PRESIDENTE LULA, DURANTE A PRIMEIRA REUNIÃO DO CONSELHÃO, EM BRASÍLIA.
Traumatizada com o lavajatismo, a classe média abastada não quer ler textos que critiquem o governo Lula. O presidente anda cometendo muitos erros e apenas eventuais acertos em seu governo, mas muito pouco para definir o atual mandato como o melhor de todos.
Querer priorizar a política externa antes de reconstruir o Brasil, nos primeiros meses do governo, deixando que o desemprego aumentasse, é um erro grotesco e vergonhoso do presidente Lula, que parece não saber se o Brasil já está reconstruído ou se ainda está para reconstruir.
O governo Lula tenta agora "começar para valer", embora o presidente não só desistiu de desistir de comparecer a coroação do Rei Charles III de Gales, na Grã-Bretanha, como é um dos convidados para um encontro privativo com o monarca britânico. Lula errou na precipitação de se exibir para o mundo com o Brasil em frangalhos, com a desnecessária intervenção no conflito entre Rússia e Ucrânia.
O presidente tem que mostrar serviço antes que ele colabore na reconstrução da Ucrânia antes da reconstrução do Brasil. Já tem o mandato marcado pelo improviso, pois Lula não teve programa de governo, que é um roteiro, uma bússola, uma obrigação que todo candidato à Presidência da República deve ter.
Lula foi se reunir com o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, o Conselhão, em sua atual composição, voltada aos interesses sociais. Nele, Lula critica, sem esboçar uma ação combativa, a atuação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que o próprio petista, durante a campanha presidencial, consentiu em manter no cargo, até se dar conta do problema dos juros altos, no valor de 13,75%. Disse Lula:
"É engraçado, é muito engraçado o que se pensa neste país. Todo mundo aqui pode falar de tudo, só não pode falar de juros. Todo mundo tem que ter cuidado. Ninguém fala de juros, como se um homem sozinho pudesse saber mais do que a cabeça de 215 milhões de pessoas".
A semana até que teve alguns fatos positivos para nossa economia. 30 milhões de segurados do INSS terão antecipação do 13º salário a serem pagos este mês e em junho. A Transpetro, empresa de transporte e logística de combustíveis subsidiária da Petrobras, anunciou que retomará a produção de navios próprios.
Outro fato positivo é que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), André Mendonça, contrariou sua própria decisão ao acatar decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que libera cobrança de impostos sobre incentivos fiscais dados pelos Estados às empresas. A medida pode permitir que o Governo Federal arrecade R$ 90 milhões por ano. Mais dinheiro nos cofres públicos.
O paliativo Bolsa Família, longe de ser aquele programa de "rentismo popular" que muitos acreditam que seja, permitiu, na concessão de R$ 672 para cada família pobre, a redução da inadimplência dos miseráveis, o que representa algum alívio.
Fora esses acertos, Lula ainda erra ao insistir na sua participação no acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. Este acordo deveria ser uma atribuição da ONU, e se esta atribuição tem defeitos, como privilegiar interesses dos EUA, cabe as discussões ocorrerem dentro da instituição, e não criar uma articulação paralela com o claro objetivo de dar cartaz a Lula.
Na reunião do Conselhão, Lula ainda errou ao falar dos preços dos automóveis, que até devem baixar, mas o presidente não teve o cuidado de fazer o mesmo com os alimentos. Eis o ue Lula havia falado sobre os preços dos automóveis, que promete baratear:
"Qual pobre que pode comprar carro popular por R$ 90 mil? Um carro de R$ 90 mil não é popular. É para classe média".
O problema, neste caso, como no caso da concessão de R$ 150 por cada filho de família pobre com até seis anos de idade, é que essas medidas, aparentemente bem intencionadas, podem gerar, no caso das famílias pobres, um baby boom nas classes populares, que no futuro complicará a situação do emprego, e, no caso dos automóveis, congestionamentos piores do que os que hoje ocorrem e já são preocupantes.
Lula deveria, antes, valorizar o transporte público, não jogando trem-bala num Brasil que ainda está para ser consertado, mas criando medidas para oferecer transporte coletivo de qualidade, diminuindo a presença de automóveis nas ruas.
Quanto aos preços, por que Lula não age para baratear os preços dos alimentos? Subtrair um real no preço da carne é nada. E o leite, quando voltará a custar R$ 3? E o azeite de oliva, o óleo de soja, as frutas, os legumes e as verduras? E o café, o arroz e o feijão? Cadê aquela ênfase no combate à fome, que fez Lula chorar feito uma criancinha em seus comícios?
O Brasil até que está começando a arrumar a casa. Mas eu prefiro ser realista e considerar que é um sonho impossível o nosso país entrar no Primeiro Mundo, pois não temos sequer um quadro sociocultural propício para isso e nosso sistema de valores, marcado pelo obscurantismo religioso e pela monocultura do lazer, como o fanatismo pelo futebol e sua emotividade tóxica, além de outros preconceitos como o racismo contra negros e índios e a solteirofobia, mostra o quanto o país em que vivemos está socialmente deteriorado.
Não podemos brincar com a realidade. Se as pessoas evitam ler textos com senso crítico mais afiado, preferindo viver no mundo da fantasia do Brasil-Instagram, oferecendo um "Primeiro Mundo de brinquedo" para a elite do atraso enrustida poder brincar, com centros turísticos arrumadinhos, mais consumo e mais tecnologia e diversão, então nosso país ainda está preso na sua infância problemática e se acha refém dela. Impossível, no entanto, um país como o nosso progredir dessa maneira. Nos contentemos apenas em ver o Brasil menos problemático do que nos tempos de Bolsonaro.
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