Pular para o conteúdo principal

AS RAÍZES DO PRECONCEITO HIDRÓFOBO CONTRA BRASILEIROS


Um episódio ocorrido na Universidade do Porto, na homônima cidade de Portugal, nos faz pensar sobre a imagem de preconceito que atinge os brasileiros em geral.

Um professor auxiliar da Faculdade de Economia do Porto (FEP), Pedro Cosme da Costa Vieira, foi denunciado por expressar comentários hidrófobos e discriminatórios, incluindo machismo e racismo, contra brasileiros, em suas exposições de aula.

Nada menos que 129 alunos, inclusive fora da faculdade, assinaram manifesto pedindo a saída do docente, que entre outras coisas disse que "mulheres brasileiras são uma mercadoria".

Esse comentário reflete a mentalidade que existe no próprio Brasil, onde temos uma cultura popularesca que deprecia "positivamente" o povo pobre e, em contrapartida, uma elite preconceituosa que não pensa diferente de Costa Vieira, com a diferença que os ataques são compatriotas.

Ninguém lê Esses Intelectuais Pertinentes... e  por isso importantes questões acerca do preconceito contra os brasileiros não são publicamente ou, ao menos, profundamente conhecidas.

Fico batendo nessa tecla não porque o livro é meu, que fui eu quem escreveu o livro, mas porque ele apresenta abordagens que estão ausentes na quase totalidade de obras sob o tema da cultura.

Essa onda de preconceito veio porque houve, no Brasil, uma campanha que, sob o pretexto do "combate ao preconceito", se defendeu a deterioração da cultura popular e, como se não bastasse, jogasse as classes trabalhadoras (antiga classe média) no mesmo lodo.

Na chamada bregalização cultural, há desde a visão, preconceituosa, de que as favelas são "um bom lugar para os pobres morarem", até a transmissão de valores machistas e racistas anti-negros fantasiados de feminismo e negritude, respectivamente.

É uma forma de tentar inverter o discurso preconceituoso de forma que pareçam discursos de auto-afirmação das identidades sociais afetadas.

O pessoal fica horrorizado quando vê que um livro como o meu contesta a bregalização que mesmo setores das esquerdas acham "linda" e "maravilhosa".

Preferem a fuga dupla. Daí as ficções medievais que vendem fácil, mas custam caro para o leitor: sagas aventureiras, fantasiosas e de suspense de mais de dez volumes, muitos com fonte gráfica maior, páginas em branco e tudo o mais para encarecer o produto.

Meu livro custa cerca de R$ 42 reais, descontando frete, e suas páginas tiveram o maior aproveitamento de texto possível, informação farta com 276 páginas.

Já a saga medieval, que custa em média R$ 35 por cada volume com a mesma quantidade de páginas e conteúdo de texto digno de livro de 180 páginas, pode custar no seu todo, no mínimo, dez vezes o meu livro.

E onde está a dupla fuga? Está em dois aspectos: problemas fictícios próprios dessa literatura, que fogem dos problemas da realidade. E o fato de que, sendo ficções medievais, elas ocorrem em países nórdicos, distantes do Brasil.

Em outras palavras: fuga do Brasil e dos problemas presentes em sua realidade. Literatura anestesiante, na cara dura. E isso não dá margem a análises subliminares como se os problemas medievais fossem análogos aos problemas brasileiros.

Não são. Que sentido tem buscar o segredo da espada isso, do tesouro daquilo, diante de um cenário brasileiro em que pessoas pobres são vítimas de fome e de violência?

Daí que muita gente que se diz "desprovida de preconceitos" é tão preconceituosa quanto o professor Costa Vieira, que lá em Porto foi suspenso de suas atividades docentes por 90 dias (pouco, diante da gravidade de seus comentários).

Isso porque a campanha "contra o preconceito" presente em Esses Intelectuais Pertinentes... é bem mais perversa do que pregam as palavrinhas bonitinhas dos intelectuais "bacanas". Vão lá ler o livro e entender o pensamento dessa patota festiva.

Imagine tratar o povo pobre, mesmo numa narrativa "positiva" e "agradável", como uma multidão idiotizada que rebola e festeja os sucessos musicais popularescos e se ocupa com coisas "valiosas" como o alcoolismo e a objetificação do corpo através do sexo selvagem.

E isso fora a canastrice musical, a mediocridade cultural que salta aos olhos. O povo pobre é "melho" naquilo que tem de pior?

E os não-pobres, a antiga "classe média" anterior à reclassificação de Jessé Souza - que a define como "classe trabalhadora", diferente da "ralé" dos favelados, camponeses e miseráveis - , que ao estarem também associados ao brega-popularesco, também pagam pelo preconceito que sofrem.

E as pessoas não percebem isso. Acham lindo que as elites intelectuais descritas no meu livro empurrassem a bregalização cultural para o público universitário, sob a desculpa de "romper o preconceito".

"Romper o preconceito" é achar que o velho desdentado e bêbado que rebola parodiando dançarinas de "pagodão" na rua está "exercendo uma impressionante sabedoria pop".

"Romper o preconceito" é achar que o povo pobre não precisa de moradia melhor porque têm as favelas hoje convertidas em paisagem pitoresca de consumo, a serviço dos safáris humanos de turistas burgueses.

Tanto "combate ao preconceito" que mostrava o povo pobre de maneira "positivamente" depreciativa, no discurso "generoso" de intelectuais festejados, que isso mais impulsionou o agravamento de preconceitos, em vez do contrário.

Isso é o tom do meu livro Esses Intelectuais Pertinentes.... A inutilidade do "combate ao preconceito" que mostrava formas já preconceituosas de suposta expressão popular.

O que deveria chamar a atenção é que eu reproduzi os discursos dos intelectuais envolvidos. Dei "voz" a eles, não é um livro de ataques, de pedras jogadas do escuro.

É um livro de Conhecimento, com as páginas aproveitando o máximo de texto e informações sem que precisassem render um livro pesado e caro.

Diferente de muitos livros de duzentas e tantas páginas de ficção medieval, que pelas fontes gráficas enormes e pelo espaço desperdiçado por páginas ilustradas e outras em branco, mal conseguem dar 180 páginas de texto, talvez dando até menos.

E é esse discurso da intelectualidade pró-brega que rendeu a onda de preconceito que se deu de 2015 até agora.

Porque a ruptura do preconceito esbarrou na mais cínica passagem de pano que uma elite pensante se atreveu a fazer em torno da degradação da cultura popular.

Como alguém que atirou pedra na vidraça da casa do vizinho, todo esse pessoal fugiu, e agora todos mudaram de assunto, exceto Roberto Albergaria, antropólogo baiano, que foi para o além para ver a "brincadeiragem" e a "autoesculhambação" dos bregalhões já falecidos.

Ler Esses Intelectuais Pertinentes... é importante não porque fui eu o autor do livro, mas porque apresenta questões muito importantes sobre como um "combate ao preconceito" deu no golpe de 2016.

O jeito são os leitores deixarem do verdadeiro preconceito, o de recusar a ler um livro revelador, e ir para a Amazon adquirir essa urgente publicação.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

ESQUERDAS CORTEJANDO UMA CANTORA IDENTITARISTA... MAS CAPITALISTA

CARTAZ DA BOITEMPO JUNTANDO KARL MARX E MADONNA NO MESMO BALAIO. O Brasil está tendo uma aula gratuita do que é peleguismo, com Lula fazendo duplo jogo político enganando o povo pobre e se aliando com os ricos, e do que é pequena burguesia, com uma elite de classe média abastada que aoosta num esquerdismo infantilizado, identitarista e indiferente aos verdadeiros problemas das classes trabalhadoras. As esquerdas mainstream do Brasil, as esquerdas médias, são a tradução local da pequena burguesia falada pela teoria marxista. Uma esquerda que quer soar pop e que, através dos “brinquedos culturais” que fazem do Brasil a versão vida real da novela das 21 horas da Rede Globo, quer o mundo da direita moderada convertido num pretenso patrimônio esquerdista. Isso faz as esquerdas soarem patéticas em muitos momentos. Como se observa tanto na complacência do jornalista Julinho Bittencourt, da Revista Fórum, com o fato da apresentação de Madonna em Copacabana, no Rio de Janeiro, não ter músicos e

A “BOA” SOCIEDADE CANTANDO UMA CANÇÃO DE UM BOLSONARISTA!!!!

Bizarra a elite do bom atraso, nesse Brasil louco dos anos loucos à brasileira (ou Roaring Twenties pós-tropicalistas). Gente com orgulho de jogar comida fora, que acha futebol sinônimo de civismo, que adora filmes sobre pretensos fenômenos “espíritas” a ponto de botar frases de “médium” picareta defensor da ditadura militar para “alegrar o dia”, que não tem dinheiro para ajudar o próximo mas tem grana de sobra para comprar cervejas (consumidas em dimensões diluvianas) e até cigarros.  Essa gente egoísta metida a generosa ainda será assunto em outra postagem, pois aqui vamos mostrar apenas um aspecto desta burguesia ilustrada que se acha dona de tudo e ainda não se curou da obsessão de dominar o mundo, agora esperançosa de, quem sabe, contar com o apoio da senhorita Ciccone para tamanha ambição planetária. Pois a patota do viralatismo cultural enrustido, que acha que “música vintage” é Odair José, Michael Sullivan e É O Tchan e que acha que a perda do cantor do medíocre grupo Molejo, A

FLUMINENSE FM E O RADIALISMO ROCK QUE QUASE NÃO EXISTE MAIS

É vergonhoso ver como a cultura rock e seu mercado radiofônico se reduziram hoje em dia, num verdadeiro lixo que só serve para alimentar fortunas do empresariado do entretenimento, de promotoras de eventos, de anunciantes, da mídia associada, às custas de produtos caros que vendem para jovens desavisados em eventos musicais.  São os novos super-ricos a arrancar cada vez mais o dinheiro, o couro e até os rins de quem consome música em geral, e o rock, hoje reduzido a um teatro de marionetes e um picadeiro da Faria Lima, se tornou uma grande piada, mergulhada na mesmice do hit-parade . Ninguém mais garimpa grandes canções, conformada com os mesmos sucessos de sempre, esperando que Stranger Things e Velozes e Furiosos façam alguma canção obscura se popularizar. Nos anos 1980, houve uma rádio muito brilhante, que até hoje não deixou sucessora à altura, seja pelos critérios de programação, pelo leque amplo de músicas tocadas e pela linguagem própria de seus locutores, seja pelo alcance do s

O PESADELO GAÚCHO QUE DESAFIA O "SONHO BRASILEIRO"

O CENTRO DE PORTO ALEGRE COM ÁGUA QUE ATINGIU CINCO METROS DE ALAGAMENTO. Não há como sonhar grande. O risco de cair da cama é total. A terrível tragédia do temporal no Rio Grande do Sul é algo que nos faz parar para pensar. Isso é normal para um país próspero? Falta alguma consciência ambiental no nosso país? Até o fechamento deste texto, 56 pessoas morreram e vários estão entre feridos, desabrigados e desaparecidos. Porto Alegre, Caxias do Sul e Gramado estão entre as inúmeras cidades atingidas por chuvas intensas, vendavais, trovoadas e transborda de rios, entre eles o Guaíba. E nós manifestamos pesar sobre essa traumatizante ocorrência e solidariedade às vítimas. A situação é muito triste, mas não deixa de ser lamentável o oportunismo das subcelebridades, aspirantes a super-ricos, de oferecer doações milionárias para as vítimas das enchentes. Uma sociedade que, em condições naturais, quer demais para si e, egoísta, não quer abrir mão do supérfluo para ajudar o próximo a ter o neces

BRASIL NO APOGEU DO EGOÍSMO HUMANO

A "SOCIEDADE DO AMOR" E SEU APETITE VORAZ DE CONSUMIR O DINHEIRO EM EXCESSO QUE TEM. Nunca o egoísmo esteve tão em moda no Brasil. Pessoas com mão-de-vaca consumindo que nem loucos mas se recusando a ajudar o próximo. Poucos ajudam os miseráveis, poucos dão dinheiro para quem precisa. Muitos, porém, dizem não ter dinheiro para ajudar o próximo, e declaram isso com falsa gentileza, mal escondendo sua irritação. Mas são essas mesmas pessoas que têm muito dinheiro para comprar cigarros e cervejas, esses dois venenos cancerígenos que a "boa" sociedade consome em dimensões bíblicas, achando que vão viver até os 100 anos com essa verdadeira dieta do mal à base de muita nicotina e muito álcool. A dita "sociedade do amor", sem medo e sem amor, que é a elite do bom atraso, a burguesia de chinelos invisível a olho nu, está consumindo feito animais vorazes o que seus instintos veem como algo prazeroso. Pessoas transformadas em bichos, dominadas apenas por seus instin