EM SÃO PAULO, REDUTOS BOÊMIOS COMO NO CENTRO SÃO LOCAIS ONDE SE TOCAMUITA MÚSICA BREGA.
O brega-vintage, uma farsa difundida pelas redes sociais como um "saudosismo de resultados" para retomar velhos sucessos comerciais, fez com que a nostalgia musical brasileira fosse servida levando gato por lebre.
Pois com o brega-vintage e a gourmetização da música brega-popularesca do passado, agora a velha e chorosa música brega - que nunca foi vanguarda, do contrário que alardeou a solipsista intelectualidade burguesa paulistana - torna-se o novo modismo dentro da agenda musical popularesca dos "novos tempos" do lulismo.
Indo pelas ruas de São Paulo, cada vez mais bares e restaurantes de áreas populares, incluindo o velho Centro da cidade - em princípio belo, mas decadente - estão tocando velhos sucessos dos anos 1970, dos níveis de Waldick Soriano, Paulo Sérgio, Bartô Galeno, Fernando Mendes, Reginaldo Rossi e outros. Coisas que soam, portanto, muitíssimo mofadas, lembrando que os sucessos popularescos sempre são facilmente perecíveis, passados cinco meses de execução maciça nas rádios.
Sabemos que a chamada cultura popularesca, neste suposto empoderamento popular (que só alcança os chamados "pobres remediados" tutelados pela "classe média de Oslo / Helsinque" que fazem o "dever de casa" dos estereótipos cômico-novelescos), age com muita arrogância, principalmente pelas festas onde rolam os sucessos popularescos impondo poluição sonora nas vizinhanças.
Seja com a arrogante, provocadora (no sentido mais negativo do termo) e autoritária veiculação de sucessos popularescos em altíssimo volume, seja com a execução do mais deprimente brega antigo, com canções que não se decidem se são boleros ou country de tão precárias eram, o culturalismo musical popularesco tende a superar, em crueldade, a já perversa cena do bolsonarismo, fazendo com que os empresários da música "popular demais" se enriquecessem mais, pois ficarão com a grana privada para si e só investirão com as granas estatais do Ministério da Cultura lulista.
É um cenário horrível, deplorável, e, no momento em que escrevo, madrugada de domingo, a vizinhança despeja lixo sonoro por conta da música popularesca contemporânea. Mas no dia anterior, na noite de sábado, outra vizinhança tocava o velho brega de Waldick e companhia, que tenta enganar a opinião pública do falso vanguardismo trazido pela intelectualidade "bacana" descrita no meu corajoso livro Esses Intelectuais Pertinentes... (Amazon e Clube de Autores).
Sim, porque a narrativa do "combate ao preconceito" gourmetiza os sucessos popularescos para que se sirva estrume como se fosse prato fino. Atribui-se ao brega mais contemporâneo uma suposta provocatividade identitária, enquanto o brega mais antigo (lembremos que até a axé-music e o "funk" não escapam desse contexto) é vendido como "vanguarda" apenas por um simples fato: é considerado "novidade" para as mentes solipsistas da intelectualidade burguesa.
Não há como definir como vanguarda, porque a música brega-popularesca, em geral, representa uma relação entre o atraso mental que o coronelismo impõe ao povo pobre, combinado com a colonização cultural das referências estrangeiras trazidas pela mídia hegemônica nacional (sobretudo redes de TV) e regional (sobretudo rádios popularescas). Ou seja, o resultado do provincianismo regional brasileiro com a referência americanizada de rádios e TVs coronelistas é a produção de bregalização cultural.
Ou seja, essa assimilação envolve modismos tardios, baixa escolaridade, e um sistema cultural vertical, em que as "heranças culturais" são ditadas de cima, geralmente pelos gerentes artísticos de rádios ou TVs, que atuam como "jagunços eletrônicos".
Portanto, trata-se de algo voltado ao atraso, à precarização musical, que subtrai, em vez de somar, quanto aos valores socioculturais. A bregalização cultural, dos primeiros ídolos cafonas aos funqueiros e piseiros (só para citar alguns dos mais atuais), é, por isso mesmo, conservadora, embora seja mascarada por uma suposta rebelião identitarista que, mesmo patrocinada pelo governo Lula, não é algo que não esteja de acordo com os interesses da Globo, do PSDB, da Faria Lima, da Folha e similares.
O papo de que a bregalização musical é vanguarda é, portanto, pura cascata. Conversa de burguês metido a moderninho e dado a fingir que gosta do povo pobre. A verdade, pensando com muita objetividade é que a bregalização, queiram ou não queiram, é um grande atraso cultural. Preconceituoso é que não admite essa contundente verdade.
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