MENINA TOCANDO EM HOMEM NU EM EXPOSIÇÃO NO MAM, EM SÃO PAULO. AO LADO, DONA REGINA, ESPECTADORA DO PROGRAMA ENCONTRO, DA REDE GLOBO.
O episódio do MAM de São Paulo ocorreu há cerca de duas semanas, em 26 de fevereiro passado, mas rende polêmica até hoje.
No programa Encontro, da Rede Globo, no último dia 06, se discutia a censura que setores da sociedade pregam para manifestações como a do homem nu que reinterpretava a obra "Bicho" da artista plática Lygia Clark, falecida há quase três décadas.
A manifestação do nu, em si, já causava polêmica a ponto de manifestantes reacionários, inclusive o ex-ator da Globo, Alexandre Frota, comparecerem ao evento para "patrulhá-lo".
A coisa se agravou quando uma senhora, acompanhada de uma filha, deixou a menina tocar as mãos e os pés do homem.
A indignação foi geral, entre a sociedade conservadora que, desde, pelo menos, 2015, bradou contra as mudanças sociais e retomou o poder em maio de 2016.
No programa da Globo, que não contava com a apresentação da titular Fátima Bernardes, que havia entrado de férias, uma senhora da plateia se manifestou.
Conhecida como Dona Regina, a idosa resolveu fazer um comentário sobre o caso.
"Eu não sou contra a arte, mas sou contra a exposição da criança ali daquela forma. Eu sou contra a mãe que levou a criança, porque um adulto, tudo bem, mas será que essa criança foi preparada?", perguntou a senhora.
Os atores Bruno Ferrari e Andreia Hora eram os convidados do programa e reagiram aborrecidos ao moralismo de Dona Regina.
A princípio Andreia recusou-se a comentar, mas Bruno logo perguntou: "A criança foi exposta ao quê?".
"Ao nu mesmo e tocando ali. Pra quem assistiu não foi legal, pra quem estava em casa, como eu. Entendeu?", respondeu Dona Regina.
Bruno deixou de comentar mais, mas Andreia é que não resistiu e fez um longo comentário.
"Direito à opinião é liberdade. Todo mundo tem que ter direito a tudo. O que não posso é obrigar você a pensar como eu e nem o contrário", iniciou ela.
Andreia então seguiu comentando o reacionarismo nas redes sociais.
"Não estamos conseguindo ter discussões abertas sobre as coisas. As opiniões estão reduzidas às redes sociais. Virou uma arena sangrenta, onde as pessoas ofendem. Eu coloquei minha opinião lá e fui ofendida de todas as maneiras possíveis", disse a atriz.
Ela também comentou a má interpretação da performance do artista:
"O que as pessoas viram, no vídeo, não estava à altura do que estava acontecendo na exposição. A exposição é absolutamente delicada. A performance dele é extremamente delicada, não tinha nada de violento ou pornográfico".
Ela concluiu: "Há uma distorção muito grave do que houve ali, tomando proporções inacreditáveis. É terrível que um corpo nu seja um choque, inclusive para o brasileiro".
Dona Regina reagiu "Na criança", se referindo ao suposto choque que o espetáculo foi acusado de provocar.
Ana Furtado, um dos apresentadores suplentes do Encontro, tentou encerrar a questão: "Que estava acompanhada da mãe".
O contexto da performance nada tinha de pornográfico. Como sabemos, há coisas bem mais pornográficas, como foi no caso do É O Tchan, e a própria sociedade aceitou sem problemas.
O É O Tchan fazia sucesso com uma música que fazia apologia ao estupro ("Segura o Tchan"), promovia erotização infantil sob o aparato das cores fortes e alegres (como a dos doces consumidos por crianças), e as "boas famílias" estimulavam as crianças a imitar o rebolado das dançarinas.
O fenômeno baiano, através de um CD com o DJ Marlboro, passou o bastão para o "funk carioca", que relançou a "dança do bumbum" e a "dança da boquinha da garrafa" (lançada por um concorrente do Tchan) como se fossem "coreografias étnicas".
A erotização não estava presente na performance do homem, no caso o bailarino Wagner Schwartz.
Imagine uma aula de biologia no ensino fundamental e nela se mostra uma ilustração de um corpo masculino.
Isso seria erotização? Não.
A criança apenas tocou as mãos e os pés do homem, sem conotação erótica alguma.
Mas o moralismo de Dona Regina repercutiu tanto nas mídias sociais que houve, no Twitter uma hashtag chamada #SomosTodosDonaRegina.
A hashtag permaneceu até à noite de ontem nos trend topics (dez assuntos mais falados) do Twitter.
Observam-se dois extremos tão ruins.
Num momento, a complacência com fenômenos que estimulam a erotização infanto-juvenil, que nos casos das meninas dos anos 90 resultou num contingente excessivo de siliconadas e outras que se consentiam em fazer papel de objetos sexuais na mídia "popular".
Noutro momento, é a intolerância social em torno de manifestações que não têm a provocação como um fim em si mesmo, mas a polêmica como um instrumento para o debate social, como no caso da nudez de Wagner Schwartz.
No fundo, são dois lados da mesma moeda.
Já vi, nos tempos do Orkut, jovens extremamente reacionários e machistas endeusando "mulheres-frutas" e outras siliconadas.
Fora das cavernas reaças das redes sociais, as esquerdas, inclusive muitas feministas, morderam a isca e acreditaram que as "mulheres-objeto" podiam expressar um "novo tipo de feminismo popular".
Criaram um maniqueísmo desnecessário entre duas visões machistas da mulher, a escrava do lar e a mulher-objeto, creditando esta última, erroneamente, como "feminista".
Permitiu-se, com isso, uma erotização da mulher que resultou, isso sim, nas baixarias dos machistas punheteiros de ônibus, ejaculando em público, na maior grosseria.
Se esses punheteiros, ao menos, guardassem a imagem das mulheres com que se sentiram excitados e forem ao banheiro mais próximo fazer "sua necessidade", seria menos mal.
São libertinagens e moralismos que se resultam na atrofia de valores moralistas confusos, libertinos por um lado, repressivos por outro.
O risco é isso resultar na liberdade política de uns extremistas em conquistar o poder defendendo o fim dos direitos humanos. Se isso ocorrer, acabou o Brasil.
O episódio do MAM de São Paulo ocorreu há cerca de duas semanas, em 26 de fevereiro passado, mas rende polêmica até hoje.
No programa Encontro, da Rede Globo, no último dia 06, se discutia a censura que setores da sociedade pregam para manifestações como a do homem nu que reinterpretava a obra "Bicho" da artista plática Lygia Clark, falecida há quase três décadas.
A manifestação do nu, em si, já causava polêmica a ponto de manifestantes reacionários, inclusive o ex-ator da Globo, Alexandre Frota, comparecerem ao evento para "patrulhá-lo".
A coisa se agravou quando uma senhora, acompanhada de uma filha, deixou a menina tocar as mãos e os pés do homem.
A indignação foi geral, entre a sociedade conservadora que, desde, pelo menos, 2015, bradou contra as mudanças sociais e retomou o poder em maio de 2016.
No programa da Globo, que não contava com a apresentação da titular Fátima Bernardes, que havia entrado de férias, uma senhora da plateia se manifestou.
Conhecida como Dona Regina, a idosa resolveu fazer um comentário sobre o caso.
"Eu não sou contra a arte, mas sou contra a exposição da criança ali daquela forma. Eu sou contra a mãe que levou a criança, porque um adulto, tudo bem, mas será que essa criança foi preparada?", perguntou a senhora.
Os atores Bruno Ferrari e Andreia Hora eram os convidados do programa e reagiram aborrecidos ao moralismo de Dona Regina.
A princípio Andreia recusou-se a comentar, mas Bruno logo perguntou: "A criança foi exposta ao quê?".
"Ao nu mesmo e tocando ali. Pra quem assistiu não foi legal, pra quem estava em casa, como eu. Entendeu?", respondeu Dona Regina.
Bruno deixou de comentar mais, mas Andreia é que não resistiu e fez um longo comentário.
"Direito à opinião é liberdade. Todo mundo tem que ter direito a tudo. O que não posso é obrigar você a pensar como eu e nem o contrário", iniciou ela.
Andreia então seguiu comentando o reacionarismo nas redes sociais.
"Não estamos conseguindo ter discussões abertas sobre as coisas. As opiniões estão reduzidas às redes sociais. Virou uma arena sangrenta, onde as pessoas ofendem. Eu coloquei minha opinião lá e fui ofendida de todas as maneiras possíveis", disse a atriz.
Ela também comentou a má interpretação da performance do artista:
"O que as pessoas viram, no vídeo, não estava à altura do que estava acontecendo na exposição. A exposição é absolutamente delicada. A performance dele é extremamente delicada, não tinha nada de violento ou pornográfico".
Ela concluiu: "Há uma distorção muito grave do que houve ali, tomando proporções inacreditáveis. É terrível que um corpo nu seja um choque, inclusive para o brasileiro".
Dona Regina reagiu "Na criança", se referindo ao suposto choque que o espetáculo foi acusado de provocar.
Ana Furtado, um dos apresentadores suplentes do Encontro, tentou encerrar a questão: "Que estava acompanhada da mãe".
O contexto da performance nada tinha de pornográfico. Como sabemos, há coisas bem mais pornográficas, como foi no caso do É O Tchan, e a própria sociedade aceitou sem problemas.
O É O Tchan fazia sucesso com uma música que fazia apologia ao estupro ("Segura o Tchan"), promovia erotização infantil sob o aparato das cores fortes e alegres (como a dos doces consumidos por crianças), e as "boas famílias" estimulavam as crianças a imitar o rebolado das dançarinas.
O fenômeno baiano, através de um CD com o DJ Marlboro, passou o bastão para o "funk carioca", que relançou a "dança do bumbum" e a "dança da boquinha da garrafa" (lançada por um concorrente do Tchan) como se fossem "coreografias étnicas".
A erotização não estava presente na performance do homem, no caso o bailarino Wagner Schwartz.
Imagine uma aula de biologia no ensino fundamental e nela se mostra uma ilustração de um corpo masculino.
Isso seria erotização? Não.
A criança apenas tocou as mãos e os pés do homem, sem conotação erótica alguma.
Mas o moralismo de Dona Regina repercutiu tanto nas mídias sociais que houve, no Twitter uma hashtag chamada #SomosTodosDonaRegina.
A hashtag permaneceu até à noite de ontem nos trend topics (dez assuntos mais falados) do Twitter.
Observam-se dois extremos tão ruins.
Num momento, a complacência com fenômenos que estimulam a erotização infanto-juvenil, que nos casos das meninas dos anos 90 resultou num contingente excessivo de siliconadas e outras que se consentiam em fazer papel de objetos sexuais na mídia "popular".
Noutro momento, é a intolerância social em torno de manifestações que não têm a provocação como um fim em si mesmo, mas a polêmica como um instrumento para o debate social, como no caso da nudez de Wagner Schwartz.
No fundo, são dois lados da mesma moeda.
Já vi, nos tempos do Orkut, jovens extremamente reacionários e machistas endeusando "mulheres-frutas" e outras siliconadas.
Fora das cavernas reaças das redes sociais, as esquerdas, inclusive muitas feministas, morderam a isca e acreditaram que as "mulheres-objeto" podiam expressar um "novo tipo de feminismo popular".
Criaram um maniqueísmo desnecessário entre duas visões machistas da mulher, a escrava do lar e a mulher-objeto, creditando esta última, erroneamente, como "feminista".
Permitiu-se, com isso, uma erotização da mulher que resultou, isso sim, nas baixarias dos machistas punheteiros de ônibus, ejaculando em público, na maior grosseria.
Se esses punheteiros, ao menos, guardassem a imagem das mulheres com que se sentiram excitados e forem ao banheiro mais próximo fazer "sua necessidade", seria menos mal.
São libertinagens e moralismos que se resultam na atrofia de valores moralistas confusos, libertinos por um lado, repressivos por outro.
O risco é isso resultar na liberdade política de uns extremistas em conquistar o poder defendendo o fim dos direitos humanos. Se isso ocorrer, acabou o Brasil.
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