Governo Lula continua decepcionando. Três casos mostram isso e se tratam de fatos, não mentiras plantadas por bolsonaristas ou lavajatistas. E algo bastante vergonhoso, porque se trata de frustrações dos movimentos sociais com a indiferença do Governo Federal às suas necessidades e reivindicações.
Além de ter havido um quarto caso, o dos protestos de professores contra os cortes de verbas para a Educação, descrito aqui em postagem anterior, o governo Lula enfrenta protestos dos movimentos indígenas, da comunidade científica e dos trabalhadores sem terra, lembrando que o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) já manifestou insatisfação com o governo e afirmou que iria protestar contra ele.
O presidente Lula, ao lado da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, assinou, no último dia 18, a demarcação de apenas duas terras para se destinarem a ser reservas indígenas, quando era prometido um total de seis. Aldeia Velha (BA) e Cacique Fontoura (MT) foram beneficiadas pelo documento, mas outras quatro ficaram de fora, com a demarcação adiada por tempo indeterminado: Morro dos Cavalos (SC), Potiguara de Monte-Mor (PB), Toldo Imbu (SC) e Xukuru-Kariri (AL).
Lula, constrangido, afirmou a respeito do adiamento:
"Sendo muito verdadeiro com vocês, sei que estão com certa apreensão, porque imaginavam que iam ter notícia de seis terras indígenas assinadas por mim. Nós decidimos assinar só duas, sei que isso frustrou alguns companheiros, mas eu fiz isso para não mentir para vocês. Fiz isso, porque temos um problema e é melhor tentar resolver problema antes de assinar".
Os movimentos indígenas não se sentiram convencidos com a fala de Lula e, do contrário que ocorreu no ano passado, quando o principal evento dos povos indígenas, o Acampamento Terra Livre (ATL), recebeu o presidente brasileiro, este ano o encontro não convidou o chefe do Executivo federal. As tribos indígenas cobram do Executivo e do Legislativo federais maior agilidade e atendimento às reivindicações desses povos, como garantia de seus direitos, inclusive a celeridade das demarcações.
A realidade dos conflitos de terras, que já massacrou vários indígenas, sem poupar sequer crianças, mulheres e idosos, também atinge camponeses e a política de reforma agrária de Lula, que em mais uma canetada não conseguiu realizar grande coisa, não consegue enfrentar o problema do latifúndio, um dos setores sociais de maior concentração de terras e bens no Brasil.
O coordenador nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entidade maior da Igreja Católica, Carlos Lima, não gostou da forma como Lula promoveu a reforma agrária, assinando um documento beneficiando 295 mil famílias de agricultores que receberão o benefício até 2026.
Lima não vê na medida o enfrentamento de problemas graves como o latifúndio, cujo poder promove a violência no campo, que causa mortes de muitos camponeses no interior do Brasil. Disse o coordenador da CPT, acusando o governo Lula de não se interessar pela reforma agrária:
"Eles não apresentaram um plano para a reforma agrária. O que Lula apresentou agora, a chamada prateleira de terra, não é um plano. Muitas dessas terras estão sendo utilizadas pelo agronegócio, grandes devedores que têm terra. Então, [o governo] não tem a intenção de realizar a reforma agrária.
O plano que foi lançado centra nas terras públicas e naqueles [donos de terra] devedores do Tesouro Nacional, mas ele não tem orçamento. Está dado que ele não vai caminhar. Um ano e quatro meses depois, o governo apresenta um plano que não pune o latifúndio".
A comunidade científica achou positiva a iniciativa do Governo Federal de repatriar cientistas e pesquisadores que atuam em instituições no exterior. No entanto, a repatriação é garantida apenas por um investimento de R$ 1 bilhão, uma micharia para atividades tão complexas, onerosas e urgentes como as pesquisas científicas e acadêmicas.
Uma declaração, concisa, do professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), Carlos Hotta, é ilustrativa:
"Eu acho que um programa de repatriação é desejável. Mas esse programa não é bom. Ele tem o direito de existir, o problema é a quantidade de dinheiro, a forma e o momento".
Os problemas são conhecidos da comunidade científica. Além das poucas verbas não garantirem recursos para a realização de pesquisas científicas, que envolvem uma série de atividades complexas e demoradas, os baixos salários, a falta de ofertas e de condições de trabalho para os pesquisadores preocupam o setor.
É chocante, mas bastante realista, que o atual governo Lula está aquém dos dois mandatos anteriores. Eles não foram revolucionários nem realizaram conquistas plenas a ponto de colocar o Brasil como potência mundial, representando apenas avanços de certo modo consistentes. Mas hoje nem esse quadro existe mais.
O mais grave é que Lula jurou que não poderia errar no atual governo. É o que ele está mais fazendo, errando. E isso a ponto dele perder apoio de quem antes o apoiava, os movimentos sociais, as classes de trabalhadores, os povos indígenas, os camponeses, a comunidade científica. Lula se preocupou demais com as festas, as viagens ao exterior, e fez de conta que realizou muita coisa.
Tentando se agigantar na política externa, Lula se esqueceu de reconstruir o Brasil. Agora sua popularidade tende a cair de maneira dramática. E, enquanto isso, o Supremo Tribunal Federal, que intimou o próprio Lula e os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, quanto ao caso do orçamento secreto (que Lula criticou em campanha mas aderiu a ele após eleito), está tendo dificuldades em banir o lavajatismo.
Com o hoje senador Sérgio Moro, e os juízes Gabriela Hardt e Danilo Pereira poupados, a Operação Lava Jato, que prendeu Lula em 2018, não está derrotada e o risco existe do lavajatismo se desvincular do bolsonarismo e tentar cooptar as classes populares, diante da debilidade política do governo Lula. E esse risco é maior do que se pensa, neste Brasil à deriva.
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