UMA CONSIDERÁVEL PARCELA DOS BRASILEIROS INVESTE EM POSITIVIDADE TÓXICA, ACHANDO QUE TUDO VAI BEM QUANDO AS COISAS VÃO MAL NA REALIDADE.
Anteontem senti um mal-estar e tive que ficar de cama.
Corpo dolorido, enjoo, dor de cabeça, perda de apetite e vômito.
O estresse do dia anterior, quando fico vendo as redes sociais um otimismo fora da realidade.
Desde o golpe contra Dilma Rousseff, em 2016, via a positividade tóxica crescer.
Que isso fosse um fenômeno exclusivo dos antipetistas histéricos, vá lá. Mas ver que a positividade tóxica contaminou até pessoas com algum nível de progressismo, mesmo não necessariamente esquerdistas, é de deprimir.
Estava deprimido quando sofri o mal-estar. Não é assim que eu queria que fosse o Brasil.
Estamos à beira de uma catástrofe sócio-política, e no entanto tem gente feliz, achando que tudo está bem, que o Brasil está vivendo "a melhor fase de toda a sua História".
A alienação social é assustadora, e vinda de gente que se supunha com algum esclarecimento.
É deprimente ver essa alegria sem motivo.
Uma coisa é lutar para conquistar melhorias, brigar por uma sociedade melhor.
Outra coisa é cruzar os braços numa situação terrível e fazer de conta que está tudo bem.
A segunda ideia é que acontece. As pessoas estão achando que está tudo bem. Mas não está.
Os bolsonaristas estão empoderados. As convulsões sociais explodem como nunca. Os retrocessos trabalhistas não foram revertidos.
A única coisa retirada da chamada reforma trabalhista foi quanto à cobrança de dinheiro do trabalhador que perdeu um processo movido contra seu patrão.
O trabalhador não precisa pagar o que não tem para custear advogados ou para indenizar o patrão que tiver sua causa ganha na Justiça.
Mesmo assim, até as esquerdas estão felizes. Fico desconfiado com essa facilidade exagerada com que Lula se coloca como favorito na corrida presidencial.
Pessoas que haviam sido lúcidas no âmbito dos textos políticos, de repente, passaram a fantasiar, na paranoia de ver Lula ganhando na marra a campanha para a Presidência da República.
Daí que Lula perdeu meu voto. Não vejo firmeza nele. E ele nem atua como líder, de vez em quando ele some por uns dias. E o que ele promete não tem aplicação prática na realidade.
As classes médias dominaram as esquerdas, mas isso é uma parte de um Brasil apodrecido representado por essas pessoas remediadas.
A classe média, em geral, da bolsonarista à lulista, mas incluindo os "isentos" e "descompromissados", está velha, apodrecida, decadente.
Ela é que permite que o Brasil sucumba a bregalização cultural, à idiotização intelectual, ao ilusionismo religioso.
De funqueiros a "médiuns", passando por subcelebridades, breganejos sofrentes e terraplanistas jornalísticos (tipo Alexandre Garcia, Monark, Rodrigo Constantino, Ana Paula Henkel e Caio Coppola), há todo um imaginário fedendo a mofo tóxico ou esgoto.
É um quadro cultural tão decadente que causa vergonha. E depressão, muita depressão.
No momento que escrevo este texto, estou me recuperando. Mas o cenário sócio-cultural brasileiro, por conta dessa classe média viralatista, abalou minha saúde mental, refletindo para o lado físico.
Isso porque a realidade não confirma as ilusões convictas da positividade tóxica. E, no entanto, a classe média viralatista insiste que suas ilusões não só são a sua "realidade" como têm que se impor a todo tipo de realismo.
A ilusão de que temos que fingir que somos felizes, porque assim o sofrimento vai embora, é a tônica desse momento que só é "maravilhoso" para quem está bem de vida e pode passar horas e horas interagindo nas redes sociais.
É fácil, para o jornalista cultural "isentão", falar que "estamos vivendo o melhor dos tempos", porque "temos muitas vozes e muitas narrativas".
Ele, que elogia as breguices que vão de Waldick Soriano a MC Don Juan, em troca daquele festival de inverno que terá Marisa Monte como atração principal, pode comprar o CD de uma apresentação raríssima de Nina Simone, ao vivo em algum lugar nobre.
Mas o cidadão comum vai ouvir bregas "de raiz", funqueiros etc.
O que assusta é que as pessoas ditas "cultas" já estão exaltando o tal brega vintage, tipo Michael Sullivan, Alexandre Pires, É O Tchan, Chitãozinho & Xororó e outros nomes da canastrice musical brasileira.
As baixarias de outrora agora são "clássicos", neste tempo em que o viralatismo cultural atinge níveis insustentáveis.
Antes se fugia para as universidades e espaços culturais para apreciar algo de qualidade, ia para as livrarias para ler coisas relevantes.
Hoje não. E até quando há alguma vida inteligente no Brasil, ela desmorona quando, entre outras coisas, se evoca um asqueroso "médium de peruca", famoso por uma caridade que ninguém viu nem há provas, mas que é defendida como se fosse uma "verdade absoluta".
O "médium", por ser um pioneiro da "literatura fake" - seu "Humberto de Campos", por exemplo, está muito aquém do original - , já é um pedaço de burrice que as pessoas com alguma inteligência acabam se rendendo.
E, ao se renderem, demonstram também uma parcela de burrice que contamina a maioria dos brasileiros.
E tudo isso movido a positividade tóxica, à ilusão de que tudo está bem, uma alegria sem motivo, uma felicidade imposta na marra, que reflete, também, na MPB carneirinha de Melim, Anavitória, Vítor Kley, Tiago Iorc e outros.
O Supremo Tribunal Federal rejeitou o pedido de cassação da chapa Jair Bolsonaro-Antônio Hamilton Mourão e era para os brasileiros correrem gritando de pavor e arrancando os cabelos.
Mas não. Está tudo bem, está tudo maravilhoso, "existem muitas vozes e muitas narrativas" movimentando o "Brasil das maravilhas" nas redes sociais.
E o que mais decepciona são as esquerdas e, particularmente, o Lula, que do leão valente que se esperava que se tornasse, preferiu ser um ursinho de pelúcia a acompanhar o sono feliz do Centrão.
Espero não ficar mais doente. Creio que vou recuperar minha saúde. Até porque tenho muita certeza que o Brasil está mais doente do que eu.
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