O mercado publicitário mostra que é bastante preconceituoso.
Recentemente, repercutiu, negativamente, um comercial do produto de cremes para a pele Dove, da Unilever, com forte conteúdo racista.
Nele, uma negra usa uma loção Dove e, tirando sua blusa marrom que combinava com a pele, se converte numa moça branca.
É como se Dove "limpasse" a "sujeira" atribuída a negritude da moça.
O que é bem lamentável, em todos os sentidos. Além do mais, a negra do comercial é lindíssima, tanto quanto a branca do anúncio. Cada uma com sua beleza admirável.
Os publicitários não conseguiram explicar o propósito daquilo, mesmo quando, no mesmo comercial, outra branca faz o mesmo e se converte numa mulher branca de cabelo preto.
Mas o caso da negra chamou a atenção pelo conteúdo ofensivo.
O mais grave é que a Unilever havia pedido desculpas por outro comercial, este veiculado em 2011.
Nele aparece uma suposta mudança da pele negra para a branca, com três garotas, por sinal muito lindas.
Primeiro uma negra, abaixo de um retângulo com a palavra before (antes).
Depois, uma morena que aparece no meio do cenário.
Terceiro, uma branca, de cabelos louros, sob o retângulo da palavra after (depois).
A ofensa à moça negra se agrava pelo fato dela ser mais cheinha, considerada curvy.
Ou seja, uma sutil "gordofobia", que é a discriminação contra pessoas consideradas acima do "peso padrão".
O mais cruel disso tudo é que a mesma marca Dove está associada a campanhas pela real beleza feminina, como ocorre nas campanhas feitas no Brasil.
E isso quando em 2015 a marca lançou um tipo de loção que trata peles escuras como "anormais".
A publicidade, não só brasileira como estrangeira, é tomada de muitas campanhas preconceituosas e cruéis.
No Jornal Nacional, em 1994, teve um comercial da Semp Toshiba que fazia apologia ao feminicídio, através de um comentário maroto de um menino que revelava o final de um filme.
Eu escrevi cartas para a imprensa pedindo a retirada do comercial. Felizmente meu pedido foi aceito.
Há comerciais que mostram a mulher como uma idiota, como em marcas de detergentes ou automóveis.
Há casais tão falsos em comerciais de margarina que a expressão pegou como alegoria para relações conjugais que fingem serem felizes.
A publicidade, que sustenta os veículos da grande mídia, também dá sua contribuição ao "popular demais" que, mesmo apelando para o "combate ao preconceito" (eufemismo para aceitação sem críticas), trabalha o povo pobre de maneira bem preconceituosa.
O "pagodão baiano" pós-É O Tchan trabalhava o homem negro de forma idiotizada, e os próprios cantores negros representavam seu próprio estereótipo racista de tarados abobalhados.
O "funk" parodia a mulher solteira, misturando misandria com a coisificação do corpo feminino, reduzindo a uma mulher-objeto narcisista e falsamente feminista.
As esquerdas não compreenderam que essa "livre cultura" que aborda a falácia da "pobreza feliz" reduzia o povo dos subúrbios a palhaços para o consumo contemplativo de elites intelectuais paternalistas.
Essa suposta "cultura das periferias" é um esquema perverso integrado entre o poder midiático, o mercado publicitário e a indústria do entretenimento "popular".
Durante anos reinou uma falácia promovendo uma ideia falsamente libertária desse processo, difundida por intelectuais tomados de muita visibilidade e prestígio.
Foi difícil desmontar um discurso desses, que poderia se restringir às Folha e Globo da vida, mas chegava às páginas de Brasil de Fato e a poucos passos do Centro Barão de Itararé.
Foi essa visão torta de "cultura popular", que no fundo está no mesmo cardápio da publicidade preconceituosa, que fez as próprias esquerdas perderem o apoio das multidões.
Elas estavam brincando de "ativismo" com o consumismo brega-popularesco e com a aceitação da própria imagem caricatural difundida pela grande mídia, sob o consentimento das esquerdas.
Os comerciais da Dove apenas são parte desse processo todo, sustentando o mercado da mídia e do entretenimento que atingem um grande público.
Esse mercado aposta na imbecilização cultural que, quando focalizada no povo pobre, não pode ser vista como empoderamento social, se reduz as classes populares à caricatura de si mesmas.
Tudo isso abriu as portas para o cenário político conservador e preconceituoso em que vivemos.
E é isso que deu aceitar o "popular demais" trazido pelo poder midiático e seus anunciantes preconceituosos...
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