Correto o encontro do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva com o presidente francês Emanuel Macron, em Paris.
Correta a cerimônia realizada para Lula, que foi recebido como chefe de Estado. Como ex-presidente, Lula tem esse direito de ser recebido desta forma, como personalidade importante que, de fato, é.
Devemos lembrar que Macron não é um político de esquerda, mas da direita moderada, e, curiosamente, serve de inspiração para boa parte da chamada "terceira via" brasileira.
Mas é correto Lula, que simboliza as esquerdas no Brasil, estabelecer diálogo com Macron?
Sim. E o entrosamento é corretíssimo.
Afinal, Lula, se conseguir, de fato, ser eleito presidente da República, terá que exercer diálogo com políticos divergentes.
Não há problema nisso, muito pelo contrário, porque esse diálogo irá exercer uma convivência pacífica que pode ser benéfica através de parcerias políticas, econômicas e até culturais.
Não existe problema algum em furar a bolha do esquerdismo e se aliar com uma parcela flexível da direita para viabilizar a vitória de Lula.
A bronca é que Lula não pode fazer alianças às cegas, porque o objetivo provisório de criar uma "frente ampla demais" contra Jair Bolsonaro pode funcionar por um tempo.
Mas, depois de conquistada a meta, virá a conta que terá que ser paga.
As alianças sem critério com qualquer direitista que manifeste alguma animosidade com Bolsonaro pode prejudicar o programa de governo de Lula.
Não estamos em 2002, quando Lula poderia se aliar até com a direita baixo-clero - da qual, ironicamente, integraram Bolsonaro, Eduardo Cunha, Marco Feliciano etc - , e nem em 1984, quando havia uma heterogênea frente ampla que pedia a redemocratização do país.
A situação é muito complexa e, mesmo quando se quer abrir o leque, é necessário cautela.
Daí o grande erro de Lula que afirmou que "dormirá tranquilo" com Geraldo Alckmin como vice, porque ele é "o único tucano que gosta de pobre".
Gosta? Foi sob seu governo que a comunidade popular de Pinheirinho, um bairro consolidado em São José dos Campos, no interior paulista, foi destruída em 2012, para atender a interesses de donos do terreno, que havia sido de uma fábrica abandonada.
Alckmin também é famoso por mandar reprimir protestos de professores, que pediam condições melhores de trabalho, incluindo salários.
Especialistas falaram recentemente que é muito arriscada a aliança entre Lula e Alckmin, em que pese a tese do petista ser visto como "moderado" e ganhar votos da direita, enquanto o futuro ex-tucano capitaliza com a popularidade do titular da chapa eleitoral.
Isso porque Alckmin ainda articula com a terceira via na corrida para o governo de São Paulo e, ligado à Opus Dei, seita católica neomedieval, e de perfil neoliberal, o futuro ex-tucano (que flerta com o PSD e o PSB) irá impor limitações ao projeto político de Lula.
A aliança não foi acertada, mas é necessário que Lula, se quiser ser eleito, tome muito cuidado com as alianças que fizer, senão seu projeto político se limitará a coisas paliativas como Bolsa Família.
Dialogar com os governantes neoliberais estrangeiros é bom para estabelecer relações amistosas com os mais diversos países no mundo.
Mas isso não é o mesmo que, no âmbito da corrida eleitoral, se faça alianças a torto e a direito (a), porque isso vai prejudicar, e muito, o programa de governo de Lula, que corre sério risco de se limitar às bases quase sempre rigorosas do neoliberalismo.
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