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O CARÁTER TÓXICO E CONFUSO DA RELIGIOSIDADE


De vez em quando, na minha conta "clandestina" do Instagram - criada não para criar um perfil, mas para pesquisar páginas de meu interesse - , há uma invasão de mensagens religiosas como se fosse um enxame de marimbondos.

São mensagens de positividade tóxica, de motivação barata, sempre voltadas ao obscurantismo da fé e à submissão moral do ser humano.

Tenho que denunciar essas páginas, ora como "spam", ora como "golpe ou fraude", o que é um processo demorado, porque no feed aparecem cada vez mais novas mensagens.

Isso é horrível e já me deixou doente. Sério. Com corpo dolorido, dor de cabeça e crises de vômito.

A positividade tóxica das mensagens religiosas me causam mal-estar, até pela overdose de pretensos aconselhamentos que não servem para minha vida.

Não preciso desses aconselhamentos baratos e nem dou crédito a eles, porque se trata de um grandiloquente balé de palavras criado por gente que quase sempre não tem um pingo de humanismo.

Afinal, o que sobra de humanismo em palavras, falta em atitudes e consciências.

Ultimamente, vieram mensagens de seitas evangélicas, ligadas ao neopentecostalismo "clássico", oportunista mas menos histérico e hidrófobo que os "neopenteques" contemporâneos.

Mas já aparecem também as mensagens "espíritas", que também são um horror.

E o que se percebe nesse motivacionismo forçado é a contradição dos aconselhamentos morais, se juntar as diversas mensagens num conjunto da obra.

Misturando moralismo católico-espírita medieval com provérbios chineses, cria-se uma grande confusão que não decide se o cidadão comum deve valorizar sua autoestima ou considerar-se inimigo de si próprio.

De um lado, mensagens pedem para o sofredor "aguentar a barra", esperando o prêmio da "graça divina". De outro, mensagens "positivas" pedindo para viver a alegria do "hoje".

São coisas tóxicas, que para mim causam dor de cabeça e mal-estar.

Uma das mensagens de moralismo punitivista , atribuída a um pregador evangélico visualmente imitando o filósofo Aristóteles, pedia para "Deus me livrar do homem mau, que sou eu mesmo".

Mais tóxico do que isso, impossível. Quantos suicídios não podem ter acontecido com esse papo furado de "combater o inimigo de si mesmo"?

E isso não envolve só "neopenteques". O tal "kardecismo" de um "médium" picareta de Minas Gerais, pioneiro da literatura fake (que lesou autores como Humberto de Campos) e tão falsamente caridoso quanto Luciano Huck, falava para a gente "suportar o sofrimento sem queixumes".

Tínhamos que ser obedientes, subservientes, resignados, ou, no caso de batalhar por superação, darmos murro em ponta de faca, mesmo que a única consequência fosse uma mão encharcada de sangue.

E aí ocorre uma coisa absurda. Fala-se para não suicidar, cortando os pulsos etc, mas sangrar a mão pode, né? Mesmo metaforicamente, isso significa esmagar a alma com overdose de adversidades que traumatizam a alma e deprimem as emoções.

São coisas contraditórias que só fazem sentido para uma classe média burra, débil-mental, infantilizada e profundamente atrasada, tão atrasada que sua maior obsessão na leitura de livros inclui aventuras de cavaleiros medievais, só para sentir a sintonia cronológica dessas pessoas.

Num momento, somos aconselhados a suportar desgraças que crescem como bola de neve e que esmagam nossas almas, mas temos que ficar felizes e agradecidos com isso. Em outro momento, somos aconselhados a viver a alegria do dia a dia, dar bom dia para o Sol, para a Natureza etc.

Mas tudo isso incluído num clima de positividade tóxica, de ser alegre à força, de não se preocupar com os problemas dos outros e fingir que nossos problemas não existem.

Todo esse circo de horrores da fé religiosa é tenebroso, revoltante, e extremamente deplorável.

São coisas que em nenhum momento contribuem para o fortalecimento da alma, até porque nada fazem para minimizar nossas aflições, muito pelo contrário. 

Elas forçam a gente a nos alegrar com nosso próprio prejuízo, que nos faz levar sobressaltos e traumas todo dia, que nos força a suportar ameaças e perdas graves, e essas religiões ainda pedem para a gente sorrir e dizer "Obrigado, Deus, por tudo".

É tudo tóxico, por representar um moralismo que fede a mofo podre, como nesses lugares abandonados há anos, acumulando sujeira, fungos e ratos. É pior do que o mais sujo dos esgotos.

Não preciso desse palavreado todo como suposta receita de vida. Prefiro criar eu mesmo minhas receitas de vida, fugindo dessa fé tóxica que contamina, feito lodo, as redes sociais, deixando as pessoas reféns de um obscurantismo retrógrado, confuso e hipócrita.

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