Pular para o conteúdo principal

A ARROGÂNCIA VITIMISTA-TRIUNFALISTA DO "FUNK"


A polêmica com o produtor Rick Bonadio, que não é figura admirada por mim (ele foi um dos responsáveis por aquele terrível cenário de rock engraçadinho dos anos 1990), continua rendendo.

Mais uma matéria apela para a já repetitiva e chata choradeira em prol do "funk", com muito papo-cabeça, muito vitimismo e muito triunfalismo.

Desta vez, foi nos quintais da família Frias, dona da Folha de São Paulo e do Universo On Line, por meio de uma matéria do portal TAB, com o arrogante título "Quem não gostou, paciência!".

Enfatizando declarações de Tati Quebra-Barraco, que havia sido queridinha da Folha de São Paulo e foi entrevistada por Pedro Alexandre Sanches - quando ele era o "filho" do Projeto Folha - , a matéria realimenta os clichês de sempre.

A matéria também cita o MC Colibri, que é uma espécie de genérico do falecido Mr. Catra.

A tônica, no entanto, está na putaria. Sempre na choradeira das críticas moralistas e na atribuição de que "no rock e na MPB tem muita putaria e ninguém critica".

Os funqueiros sempre investem nesse discurso, e apelam para a "criação de empregos", como no depoimento de MC Serginho, agora radialista da Rádio Roquette Pinto FM, famoso pelo sucesso "Eguinha Pocotó".

Serginho, que qualificou as críticas ao "funk" como "hipócritas, moralistas e desmerecedoras do potencial ressocializador do gênero musical", disse o seguinte:

"Onde tem um baile funk, tem uma tiazinha vendendo cachorro-quente, um cara vendendo água, cerveja. Deviam criticar é a política que deixa a periferia à míngua, não a putaria, que muda a vida de quem não tem oportunidade".

Na verdade, o "funk" não tem autocrítica e sempre repete esse discurso com muita arrogância.

Por sorte, o "funk" é o IPES-IBAD da música brasileira. Traz um arsenal de argumentos, uns verossímeis, outros risíveis, que só tapeiam a ruindade musical do gênero.

E tudo isso com a mesma carteirada: "cultura das periferias", "expressão do povo pobre" etc.

Será que o pessoal pobre gosta mesmo de "funk" ou só ouve aquilo porque não tem outra alternativa?

E as mães? E os pais? E os adultos pobres, que desconfiam dessa ruindade musical do "funk", eles que souberam que as comunidades pobres produziram músicas infinitamente melhores no passado?

E ninguém fala do rigor estético nivelado por baixo do "funk". O "funk" reclama da discriminação, mas ele foi o primeiro a discriminar a figura dos músicos.

O "funk" é a precarização musical por excelência.

Sabe o que era o funk autêntico? Guitarra, baixo, bateria, teclados e uma grande orquestra por trás.

Bons cantores, boas composições, bons arranjos.

E o funk autêntico eletrônico? Sintetizadores e bateria eletrônica, sim, mas bons vocais e boas composições.

E o que é esse "funk" tão "maravilhoso"? Um irritante rigor estético no qual tem que haver a rígida dicotomia do DJ e do MC, sem que instrumentos musicais fossem levados em conta, a não ser de forma tendenciosa e oportunista, isso quando não é som de sâmpler.

Tudo não passa de um karaokê metido a besta, com uma clara hierarquização do DJ com o MC, porque este só vem com a letra.

Não há músicos, não há compositores, não há arranjos.

O que sobra é a choradeira, essa arrogância vitimista-triunfalista de funqueiros que vivem se achando.

Hipócrita é o discurso de defesa do "funk". Tanta choradeira para vender um ritmo que musicalmente nem é tão grande coisa assim.

Quem é hipócrita são eles, eles é que são moralistas à sua maneira, porque, para eles, povo pobre tem que ficar rebolando e descendo até o chão, e nunca lutando realmente por seus direitos.

Tem muita gente sem teto, sem emprego, sem terra, e os funqueiros nem aí. Fingem defender, mas isso é só conversa para boi dormir.

O que o "funk" quer, isso sim, é a espetacularização da pobreza, é a glamourização da miséria, e depois bota na conta da sociedade. Com o "funk", a objetificação do corpo feminino é tida como suposto feminismo popular.

Mas a culpa é da sociedade, né? Tudo bem. Mas o "funk" lutou para combater isso? Não. O "funk" sempre passou pano nos defeitos que expressa "em função da sociedade em que vivemos".

O que o "funk" canta é a "pobreza feliz", ou, quando muito, o embarque em agendas negativas solipsistas, como a violência policial, o estupro etc.

O "funk" gera empregos? E a precarização do trabalho que ocorre nos bastidores do "funk", com empresários e ídolos ricos, enquanto o povo pobre vai que nem gado gastar ingressos sem que tivesse uma cultura de verdade que lhes fizesse superar a miséria cotidiana em que vive?

Mas a verdade é que o "funk" nunca se interessou em superar os defeitos que tem e dos quais põem a culpa na sociedade em que se vive.

O "funk", sim, é o suprassumo da hipocrisia humana, da falsidade, do oportunismo, da arrogância. Essa é que é a verdade. Quem não gostou destes comentários, paciência!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

INFANTILIZAÇÃO E ADULTIZAÇÃO

A sociedade brasileira vive uma situação estranha, sob todos os aspectos. Temos uma elite infantilizada, com pessoas de 18 a 25 anos mostrando um forte semblante infantil, diferente do que eu via há cerca de 45 anos, quando via pessoas de 22 anos que me pareciam “plenamente adultas”. É um cenário em que a infantilizada sociedade woke brasileira, que chega a definir os inócuos e tolos sucessos “Ilariê” e “Xibom Bom Bom” cono canções de protesto e define como “Bob Dylan da Central” o Odair José, na verdade o “Pat Boone dos Jardins”, apostar num idoso doente de 80 anos para conduzir o futuro do Brasil. A denúncia recente do influenciador e humorista Felca sobre a adultização de menores do ídolo do brega-funk Hytalo Santos, que foi preso enquanto planejava fugir do Brasil, é apenas uma pequena parte de um contexto muito complexo de um colapso etário muito grande. Isso inclui até mesmo uma geração de empresários e profissionais liberais que, cerca de duas décadas atrás, viraram os queridões...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

DENÚNCIA GRAVE: "MÉDIUM" TIDO COMO "SÍMBOLO DE AMOR E FRATERNIDADE" COLABOROU COM A DITADURA

O famoso "médium" que é conhecido como "símbolo maior de amor e fraternidade", que "viveu apenas pela dedicação ao próximo" e era tido como "lápis de Deus" foi um colaborador perigoso da ditadura militar. Não vou dizer o nome desse sujeito, para não trazer más energias. Mas ele era de Minas Gerais e foi conhecido por usar perucas e ternos cafonas, óculos escuros e por defender ideias ultraconservadoras calcadas no princípio de que "devemos aceitar os infortúnios e agradecer a Deus pela desgraça obtida". O pretexto era que, aceitando o sofrimento "sem queixumes", se obterá as prometidas "bênçãos divinas". Sádico, o "bondoso homem" - que muitos chegaram a enfiar a palavra "Amor" como um suposto sobrenome - dizia que as "bênçãos futuras" eram mais dificuldades, principalmente servidão, disciplina e adversidades cruéis. Fui espírita - isto é, nos padrões em que essa opção religi...

BURGUESIA ILUSTRADA QUER “SUBSTITUIR” O POVO BRASILEIRO

O protagonismo que uma parcela de brasileiros que estão bem de vida vivenciam, desde que um Lula voltou ao poder entrosado com as classes dominantes, revela uma grande pegadinha para a opinião pública, coisa que poucos conseguem perceber com a necessária lucidez e um pouco de objetividade. A narrativa oficial é que as classes populares no Brasil integram uma revolução sem precedentes na História da Humanidade e que estão perto de conquistar o mundo, com o nosso país transformado em quinta maior economia do planeta e já integrando o banquete das nações desenvolvidas. Mas a gente vê, fora dessa bolha nas redes sociais, que a situação não é bem assim. Há muitas pessoas sofrendo, entre favelados, camponeses e sem-teto, e a "boa" sociedade nem está aí. Até porque uma narrativa dos tempos do Segundo Império retoma seu vigor, num novo contexto. Naquele tempo, "povo" brasileiro eram as pessoas bem de vida, de pele branca, geralmente de origem ibérica, ou seja, portuguesa ou...

A HIPOCRISIA DA ELITE DO BOM ATRASO

Quanta falsidade. Se levarmos em conta sobre o que se diz e o que se faz crer, o Brasil é um dos maiores países socialistas do mundo, mas que faz parte do Primeiro Mundo e tem uma das populações mais pobres do planeta, mas que tem dinheiro de sobra para viajar para Bariloche e Cancún como quem vai para a casa da titia e compra um carro para cada membro da família, além de criar, no mínimo, três cachorros. É uma equação maluca essa, daí não ser difícil notar essa falsidade que existe aos montes nas redes sociais. É tanto pobre cheio da grana que a gente desconfia, e tanto “neoliberal de esquerda” que tudo o que acaba acontecendo são as tretas que acontecem envolvendo o “esquerdismo de resultados” e a extrema-direita. A elite do bom atraso, aliás, se compôs com a volta dos pseudo-esquerdistas, discípulos da Era FHC que fingiram serem “de esquerda” nos tempos do Orkut, a se somar aos esquerdistas domesticados e economicamente remediados. Juntamente com a burguesia ilustrada e a pequena bu...

DOUTORADO SOBRE "FUNK" É CHEIO DE EQUÍVOCOS

Não ia escrever mais um texto consecutivo sobre "funk", ocupado com tantas coisas - estou começando a vida em São Paulo - , mas uma matéria me obrigou a comentar mais o assunto. Uma reportagem do Splash , portal de entretenimento do UOL, narrou a iniciativa de Thiago de Souza, o Thiagson, músico formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) que resolveu estudar o "funk". Thiagson é autor de uma tese de doutorado sobre o gênero para a Universidade de São Paulo (USP) e já começa com um erro: o de dizer que o "funk" é o ritmo menos aceito pelos meios acadêmicos. Relaxe, rapaz: a USP, nos anos 1990, mostrou que se formou uma intelectualidade bem "bacaninha", que é a que mais defende o "funk", vide a campanha "contra o preconceito" que eu escrevi no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes... . O meu livro, paciência, foi desenvolvido combinando pesquisa e senso crítico que se tornam raros nas teses de pós-graduação que, em s...

NEGACIONISTA FACTUAL E SUAS RAÍZES SOCIAIS

O NEGACIONISTA FACTUAL REPRESENTA O FILHO DA SOCIALITE DESCOLADA COM O CENSOR AUSTERO, NOS ANOS DE CHUMBO. O negacionista factual é o filho do casamento do desbunde com a censura e o protótipo ilustrativo desse “isentão” dos tempos atuais pode explicar as posturas desse cidadão ao mesmo tempo amante do hedonismo desenfreado e hostil ao pensamento crítico. O sujeito que simboliza o negacionista factual é um homem de cerca de 50 anos, nascido de uma mãe que havia sido, na época, uma ex-modelo e socialite que eventualmente se divertia, durante as viagens profissionais, nas festas descoladas do desbunde. Já o seu pai, uns dez anos mais velho que sua mãe, havia sido, na época da infância do garoto, um funcionário da Censura Federal, um homem sisudo com manias de ser cumpridor de deveres, com personalidade conservadora e moralista. O casal se divorciou com o menino tendo apenas oito anos de idade. Mas isso não impediu a coexistência da formação dúbia do negacionista factual, que assimilou as...

A IMPORTÂNCIA DE SABERMOS A LINHA DO TEMPO DO GOLPE DE 2016

Hoje o golpismo político que escandalizou o Brasil em 2016 anda muito subestimado. O legado do golpe está erroneamente atribuído exclusivamente a Jair Bolsonaro, quando sabemos que este, por mais nefasto e nocivo que seja, foi apenas um operador desse período, hoje ofuscado pelos episódios da reunião do plano de golpe em 2022 e a revolta de Oito de Janeiro em 2023. Mas há quem espalhe na Internet que Jair Bolsonaro, entre nove e trinta anos de idade no período ditatorial, criou o golpe de 1964 (!). De repente os lulistas trocaram a narrativa. Falam do golpe de 2016 como um fato nefasto, já que atingiu uma presidenta do PT. Mas falam de forma secundária e superficial. As negociações da direita moderada com Lula são a senha dessa postura bastante estranha que as esquerdas médias passaram a ter nos últimos quatro anos. A memória curta é um fenômeno muito comum no Brasil, pois ela corresponde ao esquecimento tendencioso dos erros passados, quando parte dos algozes ou pilantras do passado r...