Quando voltaram a explorar o segmento rock, as rádios 89 FM (SP), no final de 2012, e a Rádio Cidade (RJ), no começo de 2014, prometeram revitalizar a cultura rock, na esperança de que novos nomes do nível da Legião Urbana e do Barão Vermelho puxassem uma nova cena.
Na era da informação instantânea, as duas rádios foram muito lerdas para lançar uma nova cena, estando, respectivamente, há cerca de dois anos e há quase um ano. Em seis meses, a Fluminense FM, numa época sem Internet e de informação rápida mas longe de ser instantânea, já divulgava uma grande cena de Rock Brasil com apenas seis meses no ar.
As duas rádios enrolaram, lançando clones de Detonautas, Charlie Brown Jr. e CPM 22, ou, quando muito, imitações caricatas de O Rappa que não fazem sucesso algum, ou, então, tentam enganar "lançando" o Malta (na verdade, lançado pela Rede Globo), espécie de "emo metal" e amigo dos breganejos, e Aliados, um sub-Detonautas com clipe com o ator Caio Castro (aquele que não curte teatro e leitura de livros).
Mas agora a "nova grande banda" de Rock Brasil é comandada por ninguém menos que o funqueiro Mr. Catra. Sim, isso mesmo, "rock de funqueiro". Um caro preço para rádios comandadas por locutores engraçadinhos, com suas vozes afetadíssimas e sem qualquer vivência de cultura rock.
Mr. Catra e os Templários, esta é a banda, já gravou material, montou agenda de shows e diz que "o rock voltou". Aparentemente, não há algum anúncio que o grupo divulgará seu trabalho na Rádio Cidade ou na 89 FM, que, apesar de seus locutores "poperó" ou "putz-putz", querem passar a imagem de "rádios de rock sérias".
O funqueiro afirma que a banda é influenciada em metal e hardcore. Um de seus músicos apareceu até com a camiseta do Rage Against The Machine. "Acho que esse disco vai acabar com a brincadeirinha que virou o rock. Agora é porrada. Acabou o colorido. Acabou a matinê", disse Catra.
Na axé-music tivemos o exemplo de Netinho e Luiz Caldas tentando soar "mais rock". Ou Chitãozinho & Xororó e Zezé di Camargo & Luciano bajulando Raul Seixas (que sempre detestou essas bandas). Mas num contexto em que Mamonas Assassinas fundia rock e brega, dizer que a cultura rock no Brasil virou uma palhaçada é algo que somos obrigados a admitir.
Então tá. A cultura rock está hoje "representada", no rádio, por locutores debiloides que falam como se estivessem falando para fãs do One Direction. Musicalmente, quem serão os "representantes"? Thiaguinho, que recebeu Raimundos, Detonautas e CPM 22 e cantou até com eles? Victor & Léo, que prometem soar igualzinho ao Coldplay? E agora o Mr. Catra?
Que o Brasil virou um país surreal, isso é verdade. Mas o que se nota é que os "roqueirinhos" que há 15 anos pediam "morte aos funqueiros, breganejos e pagodeiros", agora estão vermelhos que nem tomate, já que hoje quem controla a "cultura rock" no rádio são radialistas de "poperó" ou vindos de rádios bregas, e quem lhe dá visibilidade são ídolos popularescos.
Depois nós vamos nas mídias sociais para dizer que a 89 FM e a Rádio Cidade são rádios "pop-rock" e o pessoal não gosta e fica irritadinho. Esse pessoal fica nervosinho quando a realidade dolorosa vai contra seus devaneios publicitários.
Mas eles têm que aguentar as consequências do que o mercado fez com a cultura rock. Mr. Catra é só um dos efeitos naturais dessas manobras todas. Cada mídia rock tem a cena que merece. Ou será que temos que fazer de conta que ainda virá um novo Renato Russo, só para agradar a criançada que defende a 89 e a Cidade nas redes sociais? Até quando esperar?
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