Há novos talentos na música brasileira e artistas em atividade de diversas tendências da MPB autêntica.
Mas, hoje em dia, pouca coisa repercute, e tudo se congelou praticamente nos sucessos de MPB do passado remoto ou recente.
O que vai além dos sucessos habituais só acontece como eventualidade, como se fosse uma efeméride.
Ainda que certas pessoas otimistas pareçam garantir que a MPB está bem, o que se vê é que ela perdeu aquela força que tinha no grande público.
Os sucessos brega-popularescos criaram um império mercadológico que viciou os ouvidos de muita gente, até de jovens de classe média.
E a grande mídia e os intelectuais "bacanas" são em parte responsáveis por esse quadro triste.
As rádios FM também. Quase não há rádios exclusivas de MPB.
No Rio de Janeiro, o Sistema RJ de Rádio já tem duas rádios brega-popularescas, O Dia e Mania, e poderia manter esta última no setor.
A JB FM, numa atitude constrangedora, ainda monopoliza os sucessos estrangeiros, sendo o Top 10 com 60% de gringos, em detrimento de 40% de música brasileira.
Com uma programação viciada, a JB FM prefere tocar os mesmos flashbacks menos expressivos e repetitivos que ninguém aguenta mais ouvir.
Não adianta acusar os ouvintes: até nessas rádios o que manda é o jabá pago pelos editores de sucessos estrangeiros.
Mas, fazer o quê? As rádios de pop adulto são geralmente inflexíveis, seguem aquele cardápio musical de pop estrangeiro e alguma música brasileira e não mudam.
Se alguém reclama, eles só mudam em poucos dias e depois voltam à mesma pasmaceira de sempre.
O mutirão de MPB que as rádios adultas tentam fazer após o fim da MPB FM é até esforçado em certos casos, mas insuficiente.
O Rio de Janeiro, que já teve duas rádios de MPB, simplesmente ficou com nenhuma.
Em comparação com o rock, pelo menos o mutirão de MPB após o fim da MPB FM é menos doloroso do que o mutirão que se tentou fazer depois do fim da Fluminense FM, em 1994.
As melhores experiências foram de rádios com sintonia distante, a Progressiva FM, rádio comunitária da região da Penha, e a Tribuna FM de Petrópolis, nenhuma sintonizável em Niterói, berço da Flu FM.
A experiência vexaminosa da Rádio Cidade, com sua canastrice eletrônica, prevaleceu.
Grande burrada de seus donos fazer a Rádio Cidade virar "roqueira" sem mudar nome nem quadro de locutores, mantendo a linguagem poperó que até hoje prevalece, via web, em parte de seus locutores.
Atualmente a Cidade, hoje uma web radio, se comporta como se fosse uma rádio interna da Artplan. Deveria se chamar Roberto Medina FM.
A rádio nem cobre o básico da cultura rock, se limitando apenas a tocar só os sucessos das paradas roqueiras, atendendo a um público blasé que aceita ser fã de tal banda de rock por causa de uma só canção.
Mas o Rio de Janeiro, antes imponente culturalmente, sucumbiu a um provincianismo doentio de deixar pasmo até autistas do interior do Amapá.
Os cariocas se reduziram a bonecos de cordas os quais é preciso muito puxão para agirem.
Até para serem afetivos os cariocas primeiro têm que se comportar de maneira agressiva, grosseira ou, na melhor das hipóteses, superficial e formal, exigindo muito puxão.
Culturalmente, o antes imponente Rio de Janeiro parece ver a cultura apenas como uma questão mercadológica.
Além de aceitar mais as tendências brega-popularescas e superestimar o pop estrangeiro de hoje e de outrora, perdeu aquela criatividade de garimpar e renovar a cultura musical brasileira.
Antes reduto de vanguarda, o Rio de Janeiro aceitou a discurseira intelectual da bregalização e espalhou por todo o país o vírus do declínio da música brasileira.
Aceitou de mão beijada a invasão da axé-music e agora faz o mesmo com o "sertanejo".
O Rio de Janeiro deixa perder sua relevância cultural e se reduz a um consumidor de modismos ou a um dependente de empreendimentos musicais.
Não consegue mais ter o antigo cenário da Bossa Nova que ainda teve como contraponto o resgate do samba de raiz.
O Sul e Sudeste também sofrem desta doença, mas a intelligentzia do eixo Rio-São Paulo é que propiciou essa mentalidade viciada, forçando a aceitação da bregalização sob a falácia do "combate ao preconceito".
Só que esse discurso, tão martelado e insistente, deu em nada: hoje é a MPB autêntica que é discriminada, até mesmo por jovens universitários.
Com isso, qual o estímulo que o público médio tem de ouvir música, sobretudo brasileira, e sem limitar aos sucessos e aos nomes consagrados?
A MPB, na sua mais nova geração, precisa entender que a provocação não é o prato principal, mas um tempero para a atividade musical.
Se a provocação fica em primeiro plano, a música desaparece, fica fraca, se apaga diante de tanta "atitude" e "empoderamento".
Aquela música que era manifestação do espírito e fluía em nossas mentes praticamente desapareceu, pois a maioria da música brasileira de hoje exige umas doses de cerveja para "descer macio".
Daí a música gastronômica. MPB para refeições. Um filão que já abriu caminho para "sertanejos" e "pagodeiros" dos anos 90 querendo embarcar no pedantismo.
Triste cenário de MPB desmoralizada e enfraquecida.
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