Sim, entrei no "clube". Completo 50 anos oficialmente, às 10h 30 minutos, pois, há cinco décadas, eu nasci numa maternidade de Florianópolis, no lado da Ilha, embora minha família fosse do Estreito.
Não parece, mas agora com o que muitos consideram um "cinquentão". Mas não preciso me assustar com isso. Tem muito moleque na casa dos 50 ou mais.
Pelo menos, não tropecei nos 50 anos, como tanta gente por aí. Já pensava os 50 anos, pelo menos, desde 2002.
Sou assim. Já pensava os 16 anos quando tinha sete anos. Com oito, já pensava os 25 anos. Com 25, já pensava os 30. E quando tinha entre 12 e 15 anos, não me eram segredo as experiências vividas pelo pessoal de 18 anos.
Questão de preparo, não de pedantismo.
Vergonha ver empresários de 50 anos vir com aquela falácia de "50 anos de idade e 70 de vivência", com um pedantismo horroroso.
Empresários (e médicos, economistas, advogados etc), com esposas lindas e jovens a tiracolo, quando nascidos nos anos 1950, chegavam aos 50 anos fingindo que "viveram muito" os anos 1940.
Aquelas bajulações aos referenciais dos anos 1940-1950 que estavam em evidência quando esses coroas eram criancinhas.
E os nascidos nos anos 1960? Ver empresário nascido em 1968, nos bate-papos com amigos, falando em Woodstock 1969 como se ele tivesse sido convidado para ir lá e não quis.
Pelo que eu saiba, por mais loucos que fossem os hippies, não creio que eles possam convidar bebês ou fetos para assistirem ao festival que teve Jimi Hendrix, Janis Joplin, Richie Ravens, Ravi Shankar, Crosby Stills Nash & Young, entre outros.
Se fosse o Woodstock 1994, eu até acreditaria. Mas 1969?
Se eu conheço coisas que ocorreram anos antes do meu berço, é porque eu tinha faro de pesquisador. Não é uma boa vida empresarial que faz alguém se tornar um perito do passado, não é?
Aliás, o que vejo no universo dos 50 ou dos mais de 50 é um clima semelhante a de calouros de universidade em comédia estudantil.
As pessoas estão mais grisalhas e fora de forma, mas nem por isso se tornaram mais experientes, salvo honrosas exceções.
Todos parecem calouros universitários. Vejam as redes sociais. Gente com mais de 50 anos atuando como se nem 18 anos tivessem.
Só há um acanhamento. Titios à beira dos 70 anos fingindo gostar de jazz, enquanto fuxicam os discos de Rock Brasil dos anos 1980 de seus filhos mais velhos.
Também, não há como levar a sério esses tiozões que, quando jovens, só ouviam Eagles, Doobie Brothers, Chicago e Toto e, depois dos 50, juram que são peritos da fase áurea do jazz estadunidense, não conseguindo ver diferença entre o pop romântico dos standards e o complexo be bop.
Não, também não vou fazer papel de vintage nos meus 50 anos. Serei eu mesmo, e sempre respeitando um adolescente sonhador de 13 anos, aquele que eu fui em 1984 e do qual continuo me identificando bastante.
Acho maturidade uma grande bobagem, uma criancice de pessoas inseguras no crepúsculo da vida, e nem estou preocupado com isso.
Eu apenas faço mais um ano de vida, como antes. Apenas mudando no que deve ser mudado.
Aliás, isso é um fato novo: antes os 50 anos eram a consolidação e a imutabilidade de tudo, até dos piores erros humanos, das piores manias pessoais.
Hoje os 50 anos, ou os 60 e 70 anos, exigem profundas mudanças individuais, que apenas eram exigências de quem tinha menos de 30 anos de idade.
Nunca as pessoas de cabelos grisalhos e brancos tiveram tanta pressão em mudar de valores, mudando hábitos, gostos culturais, pontos de vista, e ainda por cima apagando mensagens indevidas que despejam por impulso nas redes sociais.
Nunca maridos mais velhos de moças atraentes se sentem abaixo dos amigos da idade de suas esposas, tendo que se ajoelhar a estes e a ouvir seus conselhos. Homens de 70 com mulheres de 45 tendo que acatar recomendações de rapazes de 45 ou menos. Sente só o negócio.
Eu não quero ser sábio, mas também não fico arrogante dizendo "A gente mais aprende que ensina". Isso é apenas uma tradução sênior à falácia adolescente "Eu encaro qualquer parada".
Afinal, a vida não é fácil. Quando se aprende, muitas vezes se derrubam convicções antigas e se é convocado a sair de zonas de conforto há muito consolidadas.
Sempre fui um homem do Rio de Janeiro, de Niterói, cidade onde fui criado depois de sair de Floripa e onde passei três fases da minha vida: 1972-1977, 1981-1990 e 2008-2021.
Agora, eu vivo em São Paulo, que sempre vi como "o outro lado", nunca me imaginando me tornar um cidadão paulista. Mas agora eu sou, justamente numa idade em que os valores deveriam ter sido colados na mente humana com cola Super Bonder.
Tive a coragem de me reinventar, deixando uma Niterói assolada no seu autismo coletivo - no qual há a aceitação confortável até de aberrações como os parquiletes (parklets) - , porque não queria cair na areia movediça do conformismo viciado.
E agora, procuro reconstruir minha vida em São Paulo. Eu e meu grande amigo, que nasceu comigo, meu irmão Marcelo.
Não há idade para se reinventar. E hoje os mais velhos é que precisam rever seus valores e talvez a questão não seja de ensinar muito, porque infelizmente há a pressão para que os velhos ensinem até o que não sabem.
E isso quando o Alzheimer e o Dunning-Kruger se duelam nas mentes cobertas de cabelos grisalhos ou brancos, por vezes ralos.
Estou lúcido, com a mente boa, lutando para não esquecer as coisas. E, para mim, a entrada dos 50 anos não é a entrada de uma fase de sabedoria. É apenas uma forma de dizer que continuo vivo e que o maior ensinamento é simplesmente levar a vida adiante.
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