menor do que hoje se entende como "mídia multiplataforma".
Em outras palavras, se a "multiplataforma" é hoje uma loja de produtos comunicativos, a Frequência Modulada é tão somente uma vitrine.
Na prática, o que gera programação são as webradios, ou seja, rádios digitais, de uma natureza técnica bem diferente do rádio FM.
E mais: boa parte dos principais programas de rádio já estão transmitindo, com imagem, em canais do YouTube, onde se vê os estúdios onde esses programas estão sendo feitos.
O que significa que a "multiplataforma", na verdade, é uma combinação entre canal de TV digital nas redes sociais e rádio digital.
O rádio FM andou decaindo porque sucumbiu à ferocidade e voracidade dos interesses comerciais, e tentou levar a melhor na concorrência predatória com o rádio AM. A Amplitude Modulada acabou caindo e foi ainda sacrificada pelo lobby da telefonia móvel, que favoreceu o monopólio da FM.
Mas, como no caso do rapaz ciumento que mata a namorada e depois morre de infarto, a vitória do rádio FM sobre o rádio AM foi uma vitória de Pirro.
Com a concorrência predatória das FMs que abateram as emissoras AM, a programação da Frequência Modulada ficou menos segmentada, menos criativa e muito mais jabazeira e cruelmente comercial.
A Aemização de FM, que levantava a bandeira da "livre informação", prometendo cidadania, utilidade pública e conhecimento para o público, passou a ser uma arena abusiva de opinionismo pedante e de uma comunicação descontectada com o público.
Piadas ofensivas, jornadas esportivas cada vez mais chatas e insuportáveis, dublês de radiojornalistas posando de sub-prefeitos, isso fez a Frequência Modulada se tornar tão decadente quanto a TV aberta.
E, como se não bastasse, há demonstrações de bolsonarismo aqui e ali, com comentários machistas, racistas etc, até mesmo em programas esportivos de uma Energia 97 com audiência muito inferior do que os baixos índices de audiência da fase decadente da 97 Rock, há 27 anos.
E a Transamérica, com seus "robôs" (algoritmos feitos para repercutir artificialmente uma mensagem nas redes sociais), não convence de que continua em alta, até porque a emissora hoje mais parece uma rádio de aluguel para DJs de baixa expressão e dirigentes esportivos.
Aliás, ninguém conseguiu ter a coragem de desmentir o jabaculê esportivo nas FMs, quando o futebol rende mais propinas do que os sucessos musicais.
A coisa estava tão evidente que a única medida que foi feita foi criar um eufemismo e desviar o sentido da palavra "jabá" como um pretenso sinônimo para mershandising.
No exterior, já se anunciou o fim do rádio FM, a ser substituído pelo Digital Audio Broadcasting (DAB). Já se falou que o rádio FM irá desaparecer na Grã-Bretanha em 2025.
Rádio FM, hoje, é mais uma "maneira de dizer", uma "marca de fantasia" de emissoras cuja razão social está mais próxima de rádios digitais transmitidas a partir da Internet.
Devemos nos sintonizar a essa nova realidade.
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