Na minha terra natal, Florianópolis, uma tragédia foi tratada por um silêncio quase total pela mídia hegemônica.
O ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Chancellier de Olivo se matou numa praça interna do Beiramar Shopping, na manhã do último dia 02.
Chancellier tinha 60 anos e havia se encontrado com seu ex-aluno, o advogado Rafael Melo, que, ao conversar com ele, viu o ex-reitor bastante amargurado e nervoso.
Chancellier era um daqueles acusados que, sem direito de defesa, eram considerados culpados por um suposto esquema de corrupção na UFSC, vagamente investigado.
A história é esta. A Polícia Federal investigava um suposto esquema de corrupção que teria desviado um dinheiro no valor de cerca de R$ 80 milhões.
Esse valor era o dinheiro que o Governo Federal havia passado para financiar os cursos de ensino à distância organizados pela universidade catarinense.
A operação, chamada Ouvido Mouco, prendeu Chancellier e outras sete pessoas ligadas à instituição, no último dia 14 de setembro.
Sete mandados de busca e apreensão nos setores administrativos da UFSC e outras fundações relacionadas também foram feitos durante a operação.
Os sete presos foram afastados de suas funções. A Polícia Federal teve por objetivo achar um depósito de documentos ainda não analisados.
O reitor foi liberado no dia seguinte da prisão, mas proibido de exercer qualquer atividade relacionada ao ensino. Chancellier foi ainda acusado de tentar osbstruir as investigações.
Ele trabalhava como professor na UFSC desde 2005 e havia se tornado reitor em 2016.
Antes prestigiado, Chancellier passou a ser desmoralizado por conta do caso. Ele estava atormentado, e se jogou de um andar alto para cair no chão da praça central no interior do shopping.
A tragédia de Chancellier, conhecido pelos amigos como Cau, se deu num contexto em que há, pelo menos, dois mártires em potencial considerados "criminosos" pelo arbítrio cego do Judiciário.
Um é o trabalhador Rafael Braga, do Rio de Janeiro, preso durante as manifestações de 2013 por portar produtos de limpeza que a polícia supôs terem sido "armas químicas".
Outro é o eminente cientista e almirante da Marinha, Othon Pinheiro, um dos grandes mestres da ciência nuclear, também preso por acusações semelhantes às de Chancellier.
Rafael Braga adoeceu por causa do ambiente infectado da prisão. A partir de então, passou a cumprir, este ano, prisão domiciliar.
Deprimido, Othon Pinheiro sofre de doença degenerativa e câncer, e, com 78 anos, corre o risco de não viver muito tempo, pondo a perder sua rica e abrangente bagagem intelectual.
Dois mártires em potencial, Rafael e Othon têm ao seu lado o mártir Cau, que revelam os bastidores repressivos de um Judiciário arbitrário e pouco disposto a investigar com imparcialidade e cautela.
Cau havia deixado um bilhete avisando do seu suicídio, no qual denunciava o Estado policialesco.
A tragédia de Cau também tem como pano de fundo a obsessão da grande mídia pelo assassinato de reputações, principalmente se for de pessoas consideradas progressistas.
Apesar da atuação acadêmica progressista, no que se refere a promover o desenvolvimento educacional, Cau, por ironia, votou em Aécio, apoiou Temer e admirava Sérgio Moro.
Mesmo assim, foi vitimado pelos esquemas jurídicos que movem esse cenário temeroso.
Isso mostra o quanto ocorre por trás da aparente comédia dos escândalos políticos que os brasileiros médios pensam se tratarem de alguma esquete de Os Trapalhões.
O momento político atual não é cômico, é trágico, e não há razão para o pessoal ficar alegre e ir para as ruas jogar conversa fora como se vivesse tempos da mais plena felicidade.
A situação está delicada, o Brasil está desgovernado e frágil, Temer, com seu vitimismo, inventa que "um golpe" quer derrubá-lo e continua governando às costas do povo.
Diante de um quadro assim, ver que tem gente se cumprimentando com sorrisos histéricos é constrangedor.
É preocupante a despreocupação de tantas pessoas neste momento delicado em que vive o Brasil.
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