Confesso que nunca fui com a cara do Rick Bonadio, acho ele um produtor muito comercial, ele passa pano em muita atração popularesca que existe por aí e foi um dos principais produtores do rock engraçadinho que assolou o Brasil nos anos 1990.
Mas me sinto na responsabilidade de concordar, em parte, com ele, no episódio do Grammy deste ano.
Vamos começar do começo, é claro.
A rapper Cardi B, um dos ícones do ultracomercialismo dos EUA, foi uma das que se apresentaram no famoso evento de premiação musical.
O sucesso escolhido foi "WAP" na versão remix do DJ carioca Pedro Sampaio, que inclui trechos de "funk carioca".
Foi aí que Bonadio, ao ver a apresentação, lamentou:
"Já exportamos bossa nova, já exportamos samba rock, Jobim, Ben Jor. Até Roberto Carlos. Mas o barulho que fizeram por causa de 15 segundos de funk na apresentação de Cardi B me deixa com vergonha. Precisamos exportar música boa e não esse 'fica de quatro'".
Olha que Bonadio nem foi tão crítico assim. Vejamos:
"Eu sinto a necessidade de criticar algumas situações pq vejo uma alienação generalizada. O Funk precisa evoluir. Os funkeiros precisam ousar evoluir musicalmente para crescer. Não se pode fazer o mesmo sempre pq isso da certo. Meu post anterior não teve a intenção destrutiva".
"Não da pra aceitar que sempre a mesma batida com letras de putaria seja algo necessário ou a " cultura do país " . De qqr forma eu respeito todos do Funk por suas batalhas e vitórias. Desculpem se ofendi, nunca é minha intenção".
Mesmo assim, veio a hidrofobia de funqueiros como Anitta, Lexa, Tati Quebra-Barraco e Valesca Popozuda, de nomes do ultracomercialismo brasileiro como Luísa Sonza, etc., e nomes como a atriz Clarice Falcão e tantos outros.
Luísa Sonza chamou Bonadio de "ultrapassado". Anitta comparou o "funk" com a Bossa Nova no suposto vitimismo diante dos gringos. Valesca diz que seus "proibidões" geram empregos.
Outra que comentou, MC Rebecca, disse que gostaria de ter "mais gente divulgando o funk pelo mundo".
Blá, blá, blá, blá, blá, blá. A mesma choradeira do "funk", reclamando do "preconceito", a mesma carteirada de (suposta) "cultura e movimento musical" etc etc etc.
Sempre aquele "papo cabeça" que já torrou o saco: "funk é cultura, movimento social das periferias" e um monte de mimimi pretensamente intelectualizado.
E aí eu me lembro de um vídeo recente do Lord Vinheteiro, quando ele, de barco, mostra cantos de passarinhos escondidos em arbustos e plantas.
Ele afirma que os cantos dos passarinhos são música, enquanto o "funk" ele reafirma como uma grande porcaria.
As pessoas vão rir a respeito dos passarinhos. Mesmo? Lembremos que Tom Jobim, um dos músicos da Bossa Nova, era um dos que mais valorizavam os cantos dos passarinhos, que inspiraram seus discos nos anos finais de sua vida.
O "funk" é conhecido por sua arrogância, e isso se deu por conta de uma campanha tendenciosa de uma elite de intelectuais. Tem que ler Esses Intelectuais Pertinentes... para saber mais detalhes.
E é lamentável essa arrogância toda prevalecer, nesses contextos da disputa de narrativas entre as esquerdas identotárias e os bolsomínions, dois lados de uma mesma moeda idiotizada no nosso país.
Precisamos ter um pouco mais de senso crítico, e essa aridez de questionamentos, acrescida de toda a passagem de pano que se dá ao establishment de hoje em dia, é tão grave que até um meio questionamento já traz reações de raiva animal.
Rick Bonadio, como também Jorge Vercilo, até passam o pano mesmo depois de críticas consistentes, e, mesmo assim, são atacados por uma horda de gente raivosa que não tolera que se critique um espirro dela.
Assim o Brasil não vai para a frente. Ele vai caindo e descendo até o chão. Ou talvez debaixo dele.
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