Um dos problemas que Lula não consegue enxergar é o apoio dos aproveitadores.
Sedento por apoios obtidos a torto e a direito (e à direita), Luís Inácio Lula da Silva não consegue ser estratégico, porque busca apoio até entre aqueles que podem botá-lo a perder.
A raiz do golpe de 2016 pode ter surgido, em certo sentido, em 2002, quando Lula foi apoiar o baixo clero da política brasileira e figuras oportunistas e originárias da ditadura militar, como Fernando Collor, Paulo Maluf e José Sarney.
Pode parecer estranho dizer hoje, mas, por causa dos partidos da base de apoio, Lula tinha como aliados ninguém menos do que Eduardo Cunha, Jair Bolsonaro e Marco Feliciano.
E isso soa mais bizarro do que ver hoje Marina Silva e Ciro Gomes, ex-ministros de Lula, serem seus atuais opositores. Mas é sério. Bolsonaro aliado de Lula não é fake news. O atual presidente era do PP, Partido Progressista, que era da base de apoio de Lula, no seu primeiro mandato.
Mas o grosso dos seus aproveitadores nem é esse pessoal que, na primeira tormenta política, desembarca de vez.
O maior perigo são aqueles oportunistas, vindos de uma direita neoliberal convicta, que se consideram "fiéis" a Lula e fingem serem "esquerdistas desde crianças".
A intelectualidade pró-brega, como Pedro Alexandre Sanches, ou o ex-político, oriundo da ditadura militar e hoje empresário e profissional de mídia Mário Kertèsz, o "astro-rei" da Metrópole FM de Salvador, são exemplos desse oportunismo.
Há também ídolos musicais popularescos, religiosos conservadores - como parte do "espiritismo" brasileiro e, até o primeiro governo Dilma Rousseff, os neopentecostais - , e alguns famosos que demonstram não serem tão progressistas assim.
E há pessoas ricas, como o empresário e DJ de "funk", Rômulo Costa, que viveu seus quinze minutos de fama posando de "marxista desde criancinha" na famosa festa de Copacabana em 17 de abril de 2016, para, depois do golpe, sair abraçado com golpistas.
E por que esse pessoal parece manifestar "apoio sincero e eterno" a Lula ou a quem estiver associado a ele? Porque descobriu sua paixão tardia pelo Socialismo?
Não. E nem é porque Lula não seja tão socialista assim, apenas voltando seu capitalismo a um reformismo humanitário.
O motivo é sempre esse: Lula é generoso na distribuição de verbas públicas e vários aproveitadores possuem empresas, coletivos, organizações não-governamentais e instituições filantrópicas, e a grana estatal pode inclusive dispensar os beneficiários de gastarem do próprio bolso.
As elites, muitas vezes, veem nessa situação como vantajosa, porque podem manter seus privilégios e deixar que o Estado custeie vários de seus projetos.
Ninguém está nessa porque viu o rosto de Karl Marx em algum livro ou página da Internet e o achou lindo e gostosão. E nem porque, necessariamente, ser de esquerda soa a coisa mais legal do mundo.
O pessoal pega carona em Lula porque quer ganhar dinheiro por fora. Essa é a verdade.
O problema é que Lula gosta desse apoio e imagina que sua causa progressista tem mais respaldo do que se imagina. Grande engano.
E aí Lula atua em função justamente de quem não compartilha com sua causa e só embarca na onda visando as conveniências do momento.
E isso tem o preço caro, do comprometimento do projeto de governo de Lula e a sabotagem que a Cultura sofreu com a atuação oportunista de intelectuais pró-brega treinados nos porões do PSDB.
Lula deveria ter sido seletivo na busca de apoio de gente "de fora", porque não dá para aceitar qualquer um que prometa a paz mundial, pague uma rodada de cerveja ao petista ou lhe dá um abraço e um sorriso efusivos.
É como numa metáfora envolvendo aves.
As galinhas podem obter apoio de patos, gansos e, sob certas condições, até mesmo com gaviões e urubus, para prevalecerem nos seus espaços no mundo animal.
Digamos que seja para combater a tirania de um lobo. O galo de briga pode articular apoio com um urubu ou um gavião, mas terá que recorrer à raposa para combater o lobo? Não.
O que Lula está fazendo se compara ao galo de briga que recorre justamente às raposas para recuperar o galinheiro e proteger galos, galinhas e pintos contra a tirania do lobo.
Não vai dar certo e Lula pode se envolver em uma enrascada no caso de ser eleito presidente da República.
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