O "funk" se alimentou durante muitos anos pela falácia de que apavorava os barões da mídia, a plutocracia e dominava o mercado como se fosse uma ocupação de guerrilha.
A falsa imagem de "inimigo do establishment", mesmo discutível em muitos aspectos, prevaleceu no discurso vendido pela intelectualidade dominante nos últimos quinze anos.
A fácil penetração dos funqueiros no "esquemão" midiático, na qual se observa a cooperação decisiva e explícita das Organizações Globo, é um exemplo de como o discurso de "combate ao establishment" do "funk" foi conversa para boi dormir.
Com o poder da grande mídia exercendo influência ainda mais dominante sobre os jovens, a coisa se torna mais complexa.
A educação midiática dos jovens os empurra cada vez mais para ritmos musicais mais simplórios, como o "funk" e o "sertanejo".
A catarse passou a ter maior peso do que qualquer expressão artística.
A "relevância cultural" se torna refém das circunstâncias, como se as conveniências do momento ditassem o que deve e o que não deve ser folclore dentro de um grupo social.
Algo não mais horizontal, do contato comunitário, mas ditado pelo mercado e pela mídia hegemônica, mediante uma produção de consenso trabalhada pela retórica acadêmica-intelectual.
Dito isso, observa-se a realização de um evento, programado entre setembro e novembro, em São Paulo.
É o "Balada Campeã", uma série de "bailes funk" realizada em escolas públicas de várias comunidades suburbanas da cidade de São Paulo, como Brasilândia e Paraisópolis, esta inspiradora de uma novela homônima da Rede Globo.
O evento conta com referências que causariam estranheza nas esquerdas médias que acreditam que o "funk" é sinônimo de guevarismo bolivariano e a gíria "balada" um jargão que se propagou como o ar que respiramos.
O evento é patrocinado pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que dispensa comentários, com o apoio de esportistas como Maurício, do Vôlei, visto no vídeo de campanha presidencial de Aécio Neves de 2014.
A gíria "balada", usada no nome, sabe-se que é um jargão popularizado por iniciativa de Luciano Huck em parceria com a Jovem Pan e a Rede Globo.
A intenção parece, à primeira vista, louvável, que é criar opções de lazer fora da bagunça dos postos de gasolina.
Que o evento vá em frente, portanto, se os jovens já estão acostumados a ouvir o "funk", conquanto que não provoque poluição sonora que prejudique o sono da vizinhança.
A lição do "baile funk" que faz a cabeça dos jovens de hoje é que o "funk" nunca representou ameaça ao poder midiático nem a ocupação subversiva do establishment mercadológico.
O "funk" sempre foi amigo do sistema, com excelentes relações com o poder midiático. Em especial as Organizações Globo.
E isso se confirma com o patrocínio que Geraldo Alckmin dá a este e outros eventos "populares demais", que só na imaginação da intelectualidade "bacana" causam pavor ao baronato midiático e seus aliados.
Que eventos assim possam ocorrer em paz, na mais absoluta tranquilidade.
Só se deve ter a consciência de que eles nem de longe perturbam os barões da grande mídia nem os senhores do "deus" mercado.
Pelo contrário, os jovens ali pouco tem a ver com a rebeldia de sua faixa etária, assim como os "bailes funk" pouco têm a ver com a verdadeira função da cultura de intervir na realidade.
Os jovens estão ali cumprindo o que esperam os detentores do poder midiático e mercadológico que tem no "funk" um de seus principais produtos.
Os cherões da mídia e do mercado estão mais felizes pelo poder comercial do "funk" e pelo apetite crescente dos jovens nos últimos 25 anos ao consumismo da música brega-popularesca, o pop comercial brasileiro.
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