A mídia progressista acordou ao ver o colunista Gustavo Alonso dando conta do seu recado.
Ele disparou comentários gordofóbicos e machistas contra a falecida cantora Marília Mendonça, o que causou repercussão negativa para alguém que estava a tiracolo da mesma intelectualidade "bacana" que tentou assediar as esquerdas, cerca de 10, 20 anos atrás.
Gustavo Alonso até surpreendeu ao criticar a voz de Marília Mendonça, ao definir que "ela nunca foi grande cantora", pois o carinha é autor do livro Cowboys do Asfalto, uma rasgação de seda no breganejo que divide com o "funk" a supremacia na música popularesca brasileira.
Agora colunista da Folha de São Paulo e entrosado com o espírito liberal-descolado do jornal, Gustavo Alonso selecionou várias críticas minhas ao universo popularesco analisado por ele no seu blogue.
Claro, ele é o "isento", o "correto", e age por vitimismo porque se preocupou com a forma física de Marília.
Eu também critiquei Marília Mendonça, acho sua música medíocre, mas nunca impliquei com a aparência dela e, como pessoa, eu a tratava com mais respeito. Não me incomodava essa ideia de ela ser gordinha ou se adequar aos padrões da boa forma.
Até critico comportamentos de famosos, mas não com o cinismo provocador de Gustavo Alonso.
Ainda mais quando ela ganhou peso após ter gerado o filho Léo, uma consequência natura da gravidez.
Quanto à questão do corpo e do feminismo, Marília foi alvo dos comentários machistas do colunista, acusada por ele de estar "afinada ao discurso de autoajuda da militância feminista atual".
Mas aí Gustavo Alonso, que, pelo jeito, não gosta de ser criticado sequer pela colega da Folha, Mariliz Pereira Jorge, se julga o "incompreendido". Só ele tem a razão, é o correto e ponderado.
Eu não procuro me considerar dono da verdade nem bancar o correto, a minha missão é apenas procurar a fidelidade dos fatos, a coerência de ideias e a juntar peças de quebra-cabeças que revelam realidades que poucos querem ver.
Gustavo Alonso também desconstruiu o mito de Wilson Simonal, dentro daquela "engenharia" ideológica de tirar os emepebistas do pedestal e colocar os bregas no lugar. Afinal, o cara é discípulo de Paulo César de Araújo, que o orientou em um projeto de pós-graduação.
Alonso também reagiu com ironia, certa vez, diante da famosa (e verídica) acusação de que o "funk" é ligado à CIA, dizendo que "gostaria que isso acontecesse".
Alonso é discípulo de Paulo César de Araújo, embora seu estilo provocador estivesse mais próximo do historiador mineiro Eugênio Raggi, outro "pensador bacana", só que sem o jeito "Luciano Hang" de agir do professor que vive na minha adorada Belo Horizonte.
Há uma entrevista, feita na brodagem, com o "bom esquerdista" Pedro Alexandre Sanches - outro membro da "santíssima trindade" intelectual onde se situa Araújo e Hermano Vianna - , intitulada "O Silêncio dos Inocentes".
Lembremos que uma das habilidades de Pedro Alexandre Sanches na sua histórica "campanha contra o preconceito" - ver Esses Intelectuais Pertinentes... - era, como repórter, fazer "entrevistas solidárias" com certos produtores e intelectuais envolvidos com a música popularesca.
Ou seja, um repórter que se envolve nos pontos de vista dos entrevistados. Certa vez, Sanches se solidarizou quando um produtor lamentou o porquê do Calcinha Preta não ter reconhecimento sério na Música Popular Brasileira, oferecendo o ombro amigo à choradeira pró-brega do entrevistado.
Essa choradeira do produtor lembra muito quando Hermano Vianna também lamentou o fato do É O Tchan não estar nas enciclopédias sérias de MPB. E olha que o É O Tchan está em uma das enciclopédias, pois brasileiro é tão bonzinho (e a gringa Kate Lyra foi boazinha com as funqueiras).
Na conversa com Gustavo Alonso, Pedro Alexandre Sanches, dentro do clima de brodagem com o entrevistado - que está para a Folha que revelou Sanches - , vemos uma coisa curiosa.
Gustavo Alonso se autoproclamava "de esquerda", na entrevista de 2011, mas estava "disposto a contestar mitos e dogmas acalentados desde a ditadura cívico-militar brasileira, seja à direita ou à esquerda.
Além de criar fake news sobre Chico Buarque, inventando que a imagem de "cantor de protesto" foi fabricada pela RCA italiana (?!), Alonso comparava o general Emílio Garrastazu Médici ao Lula, alegando que o presidente da ditadura era um "líder popular".
A conduta dele como colunista deixou a máscara cair. Afinal, seu "esquerdismo à moda da casa" se revelou inconsistente e falso, provando que Gustavo Alonso está mais próximo de ser um "Leandro Narloch" com chapéu de tutti-frutti.
Quanto ao meu esquerdismo, se eu não vou votar em Lula, mas na terceira-via, não é porque fiquei incoerente.
Continuo esquerdista e mais esquerdista que muito vermelhão de carteirinha, mas é porque eu vejo que Lula anda traindo a sua própria história, ao se aliar com os golpistas de 2016.
Não acredito nesse discurso de "aliança pragmática" porque isso vai prejudicar o projeto de governo de Lula. A causa da derrubada de Bolsonaro vai passar mas a conta por alianças flexíveis demais terá que ser paga.
Não vou votar em Lula para vê-lo governando de maneira vergonhosa, refém do mercado e do Centrão e limitando seus projetos sociais para o Bolsa Família, sem realizar um desenvolvimento sério e justo que cause impacto significativo na vida dos trabalhadores.
Devemos perceber que os trabalhadores em geral, assim como os desempregados e sem-teto, estão em situação de abandono, e não são paliativos de efeitos provisórios que irão trazer dignidade para suas vidas.
Daí que Lula, se aliando sem critério algum, como um galo de briga buscando apoio das raposas para recuperar o galinheiro, não merece meu voto. E continuo sendo de esquerda com essa postura crítica, diferente do Brasil-Instagram e do culturalismo em que se insere gente como Gustavo Alonso.
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