Me informando das mortes do guitarrista Tom Petty, e, pouco tempo atrás, de Walter Becker, do Steely Dan, fico refletindo o seguinte.
Qual a importância de concertos com músicos para as gerações mais recentes?
Quem tem menos de 30 anos se acostumou a consumir música praticamente robótica, cheia de coreografia e cujos ídolos se alimentam com factoides.
A predominância da música comercial já contagiou as pessoas que hoje tem menos de 40 anos.
Mesmo aquela música comercial em que cantores cantam bem, compositores compõem bem e músicos tocam bem, mas tudo sem arte, apenas produzindo mercadorias musicais.
Dos anos 90 para cá, a própria indústria do entretenimento tentava nos fazer crer que a música comercial mais duradoura era necessariamente "mais artística".
Não, não é. A motivação é comercial, o que elimina o caráter artístico. Não é porque a música lembra um fato pessoal que deixou saudade no ouvinte que fará a música mais "artística".
Ela é só arte para o internauta médio das redes sociais que não vê coisa com coisa.
Ele acha que a música comercial é "não-comercial" e vê "comercialismo" na música que realmente não é comercial, em que pese ser comercializada pela indústria do disco e de apresentações ao vivo.
Para essa pessoa, até o ar que respiramos é comercial, no seu raciocínio torto que o faz "dono da verdade" nesses ambientes de muita burrice.
A canção comercial é que se nivela por baixo de geração em geração e hoje os jovens são tomados do mais completo superficialismo musical.
Li vários livros sobre movimentos de MPB nos anos 1960 e de rock dos anos 1970 e 1980 e via muita vida rolando nos bastidores da música.
Era um universo humano, mesmo com seus conflitos e confusões, e era autêntico, visceral, socialmente abrangente.
Hoje dá pena ver muitos ídolos musicais que mais parecem ficções implantadas na realidade.
As músicas, por mais que empolguem a juventude, soam postiças. Os ídolos, marionetes do show business. As carreiras, decididas e calculadas dentro dos escritórios.
Inútil haver todo o arsenal intelectual de monografias e cinedocumentários querendo transformar um modismo de temporada num fenômeno etnográfico-libertário.
Até porque mesmo a suposta subversão comportamental virou mercadoria. Feminismo, negritude, causa LGBT, periferia, tudo virou mercadoria.
Nada a ver com aqueles ambientes de vida humana que eu soube, por exemplo, do Rock Brasil dos anos 1980.
Os jovens não percebem a diferença de um Justin Bieber com o de um Bob Dylan.
Até a um concerto de rock eles comparecem para apenas ficarem pulando. Só catarse.
Sendo bandas recentes como Foo Fighters e Red Hot Chili Peppers, com músicos talentosos, não há problema.
Mas vendo os casos de Tom Petty & The Heartbreakers e do Steely Dan, fica complicado para o jovem médio de hoje assistir a apresentações musicais.
Nem se vai falar do Steely Dan, bem mais sofisticado e mais próximo do jazz, de tal forma que o elemento de rock quase desapareceu no estilo da banda, em nome de uma sonoridade fusion.
Falamos de Tom Petty & The Heartbreakers, bem mais próxima do imaginário roqueiro que, pelo menos, ainda é conhecido entre os mais jovens.
São apresentações vigorosas, mas não necessariamente de catarse, pois a musicalidade e as performances instrumentais são prioridade, o que entedia boa parte da petizada.
A petizada quer catarse, barulho e coreografia. No caso do pop mais dançante, é tanta coreografia e jogo de cena que até parece que os teatros de revista voltaram, só deixando de fora as esquetes humorísticas.
Vendo Britney Spears, Lady Gaga, Beyoncè Knowles e Justin Bieber, o que se vê é isso mesmo. Como se o fantasma de Carlos Machado rondasse em torno desses ídolos.
Música, no entanto, fica em último plano. Até porque ela não raro aparece em pleibeque.
É triste isso, e isso dói quando um artista falece ou já está idoso.
Observamos o quanto dois idosos de 72 e 73 anos, Pete Townshend e Roger Daltrey, sobreviventes do antigo quarteto The Who, dão duro para passar uma performance musical a mais vigorosa possível.
Eles eram de tempos muito empolgantes, em que jovens colegas de escola iam para as lojas de instrumentos musicais pesquisar uma boa guitarra, baixo, bateria ou órgão.
Muito diferente dos grupos de rapazes contratados para cantar e dançar.
Ultimamente, já se cobra nesses grupos que os cantores toquem, ao menos, um violão.
Isso porque muita gente reclamou, não só no Brasil, porque há tantos grupos com muita coreografia e pouca música.
Daqui a pouco, até aquela lacônica dançarina de um grupo de meninas vai ter que mostrar alguma canja com algum instrumento.
Mesmo assim, ainda estão longe de mostrar aquela alma musical de tantos veteranos.
E é por isso o quanto dói saber que, de uma banda de guitarristas como os Travelling Wilburys, há três mortos.
Roy Orbison e o ex-beatle George Harrison dispensam comentários. E a eles se juntou Tom Petty.
As gerações mais novas precisam pensar em tempos assim, antes que a puberdade lhes obrigue a conhecer e reconhecer o mundo.
A geração de 1978-1983 só pôde sair do quintal cronológico do comercialismo dos anos 1980-1990 depois de completar 30 anos de idade.
E mesmo assim a contragosto, depois de se convencerem, não sem muito bate-boca, que seus antigos heróis musicais nunca passaram de meras mercadorias radiofônicas.
Tiveram, com o contato com os mais velhos nos ambientes de trabalho, que se convencerem que a MPB autêntica não é tão chata quanto parece e que o som dos anos 1980 tinha também Jesus and Mary Chain, Tom Petty & The Heartbreakers e XTC.
O que vai ser, portanto, das gerações que acham o superficialismo do JPop o máximo, ter que falar dos concertos musicais de outrora... Deve vir mais bate-boca por aí.
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