Quem nasceu na década de 1950 não deve e nem tem o direito de pensar em viver como os idosos das gerações anteriores. Isso se tornou tão certo que uma geração de médicos, empresários, publicitários e economistas, casados com ex-modelos, atrizes ou belas jornalistas mais jovens, caíram no ridículo, quando, ao completarem 50 ou 55 anos, tentaram parecer mais velhos do que realmente eram.
Hoje a meia-idade é para se reinventar. É bem menos uma questão de descansar e se preparar para a velhice e muito mais uma questão de reciclar a juventude perdida. Sim, voltar a ser jovem é um tabu para quem tem mais de 50 anos, a juventude lhes parece linda, mas que fique distante deles junto aos filhos e netos.
Nada disso. Quem nasceu nos anos 1950 tem a obrigação de se reinventar. Nada de soar como o "rabo" da geração de 1930 e 1940, para a qual faz sentido mantiverem convicções morais, comportamentais e religiosas de um tempo em que o Brasil ainda era predominantemente rural e agrário.
Quem nasceu nos anos 1950, não. Não faz sentido médicos, empresários, advogados, economistas e publicitários etc chegarem aos 60 anos defendendo um Brasil de Jacinto de Thormes. Eles que parem de brincar de reviver os anos 1940 que não viveram e reaprendam a década de 1980 na qual se realizaram na vida.
Infelizmente, os anos 1950 não geraram seus equivalentes a Otto Maria Carpeaux, Josué Montello, Afonso Arinos, Oscar Niemeyer, gente que, independente do plano ideológico, se destacavam por grandes ideias e uma erudição ímpar. A geração dos anos 1950 nem podia pensar nisso, porque na sua fase de idealismo, eram castradas pelo contexto político da ditadura militar.
Fica constrangedor, também, que os sessentões de primeira viagem - nascidos entre 1950 e 1955 - , sobretudo os que são empresários, médicos, economistas etc, tenham que parecer "mais velhos" e imitar o comportamento de seus pais, professores e patrões (geralmente 20 anos mais velhos) se, nos EUA e Inglaterra, a coisa é bem diferente.
Se observarmos bem, os integrantes de um grupo ultrajovial como o Devo - que continua firme, em que pese o falecimento do guitarrista Bob Casale, no ano passado - e de grupos punk como Damned e Buzzcocks, são hoje "senhores" nascidos entre 1950 e 1955.
Vergonha para médicos e empresários nascidos em 1953 e 1954 que, no seu enferrujamento espiritual - em que pesem suas esposas 15 ou 20 anos mais novas - , ainda tentam se lembrar se viram ao vivo uma apresentação de Glenn Miller (morto em 1944) quando eram crianças.
Para ajudar essa patota, sobretudo a turminha de 1950 que chega aos 65 anos, consciente de que, para um Serginho Groisman e uma Sônia Braga, existem um monte de contemporâneos frustrados por não terem nascido nos anos 1940, vamos dar uma orientação sobre como reinventar a meia-idade, agora que os born in the 50's vão conhecer seus primeiros idosos.
Se a ideia é reinventar a meia-idade, então vamos começar por aqueles que já estreiam a terceira idade recomendando esquecer aquele padrão de vida idosa que eles tanto conheceram de seus pais. Vamos lá.
1) PROCURAR RECUPERAR A BOA FORMA - Não existe a ditadura da boa forma. O que existe é a ditadura da má forma. Chegando aos 55, as pessoas são obrigadas não a manter o corpo juvenil, mas, pelo contrário, a engordar para parecerem "maduros". Isso é terrível, traz indisposição e doenças. Por isso, nada de acreditar que aquela barriga de "coroa" foi um presente das fases da Lua. A ideia é controlar a alimentação, fazer exercícios e perder a barriga, mesmo aquela acumulada desde os 35 ou 40 anos de idade.
2) MODERAR A INGESTÃO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS - Medida desagradável, principalmente num país como o Brasil, em que bebidas alcoólicas não são bebidas, mas objetos de culto religioso. E o problema não é apenas beber "socialmente", mas reduzir as sessões de consumo de bebida alcoólica. Num único fim-de-semana, as pessoas geralmente têm de cinco a sete turnos de consumo, um na noite de sexta-feira, e outros três no sábado e domingo. Convém cortar pela metade e escolher os horários de maior necessidade. E, claro, sem beber exageradamente, preferindo até se distrair com uma conversa longa a cada gole. Aconselhável substituir o álcool com sucos e refrigerantes, na maioria dos casos.
3) REPREENDER MENOS OS FILHOS - Mais chato do que os filhos errarem por alguma desatenção ou impulso da vida, são os pais querendo repreendê-los de maneira irritada e insistente, como se os filhos tivessem que, submissos às normas de etiqueta, calcular até mesmo a largura de um sorriso para cada situação. Além disso, os pais se esquecem que eles, muitas vezes, repreendem os filhos pelo que os próprios pais haviam feito em outros tempos.
4) NÃO TENTE ENTENDER DEMAIS O PASSADO - Mais irritante da geração que começa os 60 anos é sua mania de parecer antigo. Tentam ter a bagagem cultural, mental e intelectual não de quem nasceu nos anos 1950, mas de quem já estava adulto na época. E já caem no lugar comum viajando para o centro histórico de Roma, para vinícolas no interior da França ou nas viagens para Nova York tentando reviver o glamour dos anos 1940 (?!). Se fosse por alguma identificação temporal, tudo bem, mas as pessoas fazem isso mais para impressionar os mais velhos (que hoje têm cerca de 75 ou 80 anos), e isso soa forçar a barra. O ideal, para quem viveu os anos 1950, é agora reviver o lado divertido dos anos 80, época de suas realizações pessoais plenas.
5) MULHERES DEVERIAM LARGAR O BEATISMO - Nada mais chato do que ser beato religioso e acreditar que a qualidade de vida será obtida pela frequência da devoção religiosa que é expressa. Grande ilusão. E, para piorar, muitas mulheres que se tornam beatas haviam sido moças avançadas, divertidas, atraentes e até sexy, em outros tempos, mas eram bastante ocupadas na vida amorosa. Hoje, quando se entregam à solteirice, tornam-se religiosas e fora de forma. Isso é triste. Elas poderiam aprender com o que elas mesmas viveram, recuperar a boa forma e não ficarem orando ou endeusando santos ou coisas parecidas. E também não expressar isso nas mídias sociais, redutos dos mais diversos e extremos pontos-de-vista, péssimos para alguém expressar alguma devoção religiosa. Facebook não é igreja.
6) NÃO USAR SAPATOS DUROS NEM SANDÁLIAS DE SALTO ALTO A TODO MOMENTO - Os homens nascidos nos anos 1950 caíram no ridículo quando, nos seus 50, 55 anos, quiseram aparecer usando a todo momento sapatos de verniz ou de couro. Bastava uma ida ao cineminha para os médicos, empresários e economistas usarem e abusarem nesses sapatos que confortam a vaidade mas machucam as solas dos pés. A ideia é para os homens usarem tênis na hora do lazer, limitando os sapatos "sociais" para situações de extrema formalidade. E, para as mulheres, o uso de sapatilhas e sandálias de salto mais baixo é bem melhor para o lazer, até porque os sapatos de salto alto exigem um certo malabarismo circense.
7) USAR ROUPAS COLORIDAS E MAIS INFORMAIS - Se o pessoal ficou grisalho, isso não é desculpa para que se carregue nas roupas formais até quando vai para a praia ou para o cineminha. Grisalhos usando bermudão e tênis são coisas mais naturais. Tal como uma sessentona ir de biquíni. Tudo normal. Mas até pouco tempo atrás o traje de caminhada dos senhores e 50, 60 anos não era muito diferente do conjunto de terno e gravata dos ambientes de trabalho, apenas tirando a gravata, o paletó e arregaçando a manga, à altura do cotovelo, da camisa de colarinho. Até os sapatos de verniz eram mantidos e as meias de nylon pegavam o salitre das praias. E a caminhada, dentro da obsessão das normas de etiqueta, tinha o ritmo de uma procissão, ou talvez, de um funeral. Felizmente a pressão dos ortopedistas fez nossos "senhores", pelo menos, usarem tênis, camiseta e bermudas, sem o medo do uso de cores fortes, nas caminhadas. Mas a patota grisalha terá que aumentar cada vez mais os trajes informais e descontraídos, calçar tênis até para ir à reunião do Iate Clube. E deixar os trajes formais para situações realmente formais.
8) OUVIR MÚSICAS MAIS AGITADAS - A geração born in the 50's não deveria se apegar a referenciais da decada anterior, como ocorre no Brasil. A obsessão dos anos 1940 era tanta que os empresários, médicos, economistas etc evitavam até Beatles e Elvis Presley, de princípio, mas depois tiveram que optar por canções mais lentas desses nomes do rock. Um dos médicos escreveu um livro sobre Beatles do qual precisou de um consultor que escreveu informações sobre o grupo britânico. Outro médico quis parecer especialista de jazz, mas não passa de um apreciador de standards de Hollywood ou de Dixieland (o jazz comportado e granfino dos brancos dos EUA dos anos 1930). Esqueça, garotada de meia-idade! Vão ouvir Rock Brasil e o som dos anos 80 e perceber a diferença entre Legião Urbana e Trem da Alegria. E ouvir sons mais agitados, dos anos 80 em diante, serve para arejar as mentes, animar a alma e até revigorar o desempenho profissional nos tempos de pré-aposentadoria. "Cheek to Cheek", "Moonlight Serenade" e "Dance the Old Fashioned Way" para quem precisa de "Cheek to Cheek", "Moonlight Serenade" e "Dance the Old Fashioned Way". A regra, no entanto, é cair na "Geração Coca-Cola" e no "Blitzkrieg Bop".
9) OUVIR SONS MAIS MODERNOS, E NÃO POR CAUSA DOS FILHOS - Tem uma mania dos "coroas" e dos idosos de primeira hora de que, quando vão a festivais de música jovem, irem somente para acompanhar os filhos. Tem até aquele papo malandro de certos homens, que já vi várias vezes na TV: "Eu sempre (sic) gostei de rock'n'roll, e aproveitei que minha filha foi pro festival para ir junto rever meus tempos de garotão", Não, nada disso. Homens que tomam decisões na hora do trabalho, são patrões, possuem negócio próprio ou trabalham em profissões liberais, não podem cair no hábito constrangedor de depender dos filhos ou dos amigos destes para se divertirem. Isso é RIDÍCULO. As pessoas de 60, 65 anos deveriam ouvir sons mais contemporâneos, mesmo Simple Minds, Cure e Pixies, Legião Urbana ou Ira!, não para se reconciliar com os filhos, agradar a garotada ou "entender os jovens". É para ouvir como se fosse coisa sua, a sua própria trilha sonora. Até porque, em muitos casos, esse som é feito por pessoas da mesma idade que eles ou, quando muito, por gente apenas um pouquinho mais nova, mas com idade de ter sido parceiros de bolinha de gude.
10) ABANDONAR A SISUDEZ E A MELANCOLIA - Muitos motivos do abandono sofrido por gente idosa é o apego à sisudez, à melancolia e às frescuras da formalidade excessiva, do apego exagerado às normas de etiqueta, ao calculismo do "bem viver" que cria um "mal viver" pela racionalidade excessiva que oprime as emoções. Ser melancólico porque alguns amigos de infância já morreram, ou ter medo de dar gargalhadas em público ou, no caso das mulheres, assediar ou beijar alguém na rua, Seria maravilhoso que mulheres de 60, mesmo grisalhas ou enrugadas, mas fisicamente em forma e atraentes, pudessem ter a disposição juvenil de paquerar e namorar.
O "crepúsculo" da vida não é desculpa para uma personalidade tão castrada que faz "coroas" e idosos se afastarem dos mais jovens. É a personalidade castrada e extremamente "racionalizada" da meia-idade que produz a pior velhice. São os "coroas" que repreendem os jovens, à menor risada destes, que são jogados no asilo e condenados ao desdém absoluto. Portanto, não é preciso ser formal demais nem melancólico na meia-idade. É no crepúsculo e no anoitecer que podem ocorrer as festas mais bonitas e vibrantes. A melhor idade deveria ser trabalhada na meia-idade, para criar uma velhice melhor, com muito mais alegria e disposição.
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