É vergonhoso o descaso que a cidade de Niterói tem com a rodovia RJ-106, da qual se julga dona dele.
Prefere ver a rodovia como um "palco" onde desfilam veículos que vão e vem de bairros como Rio do Ouro, Várzea das Moças, Maria Paula e Baldeador.
Há tempos a rodovia tem, no trecho niteroiense, a humilhante função de "avenida de bairro". Pior: a "avenida de bairro" tem até nome: Doutor Eugênio Borges.
Há muito se fala do problema dessa "avenida de bairro", numa rodovia que liga cidades distantes, como Cabo Frio e Macaé, e é um dos principais acessos para cidades como Saquarema e Maricá.
Portanto, a "avenida de bairro" que não perturba o sono dos niteroienses, mais preocupados com o desempenho do Flamengo no futebol carioca e brasileiro, traz problemas até na vida econômica de quem vive na Região dos Lagos.
Paciência. Infelizmente, os niteroienses, mergulhados no provincianismo, essa areia movediça que engole o Grande Rio, só entendem de dois tipos de mobilidade urbana, além do solipsismo das ciclovias.
A "mobilidade" etílica, da garrafa de cerveja derramando líquido do copo e a mão levando esse copo para a boca de alguém, e a "mobilidade" da bola de futebol sendo levada a um gol do adversário de um dos quatro times caricoas.
Até quando reclamam de congestionamentos, o fazem mais como hobby do que como indignação.
E aí, quando se fala da "avenida de bairro" que é um problema na RJ-106 - que é rodovia estadual - , o pessoal se comporta como um autista.
Há congestionamentos monstruosos na RJ-106, às vezes até de noite, sobretudo quando há acidentes e protestos de moradores.
Houve caso de um ônibus da Viação Nossa Senhora do Amparo, na longa travessia de Várzea das Moças para Maria Paula, retornando quase em Maricá e que, na sua justa pressa em não perder tempo, se atolou num dos separadores das pistas da rodovia.
Frequentemente, distribuidores têm que diminuir velocidade atrasando o fornecimento de produtos, vários deles perecíveis, para os mercados de Sampaio Correia, Maricá (inclusive Jaconé) e Saquarema.
O trânsito da RJ-106 no trecho niteroiense só é "sempre tranquilo" na imagem estática do Google Street View.
Mas o niteroiense médio nem passa por aí. Só passa o feriado na Barra da Tijuca, Copacabana, nem sabe direito onde fica Tribobó.
Ele acha que para ir para a Região dos Lagos, basta pegar a BR-101, a Niterói-Manilha, ou, quando muito, a RJ-104 em direção a São Gonçalo e Itaboraí.
Que solipsismo irritante! A pessoa não perceber o quanto o pessoal de Cabo Frio reclama porque falta produto nos supermercados. Imagine viver em Saquarema e ter que esperar duas semanas porque os produtos importantes não chegaram no mercado e o distribuidor se "atolou" na RJ-106!
Daí que tudo se tornou vergonhoso para Niterói, e isso se compara não só ao fato de que Salvador, capital da Bahia que faz aniversário hoje (472 anos), construir tudo quanto é via para escoamento do tráfego.
Sabe-se que lá se fez rodovia de ligação entre a Avenida Paralela à rodovia BR-324, rodovia ligando a Orla ao subúrbio médio (Largo do Tanque), de Lauro de Freitas a Camaçari, etc.
Se isso não sensibiliza os niteroienses, usemos como exemplo dentro do Grande Rio.
Só no município do Rio de Janeiro, as construções da Linha Amarela, da Linha Vermelha e, no passado, das vias que envolvem o Túnel Santa Bárbara e a Auto-Estrada Lagoa-Barra, já seriam um puxão de orelha em quem fica feliz com a "avenida de bairro" da RJ-106.
Mais exemplos? A Via Light, na Baixada Fluminense, entre Nova Iguaçu e Nilópolis em direção à Pavuna, no Rio de Janeiro. Pela ótica do niteroiense médio, a Via Light é "desnecessária" porque basta ir pela Via Dutra.
Mas até a Ponte Rio-Niterói seria desnecessária sob essa ótica. Bastaria ir de Niterói para o Rio de Janeiro via Magé. É "rapidinho", o trânsito é "bem tranquilo".
Percorrendo a Via Dutra, nas minhas viagens de preparação para morar em São Paulo, minha atual residência, vejo o quanto as rodovias não só são largas, como têm viadutos e avenidas transversais sobre ou sob a rodovia.
E em outras rodovias na Grande São Paulo ocorre a mesma coisa. Mas, paciência, o niteroiense médio está ocupado em coisas "importantes", como aquele "jogão" com o Flamengo.
Fala-se até em duplicar a RJ-106. Mas ninguém fala em nova avenida ligando Rio do Ouro a Várzea das Moças, com algum mergulhão para Ipiiba ou Jóquei, ou alguma extensão para Itaipu e Itaipuaçu.
Não são a "mobilidade urbana" da cerveja gelada ou da bola no campo, as "mais importantes" do niteroiense médio.
De que adianta duplicar a RJ-106, se a "avenida de bairro" continua, forçando os veículos que vão e vem da Região dos Lagos a disputarem pista com os veículos que vão e vem dos bairros niteroienses?
O mais grave é que o DER-RJ, responsável pela RJ-106, fica passando pano nesse problema da "avenida de bairro", pensando em privatizar a rodovia sem no entanto pensar na resolução do problema.
E, quando era governador do Rio de Janeiro, a única coisa que Wilson Witzel pensou para a região é uma imitação do túnel Cafubá-Charitas ligando Itaipu a Itaipuaçu. Para a RJ-106, deixem os problemas serem resolvidos pelas orações de um "centro espírita" localizado em Várzea das Moças.
É preciso sair da zona de conforto e pensar a mobilidade urbana de maneira estratégica, ou então o trânsito vai chegar a níveis insustentáveis até para quem só encara a "mobilidade" da mão levando o copo de cerveja para a boca e da bola caminhando para o gol em favor dos times cariocas.
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