MARÍLIA MENDONÇA EM UMA DE SUAS ÚLTIMAS FOTOS.
Ontem eu tive um dia produtivo, conseguindo cumprir os compromissos pessoais.
No entanto, não terminei o dia alegre. Sensível, recebi a notícia súbita do falecimento de Marília Mendonça com choque.
Nunca fui fã nem vou ser fã da cantora, mas entendo o clima sombrio que é evidente numa tragédia assim. E respeito a dor dos que sofrem esse triste acontecimento.
Ela merecia viver muito, pelo menos quatro vezes o tempo de vida que alcançou, 26 anos.
Marília estava no auge da carreira, estava voltando aos palcos depois das restrições da pandemia, e iria estrear como atriz (neste sentido, ela se compara a Paulo Gustavo numa oportunidade perdida: o falecido ator não viveu para ser um protagonista de um drama).
Daí o profundo choque, e eu e meu irmão ligeiramente passamos por um bar e o Brasil Urgente de José Luiz Datena falava em "pessoas que viram uma aeronave" e eu nem sabia do que se tratava.
Eu imaginava que era uma notícia de aparições extraterrestres.
Mas não era. Era o acidente mais recente que comoveu o país, calando a voz de um dos maiores ídolos musicais da atualidade.
Não vou gourmetizar a música de Marília Mendonça, que considerava medíocre, e que se insere no comercialismo da música brega-popularesca. Também não vou fingir acreditar que ela foi uma "revolucionária da MPB" como parte da mídia exageradamente definiu a cantora breganeja.
Neste sentido, a MPB já teve duas Marílias mais representativas, a Marília Medalha e a Marília Barbosa.
Mesmo assim, a morte de Marília Mendonça não foi justa. Bem ou mal, ela tinha muitos fãs e, acima disso, tinha familiares e amigos. Era uma pessoa muitíssimo querida, e muito jovem.
Um filho, Léo, do relacionamento com Murilo Huff, é o maior afetado da tragédia, pelo fato de se tornar órfão aos dois anos de idade. Se eu, que perdi minha mãe aos 48 anos, sinto a dor da perda, imagine um menino ainda muito pequeno.
A morte de Marília Mendonça expôs todo o clima de pressões e descasos que está por trás do comercialismo da música brega-popularesca.
Ela iria se apresentar em Caratinga, cidade do interior de Minas Gerais que conheci de passagem, nos trajetos entre Rio de Janeiro e Salvador.
Não houve um preparo para verificar o trajeto nem em realizar uma manutenção rigorosa no avião bimotor King Air da Beech Aircraft, fabricado em 1984, portanto um avião já considerado velho, embora autorizado a fazer táxi aéreo pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).
A irresponsabilidade da empresa que ofereceu o transporte de Marília Mendonça era tamanha que até a caixa preta, aparelho necessário para gravar as vozes do interior de um avião, não foi instalada. Grande descaso que contribuiu para a terrível tragédia que interrompeu a vida da cantora.
Além disso, também não houve empenho das autoridades mineiras quanto às instalações irregulares de torres de transmissão e de fiações elétricas que impedem o pouso dos aviões na região de Caratinga.
O acidente ocorreu por volta de 16 horas. Apesar das primeiras informações alegarem que todos os ocupantes estavam vivos e bem, depois se confirmou o contrário: todos morreram.
Além de Marília, faleceram o tio e assessor Abicieli Dias, o produtor Henrique Ribeiro, o piloto Geraldo Medeiros Jr. e o copiloto Tarciso Pessoa Viana, ambos considerados experientes.
A pressão toda, portanto, impediu que se desenvolvesse um trabalho preventivo para contornar os imprevistos que provocaram a lamentável tragédia.
Seria preferível um atraso de algumas horas para ela chegar a Caratinga, e creio que isso nem afetaria o horário de apresentações, que seria no fim de semana.
E essas pressões são comuns, o que força haver tantos acidentes de trânsito, que não raro matam ou ferem membros das equipes técnicas e até os próprios músicos.
Ficam aqui meus lamentos profundos por tamanha tragédia, dados tardiamente, até pela dificuldade de eu escrever um texto como este e só o ter escrito após o sepultamento da cantora.
E fica aqui também minha solidariedade aos amigos e familiares que sofrem esse momento difícil.
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