A queda de popularidade de Lula traz uma lição bastante óbvia: não se pode viver às custas do mito nem do carisma, condições que são obtidas através de algum êxito que, espera-se, tenha sido fruto de algum trabalho significativo.
Diferente de um governante que, entre 2003 e 2010, até teve um bom fôlego de gestão e trouxe bons resultados para o Brasil, Lula no atual mandato deitou na cama depois da fama. Desperdiçou lágrimas à toa, feito um bebê chorão no palanque pedindo votos urgentes para ele por causa do combate à fome e da reconstrução do Brasil. Quando foi eleito, preferiu adiar essas prioridades e viajar para o exterior. Isso me revoltou como cidadão, sinceramente.
Lula voltou piorado. Eu antes acreditava e apoiava ele, considerava que ele cuidaria de maneira exemplar das medidas para reduzir os efeitos trágicos da Covid-19. Ouvia as entrevistas dele na prisão com prazer. Já cogitava, em 2020, votar em Lula para presidente. Sei que estou repetindo esse discurso, mas é para enfatizar e, talvez, viralizar uma ideia em textos diferentes.
O problema é que Lula passou a se aliar com gente oposta ao seu projeto político original. Fez tantas concessões à direita que Lula teve que apelar para um eufemismo que se tornou até o lema de sua campanha: "democracia". Se um pelego que iria lutar pelos trabalhadores se rende aos patrões, isso é visto como "democrático". O mesmo quando se dá aos pobres sem tirar muito dos ricos.
Na última semana, Lula, em crise de popularidade, se encolheu e, em termos de visibilidade, se recolheu. Isso é humilhante. Mas Lula tentou começar o atual mandato se agigantando demais, querendo ser, primeiramente, o líder mundial, a influir na paz na Ucrânia e no Oriente Médio, empolgando seus seguidores que sempre viram no assunto da Palestina como se fosse uma pauta brasileira.
Não se começa um terceiro mandato dessa forma, ainda mais quando se pretende reconstruir o Brasil. Lula deveria ter começado cauteloso, nunca investindo em clima de festa, como uma equipe de cirurgiões nunca entra em clima de folia antes de operar um doente crônico. Lula deveria ter ficado no Brasil e aproveitar do nosso patrimônio natural para gerar riqueza interna, pois dá para obter recursos financeiros explorando nossas riquezas para comercializar dentro e fora do país.
Em vez disso, Lula exagerou no clima de festa, nas viagens ao exterior, no espetáculo, na propaganda, na promoção pessoal e no simulacro. Faz promoções de temporada, como quedas provisórias dos preços de carnes, automóveis e de passagens de ônibus, negociações breves de dívidas financeiras de brasileiros, e diz que está fazendo justiça social.
A decepção de Lula tornou-se evidente. E isso o fez perder apoio como um caminhão furado que perde a areia pelo caminho. E isso, na narrativa oficial, é em tese impossível, mas tornou-se uma realidade indiscutível, com a oposição a Lula ultrapassando os limites facilmente identificáveis do bolsolavajatismo.
Para reverter a baixa popularidade, Lula veio com uma medida corretamente prioritária e outra secundária, decidida em reunião ministerial na última quarta-feira. A medida prioritária é um pacote para reduzir as contas de luz e a outra, mais redução das viagens de avião. Se bem que isso cheira a mais uma promoção de temporada, como se Lula fosse um gerente de loja de departamentos e não um governante.
E aí a vida se segue com apenas a classe média abastada sentindo os "bons ares" da democracia lulista. Uma democracia em que um decide e outros vão festejar, brincar e consumir. Uma bolha de plástico que pensa ser o universo, enquanto a vida real dos oprimidos é condenada a ser sempre "um mero detalhe sem valor".
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