Há pessoas que têm mania de despejar um monte de mensagens religiosas nas redes sociais.
Um monte de palavreado bonito, memes que, às vezes, mostram ilustrações fofas.
Mensagens de suposta motivação, que entram em contradição entre si.
Umas pedem para fortalecer a autoestima, outras alertam que o indivíduo é inimigo de si mesmo.
Mensagens pretensamente sábias, mas que mais parecem recados obscurantistas de moralismo religioso.
Isso me abateu e me fez ficar estressado, a ponto de ter que dormir no final de uma manhã para recuperar minha saúde mental.
Afinal, essas mensagens são um monte de palavreado que nada servem para a prática cotidiana. Porque são palavras em overdose, como se fosse gente chata dizendo o tempo todo o que você tem que fazer.
Perfis que vão desde denominações hipócritas como "mensagens lindas" até perfis ligados ao Espiritismo brasileiro, religião que tenho a felicidade de ter abandonado, despejam mensagens que refletem essa positividade tóxica.
Eles se contradizem porque despejam um monte de palavras, textos, livros, vídeos etc, achando que têm nas mãos a receita que, em seus juízos de valor, determinam para as pessoas sofredoras.
Mas pedem para o sofredor ficar em silêncio, esperando o socorro de um ente controverso como "Deus", do qual não se sabe cientificamente se existe ou não e como realmente seria.
São canais que, volta e meia, despejam na minha conta "clandestina" do Instagram, a qual uso para fins de pesquisa e algum entretenimento.
O feed principal, que aparece na forma de um monte de quadradinhos amontoados entre si, eventualmente aparece com muitas mensagens tóxicas relacionadas aos mesmos "ensinamentos religiosos" de sempre: sofrimento, misericórdia, amor, paz etc.
Tenho que clicar uma a uma para denunciar como "golpe ou fraude" ou como "spam" e imediatamente bloquear o respectivo perfil de cada mensagem.
Tem até mensagem do "médium de peruca", o vigarista que foi pioneiro da literatura fake, foi o religioso que mais apoiou a ditadura militar e é glorificado por uma "caridade" que ninguém viu nem há provas, mas que todos aceitam como uma "verdade absoluta".
Uma dessas mensagem têm o título de "perdão", e eu, sem medo de ser impiedoso, botei para denunciar como "golpe ou fraude" e bloquear o "iluminado perfil".
Estou sendo cruel com isso? Creio que não.
Afinal, o que sobra em palavras falta em atos. Temos "caridades paliativas" realizadas há décadas, com doações de mantimentos, remédios, roupas etc, que nunca fizeram a pobreza desaparecer do Brasil.
Mas os supostos benfeitores, mesmo sem provocar resultados significativos, são glorificados, recebendo aplausos muito mais numerosos para a pouca ação que realizaram.
Essa positividade tóxica das mensagens religiosas é um reflexo dessa burrice da classe média que perde todo o tempo brincando nas redes sociais.
Elas mesmas sentem positividade tóxica. O Brasil está à beira do abismo, o golpe político de 2016 e as convulsões sociais estão estourando, e uma parcela da sociedade achando que "está tudo bem".
E isso inclui as esquerdas, pasmem, que acham que, do inferno bolsonarista, chegaremos ao paraíso lulista sem escalas, enquanto as condições mostram obstáculos intransponíveis.
Mas aconselhar quem sofre a aceitar os obstáculos ou a fazer força acima de seus limites para superá-los é fácil, para quem está no seu conforto.
Fácil despejar uma overdose de "mensagens de motivação" que mais deprimem e irritam do que consolam, porque elas nem de longe resolvem a questão do sentimento humano.
Dizer que fulano é "inimigo de si mesmo" só aumenta ainda mais o risco dos suicídios que os religiosos dizem tentarem evitar.
Forçar a pessoa que sofre a acreditar que tudo está bem, que a desgraça que a pessoa sofre é culpa dela mesma, que "Deus é bom em tudo e a pessoa é que se deixa ser ruim consigo própria" são falsos conselhos que depreciam ainda mais a pessoa.
Isso é horrível. E não vou voltar para esse Espiritismo brasileiro ou outra seita que se valha pela positividade tóxica, como se quisesse vender esperança em troca do sacrifício do outro.
Fico simplesmente revoltado com isso, mas compreendo o espírito do tempo, porque as redes sociais viraram um antro de burrice, retardamento mental e obscurantismo, dos quais poucos internautas têm o cuidado de fugir, como exceções à regra.
Prefiro buscar soluções comigo mesmo, pensando na vida e analisando o que eu posso fazer para superar minhas dificuldades.
Não preciso de falsos amigos que mandam memes de "motivação" e "espiritualidade" que, para mim, têm o peso de uma avalanche de textões, com tanta quantidade que me é enviada pelo algoritmo do Instagram.
Essas mensagens mais me estressam, me aborrecem, me irritam, até pelo fato de alguns mensageiros - como o tal "médium espírita" - terem sido, em vida, pessoas hipócritas e desumanas, sob a sombra de suas caridades fajutas que mais rendem idolatria do que mudanças sociais.
É por isso que o Brasil não vai para a frente. As virtudes humanas se tornam prisioneiras das palavras e dos atos de fachada, prejudicando seriamente a essência da generosidade humana, e só servindo, nas redes sociais, para obter lacração e monetização para os perfis pessoais e institucionais envolvidos.
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