LULA NÃO SAI DO SEU PEDESTAL.
A realidade é que Lula está tomado de muito estrelismo. Deixou de lado o trabalho de gestor, bem menos audacioso do que sua propaganda fala, mas de certo modo esforçado, para criar um governo de simulacros, de mentiras, de ilusões, favorecendo mais a formação de uma elite festiva, voltada ao consumismo hedonista, e que se torna uma classe que está se enriquecendo de forma abusiva e exorbitante, agravando a pobreza, o desemprego e o abandono de quem não se ajusta a essa festa do "Brasil único", um "único país" onde uns são mais únicos do que outros.
O mais curioso é que Lula, que age mais como um malabarista da palavra, pede para seus seguidores saírem do pedestal e do clima do já ganhou, mas o próprio presidente brasileiro não observa que ele mesmo é o primeiro a agir assim, preso no seu pedestal e não querendo sair dele. Tão tomado pela vaidade e pelo triunfalismo, Lula erra na medida em que, mesmo se considerando democrata, age com rigoroso personalismo que permite aos opositores lhe definirem como um "ditador".
Mais preocupado com o Sul global, Lula ainda vem com frases óbvias, e mais uma vez falou o seguinte, sobre a invasão de fascistas equatorianos na embaixada do México, em Quito. "Isso é inadmissível", disse, o que soa algo como chover no molhado. A "filosofia" de Lula fica sempre no clima do "o livro está na mesa", uma coisa cheia de obviedades. "A guerra não constrói, só destrói" é uma das obviedades mais previsíveis e, de certo modo, tolas, porque ninguém promove guerra para construir alguma coisa, os poderosos promovem guerra para destruir, mesmo.
Lula não faz autocrítica, não houve conselhos nem avisos, quando decide fazer alguma coisa precipitada ninguém consegue lhe impedir, e o presidente brasileiro parece cada vez mais distante do povo, diferente da cumplicidade com as classes populares que se deu até a prisão em 2018. Hoje Lula voltou estranho, e torna-se difícil convencer os brasileiros de que Lula continua o mesmo que antes, pois o torneiro-mecânico tornou-se pelego para valer, mais disposto a ouvir a direita moderada, incluindo o empresariado e os políticos fisiológicos, do que o povo brasileiro ou mesmo seus parceiros de lutas sindicais e das bases do PT. E isso acaba tendo como preço a queda de popularidade que tomou de surpresa o petista, que agora prefere chorar as mágoas com as autoridades estrangeiras.
Fora da bolha lulista, a decepção do povo pobre - o verdadeiro povo pobre, não o "pobre de novela" dos discursos e propagandas de Lula - é tão grande que a rejeição de Jair Bolsonaro e de Lula praticamente se equiparam em um grande repúdio, uma enorme desilusão que não pode ser desmentida pelos textões que os lulistas, lá dos seus sofás confortáveis, publicam para alegar o "absurdo" dessa constatação. Assim como estrelas caem, assim como roqueiros podem decair, Lula também decai, e isso é fato. Paciência, Lula não é o centro do universo, não giramos em sua órbita e nem Lula é o único que, mesmo errando muito, acerta sempre.
Tudo parece fácil demais, mas não é. O festejado afastamento, por determinação do Conselho Nacional de Justiça, dos juízes Gabriela Hardt e Danilo Pereira da Operação Lava Jato foi depois revertida, após protestos da classe jurídica em Curitiba. Ou seja, o Brasil não é um conto de fadas do Papai Noel identitário e festivo da Faria Lima.
Enquanto isso, seguem os preços caríssimos, os critérios injustos de emprego - envolvendo sobretudo etarismo, extroversão e a equação difícil entre a juventude e a experiência - , um quadro sociocultural completamente devastado (e que não será resolvido com chuvas de dinheiro do Ministério da Cultura). Lula já nem fala em metas de superávit, mas de atingir déficit zero. E isso lançando mão até nos cortes financeiros a educação básica e ao ensino superior. Por outro lado, os empresários do entretenimento estão nadando em dinheiro, arrancando dinheiro de jovens despreparados para evitar as armadilhas do consumismo cego e irresponsável. A concentração de renda tornou-se pior no governo Lula 3.0.
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